GranatumCast | Temporada 2

Código Granatum | Temporada 1

Código Granatum | Temporada 1

#22

Arrumando as gavetas

Arrumando as gavetas

Arrumando as gavetas
Arrumando as gavetas
Arrumando as gavetas

Temas Relacionados ao Episódio

Temas Relacionados ao Episódio

  • A “nuvem” do fim do ano

    Por que a pressão aparece mesmo quando ninguém está cobrando — e como ela vira cansaço coletivo.

  • Pausa consciente para revisar

    A diferença entre “parar porque travou” e “parar para escolher melhor” o que segue.

  • Resquícios que se acumulam

    Coisas pequenas e grandes que ficam abertas ao longo do ano — e o peso invisível disso.

  • Backlog infinito e ansiedade

    Como listas que só crescem viram ruído mental e roubam energia do que importa.

  • Repriorizar e “desencanar” com intenção

    Fechar loops, decidir o que não faz sentido agora e organizar o que realmente volta para a pauta.

  • Mente vazia, mente melhor

    Por que desacelerar melhora as decisões e aumenta a chance das boas ideias aparecerem.

  • Agenda como “lugar seguro”

    Tirar compromissos da cabeça, confiar no sistema e abrir espaço mental para o trabalho de verdade.

Transcrição do Episódio

Mariana Prado

Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente. Junto comigo estão Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum, e o Maurício Matsuda nosso CTO.

Sabe aquela sensação de não saber mais onde as coisas estão, mas você não tem tempo de parar e de procurar com calma? Às vezes, o que a gente precisa é de uma pausa pra abrir as gavetas, pode ser uma louça na pia, o armário de casa, o drive do time, um projeto que ficou esquecido no Basecamp. Seja no pessoal ou no trabalho, chega uma hora que arrumar as coisas vira uma necessidade.

Tem gente que faz isso aos pouquinhos no dia a dia e tem gente que precisa apertar o pause e se dedicar exclusivamente a isso. Eu não sei de qual time vocês são, mas a verdade é que todo mundo vai precisar arrumar as gavetas em algum momento. Aqui no Granatum a gente decidiu fazer isso agora. Um tempo consciente pra revisar os projetos, as tarefas, as ideias, as conversas.

Inspirados aqui pelo Shape Up, da 37 signals, mas do nosso jeitinho. Floz e Mau, o que que significa tirar esse tempo pra arrumar a casa? Quais são as expectativas de vocês sobre esse momento que a gente tá vivendo agora?

Flávio Logullo

Esse ano aqui, especificamente, ele começou a partir de um problema que eu tinha, vinha observando e compartilhando com Maurício, com Rommel, com o time de uma maneira geral, de que existia exatamente nessa época, foi mais ou menos outubro, uma pressão, o time tava se sentindo pressionado. Muito embora nossa cultura ela não exerça esse negócio de vamos bater meta, vamos ah, grita, bandeira de caveira, guerra, a gente veio na paz aqui, mas mesmo assim as pessoas estavam se sentindo muito pressionadas.

Então a gente tentou entender o que estava acontecendo e esse movimento, particularmente deste ano, de ser assíncrono e remoto, respeitando o tempo de cada indivíduo para execução, ele vem muito de encontro a isso. E ainda assim, partindo de um lugar, de um ambiente bem leve, onde os projetos estão acontecendo no seu tempo. A gente tá entregando e entregou muita coisa. E a gente já conseguiu construir o melhor ano da nossa história, agora antes do ano acabar.

Esse sentimento começou a pairar de novo, de um certo cansaço. E isso é baseado não só na observação individual do Floz, é baseado no coletivo, nas conversas que acontecem. Então existe uma certa nuvem, uma certa pressão que naturalmente acontece nessa época do ano, quando o ano começa a se aproximar do fim.

Eu acho que isso tem a ver com o arranjo social, tem a ver com como a gente se acostumou a viver, como a gente, o mercado de trabalho principalmente, funciona. No final do ano tem essa pressão, nossa falta nos dois últimos meses do último quarto do ano, a gente vai ter que fazer tudo que a gente não fez nos outros meses e tirar esse atraso e tudo mais. E isso é só uma carga a mais de pressão.

Ao longo do ano a gente vem acumulando resquícios. A gente trabalha num projeto, e aí a gente queria ter feito o projeto de um outro jeito ou queria ter feito algo a mais no projeto, ou ainda deixou algo pra não ser feito, não fez alguma coisa, deixou pra revisitar isso depois. E todas essas pequenas cargas somadas com a carga do final do ano, que já é natural, cria essa nuvem que, muito embora principalmente no nosso ambiente aqui, não exista, pelo menos de forma explícita ou narrada ou autoritária de essa, exercer essa pressão, ela ainda assim existe aqui também.

E eu entendo que seja muito porque socialmente, se você olhar ao seu redor, então você vai entender que existe uma correria, uma pressão de, tá até conversando aqui um pouquinho antes, a Mari colocou, nossa aqui o final do ano tá uma correria pra mim. Porque nós somos humanos, nós temos nossas coisas pessoais acontecendo aqui, e isso somado a esse lugar nos negócios, no trabalho, pode criar um ponto de tensão que é exatamente o que a gente não quer no Granatum.

As empresas da WebGoal, elas vieram justamente para contestar esse modo de vida muito louco, estressante, que não deixa o ser humano viver. A gente quer ao contrário. Então esse momento no final do ano agora, a gente decidiu parar. Não tem nenhum projeto rolando. E tudo o que a gente teve vontade ou veio acumulando ao longo do ano, a gente vai olhar com intenção e decidir o que fazer com eles.

Então a expectativa nesse momento aqui, é realmente de tirar essa pressão. Porque quando a gente trabalha mais leve e eu entendo que tirar essa pressão nesse momento é começar um ciclo mais leve, quando a gente tá mais leve, a gente só produz coisas boas.

Mauricio Matsuda

Também tem essa questão da mudança do ano, que a gente sempre tem, a gente cria novas metas, replaneja com base no que foi o ano atual e aí vai pensar como que vai ser o ano, próximo ano e tudo isso acho que tá tudo mais organizado, facilita a gente a ter uma mente mais limpa para realmente planejar e pensar no próximo ciclo, que seria o próximo ano, de uma forma mais tranquila, mais organizada.

E aí eu acho que isso ajuda a gente a ter uma visão melhor do cenário que a gente tá, porque se a gente leva até o fim do ano, até, sei lá dia 22, alguma coisa assim, num ritmo muito acelerado, a gente não não tem um tempo pra respirar, pra erguer a cabeça, olhar pra fora, olhar pra fora do seu operacional, da sua área e entender o que tá acontecendo pra realmente ter uma visão mais estratégica de tudo.

E eu acho que, independente de como você é no dia a dia, se você é a pessoa que tenta sempre manter tudo mais organizado ou você vai acumulando pendências pra uma hora resolver, acho que independente desses 2 perfis, sempre vão existir, vão sobrar coisas para serem vistas, revistas depois.

Então, eu por exemplo eu sou do time que gosta de manter tudo sempre organizado, não que isso aconteça sempre, não consigo manter cem por cento das coisas organizadas, mas durante o ano todo assim, me incomoda quando eu começo a deixar muita coisa pra trás sem realmente pensar o que fazer, e vai acumulando e tal. E aí então, durante o ano mesmo eu vou, de tempos em tempos, dando uma revisitada e repensando nas coisas que ficaram em aberto pra ver o que que eu faço e tento manter mais organizado.

E aí também acho que trabalhando já há bastante tempo nessa parte técnica, a gente sabe que a parte de desenvolvimento é um lugar sem fim. A gente não tem do tipo, ah vamos desenvolver essas x coisas ou resolver esses x problemas e tudo acabou, é um processo contínuo, cíclico, infinito.

Então a gente, durante todo esse tempo, a gente aprendeu muito a lidar com a questão de realmente tem coisas que a gente vai ter que abrir mão, tem coisas que a gente vai ter que deixar pra trás, esquecer por algum momento ou pra sempre mesmo. Se for importante aquilo vai voltar um dia pra gente.

E pra controlar até mesmo essa ansiedade, senão a gente começa a criar um repositório, um backlog ou qualquer outro nome que a gente queira dar, de coisas que precisam ser feitas, a fazer ou que a gente quer fazer algum dia. E aquilo começa a gerar ansiedade, porque é uma lista que é, sei lá, que nem eu tô aqui, em quinze anos aqui, que vai só aumentar e nunca a gente vai dar conta de fazer tudo. E nem seria saudável a gente sair fazendo tudo de uma vez, sem pensar muito bem o que que a gente tá fazendo.

Então, realmente controlar essa ansiedade e deixar as coisas passarem, que a gente entender, entende que não é importante deixar essas coisas passarem, e aí o que for realmente importante a gente prioriza, a gente tenta reorganizar pra realmente ver o que que faz sentido, o que que não faz sentido, e controlar essa ansiedade e deixa tudo mais tranquilo e mais organizado.

Então é um pouco assim que eu penso e que eu tento fazer no dia a dia para que chegue nesse fim de ciclo e a gente esteja tudo mais organizado e controlado.

Flávio Logullo

E você sabe que isso não vem do nada. A gente há um tempão atrás foi bastante impactado pelo Getting Things Done, o GTD do David Allen, é, David Allen, que é um livro que te ajuda a organizar as coisas, a fazer, executar as coisas e priorizar as coisas, que tem muito a ver com isso que o Maurício estava falando aqui.

Tem coisa que a gente vai simplesmente olhar e desencanar, vai fechar o loop na nossa cabeça pra não exercer essa pressão, que naturalmente já é exercida. A gente vai acumulando essas pequenas pressões, mas o que normalmente a gente faz é pegar, colocar na gaveta essas pressões e falar assim: uma hora eu vou olhar pra isso.

E tem coisa que é absolutamente pequeno, demora cinco minutos pra você resolver, então você vai lá e resolve. Tem coisa que é bastante grande, você não vai resolver sozinho ou precisa de um projeto. E aí você precisa olhar pra isso e entender que dentro desse contexto que a gente tá se a gente vai fazer, se a gente não vai fazer, a gaveta organizada ela traz essa essência.

A gaveta organizada é a metáfora, então igual a Mari falou, pode ser a louça, pode ser o seu guarda roupa, pode ser qualquer coisa, sua casa, nos negócios é muito sobre isso. A gente vem falando em vários encontros, em várias threads que a gente começa ali no Basecamp, sobre o que a gente quer fazer, o que a gente vai fazer, nossa, vamos lançar uma funcionalidade tal, olha feedback de novo sobre isso aqui, olha, essas coisas, elas vão sendo guardadas nas gavetas das pessoas.

Então o objetivo dessa pausa, além de respeitar esse ciclo porque, o meu perfil, é um perfil de eu não tenho muito ciclo, eu não trabalho de segunda a sexta, eu não trabalho das oito às seis. Eu, o meu ciclo ele é meio que infinito assim, então se for domingo à noite, não importa, se for sábado de manhã, não importa, eu vou simplesmente trabalhar, eu vou simplesmente fazer a coisa acontecer ali, então, eu não sinto essa pressão do final do ano, mas eu entendo que socialmente existe essa pressão, ela tá acontecendo.

E a ideia é que a gente deixe as energias equalizadas ali, que a gente deixe as coisas mais fluidas pra esse próximo ciclo. Então o que que eu tenho de expectativa? A minha expectativa basicamente é que as pessoas possam trabalhar com maior qualidade de vida, as pessoas possam pensar melhor nos próximos projetos, nos projetos do próximo ciclo, que elas possam trabalhar mais tranquilas e que a gente possa pensar melhor em soluções pra esses próximos ciclos, de verdade, e viver esse último período.

Eu também não sou uma pessoa muito dessa comemoração de fim de ano, mas você percebe, a cidade ela tá mais iluminada, as cidades elas estão mais iluminadas, as pessoas elas estão se comunicando, estão se movendo de um jeito diferente, e eu acho que vale a pena a gente obedecer e ter esse momento respeitado e o fim do ano ele é quase que uma pausa coletiva assim, as pessoas elas estão esperando por esse último período, essas últimas duas semanas do ano pra meio que refazer suas promessas, refazer seus planos. E eu acho que esse movimento ele exige uma cabeça mais limpa, um estado mais tranquilo da mente.

E várias coisas aconteceram na história, respeitando essa pausa, que é uma coisa que a gente tá vendo deixar de acontecer. Eu vi até, acho que foi ontem ou hoje, não sei, o Clóvis falando assim, socialmente, se você tá correndo atrás de alguma coisa, respeitando aquele jargão empresarial de saia da sua zona de conforto, isso é bom, você tá com essa inquietude, com essas coisas revirando dentro da sua cabeça. Agora se você tá de boa, se você tá tranquilo, se você tá feliz, aí isso parece que não é tão bom assim, especialmente no meio dos negócios, no mundo dos negócios, no mundo empresarial.

E pra mim isso é muito ruim, porque a gente, nós somos pessoas, a gente tá agindo coletivamente com pessoas, um rearranjo de humano ali. Então pra mim me parece muito bem, muito bom, faz muito bem pro coletivo a gente tá nesse lugar de mais tranquilidade, de cabeça mais leve.

A gente escreveu em 2009, acabei de me lembrar disso aqui, acho que foi o Matheus, Matheus Haddad escreveu um post sobre você precisa de férias. Lá em 2009, porque ah, já tá rindo né Maurício, isso não foi uma indiretinha, porque lá em 2009 a gente entendeu que esses ciclos de pausa, todo mundo que tirava férias na WebGoal, quando voltava, voltava com a energia diferente, renovada, trazendo todo mundo pra cima.

E nesse artigo o Matheus relembrou uma das maiores descobertas da humanidade foi a penicilina, aconteceu durante as férias de quem tava pesquisando. Então essas pausas são muito, muito, muito, muito relevantes. A gente quer respeitar isso. Porque, de fato, coisas muito importantes acontecem depois de um momento de tranquilidade, de mente vazia, desse movimento contracultural da aceleração e tudo mais.

Então a minha expectativa com esse movimento aqui é que além de todo mundo poder começar um ano muito melhor, é que a gente consiga resolver as coisas de uma maneira muito melhor.

Mauricio Matsuda

É, eu acho que, esse ponto da mente vazia, mente mais tranquila, a gente consegue pensar melhor, acho que todo mundo já passou por alguma coisa semelhante a se passar o dia todo pensando, tentando resolver algum caso, e aí chega de noite a hora que você tava no banho, descansando, relaxando, aí você tem aquela ideia, aquela luz que fala, já sei é isso que eu preciso fazer, ou é assim que eu vou conseguir resolver, e você tem aquela brilhante ideia pra resolver alguma coisa que você ficou o dia todo quebrando a cabeça e não conseguiu sair do lugar.

Então é realmente muito importante que a gente cuide da nossa mente, cuide da rotina do dia a dia, tanto no pessoal quanto no profissional, para que a nossa mente se mantenha tranquila e saudável o maior tempo possível.

Até também, eu por exemplo sei lá, ainda eu acho que eu tenho até uma certa memória boa, mas já fui bem melhor assim de memória, mas hoje em dia por exemplo, eu não consigo viver sem agenda. Então tudo que é importante eu fazer, em algum momento, daqui uma semana, daqui 2 semanas, os compromissos, médico, qualquer coisa do tipo, eu já vou tirando da cabeça. Ah preciso fazer consulta no oftalmo, e aí eu já tento resolver isso, agendo que seja daqui um mês ou qualquer coisa assim, e aqui eu já saio da minha cabeça porque eu sei que tá num lugar seguro, que eu confio, que é a minha agenda.

Então, se não tiver na agenda, provavelmente hoje em dia eu não vou lembrar, eu vou perder esse compromisso, porque ele não tá mais na agenda. E aí como eu confio hoje muito nessa agenda, então eu não preciso mais ficar me lembrando, me preocupando com coisas que eu já coloquei lá, sabe? E aí isso também alivia bastante a minha cabeça pra pensar e guardar outras coisas que sejam mais relevantes no dia a dia, do que agenda de vários compromissos ou coisas que eu preciso fazer.

No trabalho também a gente tem as agendas, tem sei lá, tem tarefas que a gente não não vai poder executar na hora, então a gente programa para execução daqui x tempos, e aí a gente vai executando. E aí isso são formas da gente aliviar um pouco a cabeça, parar de tentar reter tudo e facilitar assim com as coisas que a gente tem com a tecnologia.

É muito engraçado que, sei lá, se a gente pega umas gerações anteriores, por exemplo, a pessoa sabia ou ela tinha uma agenda de papel para anotar número de telefone, ou ela sabia de cabeça número de telefone das principais pessoas que ela costumava conversar. Hoje em dia quase ninguém sabe. Muitas vezes a pessoa nem lembra o próprio número, porque tá tudo no celular e você não precisa nem mais procurar o número, você procura o nome da pessoa, liga, você não sabe mais o número do telefone do pai, da mãe, do irmão, de ninguém.

Então são coisas que a gente realmente perde o costume porque a gente tá priorizando outras coisas. Então a gente deixa de guardar essas coisas que hoje podem ser facilmente gerenciadas por tecnologia e a gente se preocupa em usar nossa mente para outras coisas. Porque parece não ser limitado, mas nossa mente é limitada, se a gente tá ocupando ela com coisas que não deveriam, ela vai ter menos espaço pra pensar em outras coisas mais importantes.

Então acho que esse cuidado com a mente, de tentar organizar e manter tudo certinho, ajuda bastante. 

Mariana Prado

É muito legal esse negócio de ter a mente limitada. Eu sempre brinco aqui em casa que eu não vou consumir o meu HD interno com bobagens tipo, onde está tal coisa, onde coloquei tal coisa. eu falo cara vamo procurar e achar, porque não vou consumir meu HD pensando e memorizando onde tá cada coisinha aqui dentro de casa. Muita coisa pra gente gerenciar.

E não é sobre a ferramenta que a gente usa, nem sobre manter as tarefas da rotina em dia, e não é sobre a produtividade também, é principalmente esse tempo de qualidade para revisitar, pra refletir, pra planejar, pra desacelerar.

E aí a gente pergunta pras pessoas, como é que tão as gavetas de vocês por aí? Pode ser que você prefira arrumar tudo antes das férias, na véspera do aniversário ou na virada do ano, não importa quando você vai ter esse movimento, mas é muito importante que esse movimento ele exista, que a gente saiba separar esse momento, porque pode parecer algo pequeno mas que isso vai ter um impacto gigante no seu dia a dia, no seu retorno, na qualidade das coisas que você faz.

Então se você conhece alguém que está precisando de uma pausa, compartilhe esse episódio com essa pessoa. Esse foi mais um Código Granatum. Obrigada por ouvir e até a próxima semana.

Mariana Prado

Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente. Junto comigo estão Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum, e o Maurício Matsuda nosso CTO.

Sabe aquela sensação de não saber mais onde as coisas estão, mas você não tem tempo de parar e de procurar com calma? Às vezes, o que a gente precisa é de uma pausa pra abrir as gavetas, pode ser uma louça na pia, o armário de casa, o drive do time, um projeto que ficou esquecido no Basecamp. Seja no pessoal ou no trabalho, chega uma hora que arrumar as coisas vira uma necessidade.

Tem gente que faz isso aos pouquinhos no dia a dia e tem gente que precisa apertar o pause e se dedicar exclusivamente a isso. Eu não sei de qual time vocês são, mas a verdade é que todo mundo vai precisar arrumar as gavetas em algum momento. Aqui no Granatum a gente decidiu fazer isso agora. Um tempo consciente pra revisar os projetos, as tarefas, as ideias, as conversas.

Inspirados aqui pelo Shape Up, da 37 signals, mas do nosso jeitinho. Floz e Mau, o que que significa tirar esse tempo pra arrumar a casa? Quais são as expectativas de vocês sobre esse momento que a gente tá vivendo agora?

Flávio Logullo

Esse ano aqui, especificamente, ele começou a partir de um problema que eu tinha, vinha observando e compartilhando com Maurício, com Rommel, com o time de uma maneira geral, de que existia exatamente nessa época, foi mais ou menos outubro, uma pressão, o time tava se sentindo pressionado. Muito embora nossa cultura ela não exerça esse negócio de vamos bater meta, vamos ah, grita, bandeira de caveira, guerra, a gente veio na paz aqui, mas mesmo assim as pessoas estavam se sentindo muito pressionadas.

Então a gente tentou entender o que estava acontecendo e esse movimento, particularmente deste ano, de ser assíncrono e remoto, respeitando o tempo de cada indivíduo para execução, ele vem muito de encontro a isso. E ainda assim, partindo de um lugar, de um ambiente bem leve, onde os projetos estão acontecendo no seu tempo. A gente tá entregando e entregou muita coisa. E a gente já conseguiu construir o melhor ano da nossa história, agora antes do ano acabar.

Esse sentimento começou a pairar de novo, de um certo cansaço. E isso é baseado não só na observação individual do Floz, é baseado no coletivo, nas conversas que acontecem. Então existe uma certa nuvem, uma certa pressão que naturalmente acontece nessa época do ano, quando o ano começa a se aproximar do fim.

Eu acho que isso tem a ver com o arranjo social, tem a ver com como a gente se acostumou a viver, como a gente, o mercado de trabalho principalmente, funciona. No final do ano tem essa pressão, nossa falta nos dois últimos meses do último quarto do ano, a gente vai ter que fazer tudo que a gente não fez nos outros meses e tirar esse atraso e tudo mais. E isso é só uma carga a mais de pressão.

Ao longo do ano a gente vem acumulando resquícios. A gente trabalha num projeto, e aí a gente queria ter feito o projeto de um outro jeito ou queria ter feito algo a mais no projeto, ou ainda deixou algo pra não ser feito, não fez alguma coisa, deixou pra revisitar isso depois. E todas essas pequenas cargas somadas com a carga do final do ano, que já é natural, cria essa nuvem que, muito embora principalmente no nosso ambiente aqui, não exista, pelo menos de forma explícita ou narrada ou autoritária de essa, exercer essa pressão, ela ainda assim existe aqui também.

E eu entendo que seja muito porque socialmente, se você olhar ao seu redor, então você vai entender que existe uma correria, uma pressão de, tá até conversando aqui um pouquinho antes, a Mari colocou, nossa aqui o final do ano tá uma correria pra mim. Porque nós somos humanos, nós temos nossas coisas pessoais acontecendo aqui, e isso somado a esse lugar nos negócios, no trabalho, pode criar um ponto de tensão que é exatamente o que a gente não quer no Granatum.

As empresas da WebGoal, elas vieram justamente para contestar esse modo de vida muito louco, estressante, que não deixa o ser humano viver. A gente quer ao contrário. Então esse momento no final do ano agora, a gente decidiu parar. Não tem nenhum projeto rolando. E tudo o que a gente teve vontade ou veio acumulando ao longo do ano, a gente vai olhar com intenção e decidir o que fazer com eles.

Então a expectativa nesse momento aqui, é realmente de tirar essa pressão. Porque quando a gente trabalha mais leve e eu entendo que tirar essa pressão nesse momento é começar um ciclo mais leve, quando a gente tá mais leve, a gente só produz coisas boas.

Mauricio Matsuda

Também tem essa questão da mudança do ano, que a gente sempre tem, a gente cria novas metas, replaneja com base no que foi o ano atual e aí vai pensar como que vai ser o ano, próximo ano e tudo isso acho que tá tudo mais organizado, facilita a gente a ter uma mente mais limpa para realmente planejar e pensar no próximo ciclo, que seria o próximo ano, de uma forma mais tranquila, mais organizada.

E aí eu acho que isso ajuda a gente a ter uma visão melhor do cenário que a gente tá, porque se a gente leva até o fim do ano, até, sei lá dia 22, alguma coisa assim, num ritmo muito acelerado, a gente não não tem um tempo pra respirar, pra erguer a cabeça, olhar pra fora, olhar pra fora do seu operacional, da sua área e entender o que tá acontecendo pra realmente ter uma visão mais estratégica de tudo.

E eu acho que, independente de como você é no dia a dia, se você é a pessoa que tenta sempre manter tudo mais organizado ou você vai acumulando pendências pra uma hora resolver, acho que independente desses 2 perfis, sempre vão existir, vão sobrar coisas para serem vistas, revistas depois.

Então, eu por exemplo eu sou do time que gosta de manter tudo sempre organizado, não que isso aconteça sempre, não consigo manter cem por cento das coisas organizadas, mas durante o ano todo assim, me incomoda quando eu começo a deixar muita coisa pra trás sem realmente pensar o que fazer, e vai acumulando e tal. E aí então, durante o ano mesmo eu vou, de tempos em tempos, dando uma revisitada e repensando nas coisas que ficaram em aberto pra ver o que que eu faço e tento manter mais organizado.

E aí também acho que trabalhando já há bastante tempo nessa parte técnica, a gente sabe que a parte de desenvolvimento é um lugar sem fim. A gente não tem do tipo, ah vamos desenvolver essas x coisas ou resolver esses x problemas e tudo acabou, é um processo contínuo, cíclico, infinito.

Então a gente, durante todo esse tempo, a gente aprendeu muito a lidar com a questão de realmente tem coisas que a gente vai ter que abrir mão, tem coisas que a gente vai ter que deixar pra trás, esquecer por algum momento ou pra sempre mesmo. Se for importante aquilo vai voltar um dia pra gente.

E pra controlar até mesmo essa ansiedade, senão a gente começa a criar um repositório, um backlog ou qualquer outro nome que a gente queira dar, de coisas que precisam ser feitas, a fazer ou que a gente quer fazer algum dia. E aquilo começa a gerar ansiedade, porque é uma lista que é, sei lá, que nem eu tô aqui, em quinze anos aqui, que vai só aumentar e nunca a gente vai dar conta de fazer tudo. E nem seria saudável a gente sair fazendo tudo de uma vez, sem pensar muito bem o que que a gente tá fazendo.

Então, realmente controlar essa ansiedade e deixar as coisas passarem, que a gente entender, entende que não é importante deixar essas coisas passarem, e aí o que for realmente importante a gente prioriza, a gente tenta reorganizar pra realmente ver o que que faz sentido, o que que não faz sentido, e controlar essa ansiedade e deixa tudo mais tranquilo e mais organizado.

Então é um pouco assim que eu penso e que eu tento fazer no dia a dia para que chegue nesse fim de ciclo e a gente esteja tudo mais organizado e controlado.

Flávio Logullo

E você sabe que isso não vem do nada. A gente há um tempão atrás foi bastante impactado pelo Getting Things Done, o GTD do David Allen, é, David Allen, que é um livro que te ajuda a organizar as coisas, a fazer, executar as coisas e priorizar as coisas, que tem muito a ver com isso que o Maurício estava falando aqui.

Tem coisa que a gente vai simplesmente olhar e desencanar, vai fechar o loop na nossa cabeça pra não exercer essa pressão, que naturalmente já é exercida. A gente vai acumulando essas pequenas pressões, mas o que normalmente a gente faz é pegar, colocar na gaveta essas pressões e falar assim: uma hora eu vou olhar pra isso.

E tem coisa que é absolutamente pequeno, demora cinco minutos pra você resolver, então você vai lá e resolve. Tem coisa que é bastante grande, você não vai resolver sozinho ou precisa de um projeto. E aí você precisa olhar pra isso e entender que dentro desse contexto que a gente tá se a gente vai fazer, se a gente não vai fazer, a gaveta organizada ela traz essa essência.

A gaveta organizada é a metáfora, então igual a Mari falou, pode ser a louça, pode ser o seu guarda roupa, pode ser qualquer coisa, sua casa, nos negócios é muito sobre isso. A gente vem falando em vários encontros, em várias threads que a gente começa ali no Basecamp, sobre o que a gente quer fazer, o que a gente vai fazer, nossa, vamos lançar uma funcionalidade tal, olha feedback de novo sobre isso aqui, olha, essas coisas, elas vão sendo guardadas nas gavetas das pessoas.

Então o objetivo dessa pausa, além de respeitar esse ciclo porque, o meu perfil, é um perfil de eu não tenho muito ciclo, eu não trabalho de segunda a sexta, eu não trabalho das oito às seis. Eu, o meu ciclo ele é meio que infinito assim, então se for domingo à noite, não importa, se for sábado de manhã, não importa, eu vou simplesmente trabalhar, eu vou simplesmente fazer a coisa acontecer ali, então, eu não sinto essa pressão do final do ano, mas eu entendo que socialmente existe essa pressão, ela tá acontecendo.

E a ideia é que a gente deixe as energias equalizadas ali, que a gente deixe as coisas mais fluidas pra esse próximo ciclo. Então o que que eu tenho de expectativa? A minha expectativa basicamente é que as pessoas possam trabalhar com maior qualidade de vida, as pessoas possam pensar melhor nos próximos projetos, nos projetos do próximo ciclo, que elas possam trabalhar mais tranquilas e que a gente possa pensar melhor em soluções pra esses próximos ciclos, de verdade, e viver esse último período.

Eu também não sou uma pessoa muito dessa comemoração de fim de ano, mas você percebe, a cidade ela tá mais iluminada, as cidades elas estão mais iluminadas, as pessoas elas estão se comunicando, estão se movendo de um jeito diferente, e eu acho que vale a pena a gente obedecer e ter esse momento respeitado e o fim do ano ele é quase que uma pausa coletiva assim, as pessoas elas estão esperando por esse último período, essas últimas duas semanas do ano pra meio que refazer suas promessas, refazer seus planos. E eu acho que esse movimento ele exige uma cabeça mais limpa, um estado mais tranquilo da mente.

E várias coisas aconteceram na história, respeitando essa pausa, que é uma coisa que a gente tá vendo deixar de acontecer. Eu vi até, acho que foi ontem ou hoje, não sei, o Clóvis falando assim, socialmente, se você tá correndo atrás de alguma coisa, respeitando aquele jargão empresarial de saia da sua zona de conforto, isso é bom, você tá com essa inquietude, com essas coisas revirando dentro da sua cabeça. Agora se você tá de boa, se você tá tranquilo, se você tá feliz, aí isso parece que não é tão bom assim, especialmente no meio dos negócios, no mundo dos negócios, no mundo empresarial.

E pra mim isso é muito ruim, porque a gente, nós somos pessoas, a gente tá agindo coletivamente com pessoas, um rearranjo de humano ali. Então pra mim me parece muito bem, muito bom, faz muito bem pro coletivo a gente tá nesse lugar de mais tranquilidade, de cabeça mais leve.

A gente escreveu em 2009, acabei de me lembrar disso aqui, acho que foi o Matheus, Matheus Haddad escreveu um post sobre você precisa de férias. Lá em 2009, porque ah, já tá rindo né Maurício, isso não foi uma indiretinha, porque lá em 2009 a gente entendeu que esses ciclos de pausa, todo mundo que tirava férias na WebGoal, quando voltava, voltava com a energia diferente, renovada, trazendo todo mundo pra cima.

E nesse artigo o Matheus relembrou uma das maiores descobertas da humanidade foi a penicilina, aconteceu durante as férias de quem tava pesquisando. Então essas pausas são muito, muito, muito, muito relevantes. A gente quer respeitar isso. Porque, de fato, coisas muito importantes acontecem depois de um momento de tranquilidade, de mente vazia, desse movimento contracultural da aceleração e tudo mais.

Então a minha expectativa com esse movimento aqui é que além de todo mundo poder começar um ano muito melhor, é que a gente consiga resolver as coisas de uma maneira muito melhor.

Mauricio Matsuda

É, eu acho que, esse ponto da mente vazia, mente mais tranquila, a gente consegue pensar melhor, acho que todo mundo já passou por alguma coisa semelhante a se passar o dia todo pensando, tentando resolver algum caso, e aí chega de noite a hora que você tava no banho, descansando, relaxando, aí você tem aquela ideia, aquela luz que fala, já sei é isso que eu preciso fazer, ou é assim que eu vou conseguir resolver, e você tem aquela brilhante ideia pra resolver alguma coisa que você ficou o dia todo quebrando a cabeça e não conseguiu sair do lugar.

Então é realmente muito importante que a gente cuide da nossa mente, cuide da rotina do dia a dia, tanto no pessoal quanto no profissional, para que a nossa mente se mantenha tranquila e saudável o maior tempo possível.

Até também, eu por exemplo sei lá, ainda eu acho que eu tenho até uma certa memória boa, mas já fui bem melhor assim de memória, mas hoje em dia por exemplo, eu não consigo viver sem agenda. Então tudo que é importante eu fazer, em algum momento, daqui uma semana, daqui 2 semanas, os compromissos, médico, qualquer coisa do tipo, eu já vou tirando da cabeça. Ah preciso fazer consulta no oftalmo, e aí eu já tento resolver isso, agendo que seja daqui um mês ou qualquer coisa assim, e aqui eu já saio da minha cabeça porque eu sei que tá num lugar seguro, que eu confio, que é a minha agenda.

Então, se não tiver na agenda, provavelmente hoje em dia eu não vou lembrar, eu vou perder esse compromisso, porque ele não tá mais na agenda. E aí como eu confio hoje muito nessa agenda, então eu não preciso mais ficar me lembrando, me preocupando com coisas que eu já coloquei lá, sabe? E aí isso também alivia bastante a minha cabeça pra pensar e guardar outras coisas que sejam mais relevantes no dia a dia, do que agenda de vários compromissos ou coisas que eu preciso fazer.

No trabalho também a gente tem as agendas, tem sei lá, tem tarefas que a gente não não vai poder executar na hora, então a gente programa para execução daqui x tempos, e aí a gente vai executando. E aí isso são formas da gente aliviar um pouco a cabeça, parar de tentar reter tudo e facilitar assim com as coisas que a gente tem com a tecnologia.

É muito engraçado que, sei lá, se a gente pega umas gerações anteriores, por exemplo, a pessoa sabia ou ela tinha uma agenda de papel para anotar número de telefone, ou ela sabia de cabeça número de telefone das principais pessoas que ela costumava conversar. Hoje em dia quase ninguém sabe. Muitas vezes a pessoa nem lembra o próprio número, porque tá tudo no celular e você não precisa nem mais procurar o número, você procura o nome da pessoa, liga, você não sabe mais o número do telefone do pai, da mãe, do irmão, de ninguém.

Então são coisas que a gente realmente perde o costume porque a gente tá priorizando outras coisas. Então a gente deixa de guardar essas coisas que hoje podem ser facilmente gerenciadas por tecnologia e a gente se preocupa em usar nossa mente para outras coisas. Porque parece não ser limitado, mas nossa mente é limitada, se a gente tá ocupando ela com coisas que não deveriam, ela vai ter menos espaço pra pensar em outras coisas mais importantes.

Então acho que esse cuidado com a mente, de tentar organizar e manter tudo certinho, ajuda bastante. 

Mariana Prado

É muito legal esse negócio de ter a mente limitada. Eu sempre brinco aqui em casa que eu não vou consumir o meu HD interno com bobagens tipo, onde está tal coisa, onde coloquei tal coisa. eu falo cara vamo procurar e achar, porque não vou consumir meu HD pensando e memorizando onde tá cada coisinha aqui dentro de casa. Muita coisa pra gente gerenciar.

E não é sobre a ferramenta que a gente usa, nem sobre manter as tarefas da rotina em dia, e não é sobre a produtividade também, é principalmente esse tempo de qualidade para revisitar, pra refletir, pra planejar, pra desacelerar.

E aí a gente pergunta pras pessoas, como é que tão as gavetas de vocês por aí? Pode ser que você prefira arrumar tudo antes das férias, na véspera do aniversário ou na virada do ano, não importa quando você vai ter esse movimento, mas é muito importante que esse movimento ele exista, que a gente saiba separar esse momento, porque pode parecer algo pequeno mas que isso vai ter um impacto gigante no seu dia a dia, no seu retorno, na qualidade das coisas que você faz.

Então se você conhece alguém que está precisando de uma pausa, compartilhe esse episódio com essa pessoa. Esse foi mais um Código Granatum. Obrigada por ouvir e até a próxima semana.

Mariana Prado

Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente. Junto comigo estão Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum, e o Maurício Matsuda nosso CTO.

Sabe aquela sensação de não saber mais onde as coisas estão, mas você não tem tempo de parar e de procurar com calma? Às vezes, o que a gente precisa é de uma pausa pra abrir as gavetas, pode ser uma louça na pia, o armário de casa, o drive do time, um projeto que ficou esquecido no Basecamp. Seja no pessoal ou no trabalho, chega uma hora que arrumar as coisas vira uma necessidade.

Tem gente que faz isso aos pouquinhos no dia a dia e tem gente que precisa apertar o pause e se dedicar exclusivamente a isso. Eu não sei de qual time vocês são, mas a verdade é que todo mundo vai precisar arrumar as gavetas em algum momento. Aqui no Granatum a gente decidiu fazer isso agora. Um tempo consciente pra revisar os projetos, as tarefas, as ideias, as conversas.

Inspirados aqui pelo Shape Up, da 37 signals, mas do nosso jeitinho. Floz e Mau, o que que significa tirar esse tempo pra arrumar a casa? Quais são as expectativas de vocês sobre esse momento que a gente tá vivendo agora?

Flávio Logullo

Esse ano aqui, especificamente, ele começou a partir de um problema que eu tinha, vinha observando e compartilhando com Maurício, com Rommel, com o time de uma maneira geral, de que existia exatamente nessa época, foi mais ou menos outubro, uma pressão, o time tava se sentindo pressionado. Muito embora nossa cultura ela não exerça esse negócio de vamos bater meta, vamos ah, grita, bandeira de caveira, guerra, a gente veio na paz aqui, mas mesmo assim as pessoas estavam se sentindo muito pressionadas.

Então a gente tentou entender o que estava acontecendo e esse movimento, particularmente deste ano, de ser assíncrono e remoto, respeitando o tempo de cada indivíduo para execução, ele vem muito de encontro a isso. E ainda assim, partindo de um lugar, de um ambiente bem leve, onde os projetos estão acontecendo no seu tempo. A gente tá entregando e entregou muita coisa. E a gente já conseguiu construir o melhor ano da nossa história, agora antes do ano acabar.

Esse sentimento começou a pairar de novo, de um certo cansaço. E isso é baseado não só na observação individual do Floz, é baseado no coletivo, nas conversas que acontecem. Então existe uma certa nuvem, uma certa pressão que naturalmente acontece nessa época do ano, quando o ano começa a se aproximar do fim.

Eu acho que isso tem a ver com o arranjo social, tem a ver com como a gente se acostumou a viver, como a gente, o mercado de trabalho principalmente, funciona. No final do ano tem essa pressão, nossa falta nos dois últimos meses do último quarto do ano, a gente vai ter que fazer tudo que a gente não fez nos outros meses e tirar esse atraso e tudo mais. E isso é só uma carga a mais de pressão.

Ao longo do ano a gente vem acumulando resquícios. A gente trabalha num projeto, e aí a gente queria ter feito o projeto de um outro jeito ou queria ter feito algo a mais no projeto, ou ainda deixou algo pra não ser feito, não fez alguma coisa, deixou pra revisitar isso depois. E todas essas pequenas cargas somadas com a carga do final do ano, que já é natural, cria essa nuvem que, muito embora principalmente no nosso ambiente aqui, não exista, pelo menos de forma explícita ou narrada ou autoritária de essa, exercer essa pressão, ela ainda assim existe aqui também.

E eu entendo que seja muito porque socialmente, se você olhar ao seu redor, então você vai entender que existe uma correria, uma pressão de, tá até conversando aqui um pouquinho antes, a Mari colocou, nossa aqui o final do ano tá uma correria pra mim. Porque nós somos humanos, nós temos nossas coisas pessoais acontecendo aqui, e isso somado a esse lugar nos negócios, no trabalho, pode criar um ponto de tensão que é exatamente o que a gente não quer no Granatum.

As empresas da WebGoal, elas vieram justamente para contestar esse modo de vida muito louco, estressante, que não deixa o ser humano viver. A gente quer ao contrário. Então esse momento no final do ano agora, a gente decidiu parar. Não tem nenhum projeto rolando. E tudo o que a gente teve vontade ou veio acumulando ao longo do ano, a gente vai olhar com intenção e decidir o que fazer com eles.

Então a expectativa nesse momento aqui, é realmente de tirar essa pressão. Porque quando a gente trabalha mais leve e eu entendo que tirar essa pressão nesse momento é começar um ciclo mais leve, quando a gente tá mais leve, a gente só produz coisas boas.

Mauricio Matsuda

Também tem essa questão da mudança do ano, que a gente sempre tem, a gente cria novas metas, replaneja com base no que foi o ano atual e aí vai pensar como que vai ser o ano, próximo ano e tudo isso acho que tá tudo mais organizado, facilita a gente a ter uma mente mais limpa para realmente planejar e pensar no próximo ciclo, que seria o próximo ano, de uma forma mais tranquila, mais organizada.

E aí eu acho que isso ajuda a gente a ter uma visão melhor do cenário que a gente tá, porque se a gente leva até o fim do ano, até, sei lá dia 22, alguma coisa assim, num ritmo muito acelerado, a gente não não tem um tempo pra respirar, pra erguer a cabeça, olhar pra fora, olhar pra fora do seu operacional, da sua área e entender o que tá acontecendo pra realmente ter uma visão mais estratégica de tudo.

E eu acho que, independente de como você é no dia a dia, se você é a pessoa que tenta sempre manter tudo mais organizado ou você vai acumulando pendências pra uma hora resolver, acho que independente desses 2 perfis, sempre vão existir, vão sobrar coisas para serem vistas, revistas depois.

Então, eu por exemplo eu sou do time que gosta de manter tudo sempre organizado, não que isso aconteça sempre, não consigo manter cem por cento das coisas organizadas, mas durante o ano todo assim, me incomoda quando eu começo a deixar muita coisa pra trás sem realmente pensar o que fazer, e vai acumulando e tal. E aí então, durante o ano mesmo eu vou, de tempos em tempos, dando uma revisitada e repensando nas coisas que ficaram em aberto pra ver o que que eu faço e tento manter mais organizado.

E aí também acho que trabalhando já há bastante tempo nessa parte técnica, a gente sabe que a parte de desenvolvimento é um lugar sem fim. A gente não tem do tipo, ah vamos desenvolver essas x coisas ou resolver esses x problemas e tudo acabou, é um processo contínuo, cíclico, infinito.

Então a gente, durante todo esse tempo, a gente aprendeu muito a lidar com a questão de realmente tem coisas que a gente vai ter que abrir mão, tem coisas que a gente vai ter que deixar pra trás, esquecer por algum momento ou pra sempre mesmo. Se for importante aquilo vai voltar um dia pra gente.

E pra controlar até mesmo essa ansiedade, senão a gente começa a criar um repositório, um backlog ou qualquer outro nome que a gente queira dar, de coisas que precisam ser feitas, a fazer ou que a gente quer fazer algum dia. E aquilo começa a gerar ansiedade, porque é uma lista que é, sei lá, que nem eu tô aqui, em quinze anos aqui, que vai só aumentar e nunca a gente vai dar conta de fazer tudo. E nem seria saudável a gente sair fazendo tudo de uma vez, sem pensar muito bem o que que a gente tá fazendo.

Então, realmente controlar essa ansiedade e deixar as coisas passarem, que a gente entender, entende que não é importante deixar essas coisas passarem, e aí o que for realmente importante a gente prioriza, a gente tenta reorganizar pra realmente ver o que que faz sentido, o que que não faz sentido, e controlar essa ansiedade e deixa tudo mais tranquilo e mais organizado.

Então é um pouco assim que eu penso e que eu tento fazer no dia a dia para que chegue nesse fim de ciclo e a gente esteja tudo mais organizado e controlado.

Flávio Logullo

E você sabe que isso não vem do nada. A gente há um tempão atrás foi bastante impactado pelo Getting Things Done, o GTD do David Allen, é, David Allen, que é um livro que te ajuda a organizar as coisas, a fazer, executar as coisas e priorizar as coisas, que tem muito a ver com isso que o Maurício estava falando aqui.

Tem coisa que a gente vai simplesmente olhar e desencanar, vai fechar o loop na nossa cabeça pra não exercer essa pressão, que naturalmente já é exercida. A gente vai acumulando essas pequenas pressões, mas o que normalmente a gente faz é pegar, colocar na gaveta essas pressões e falar assim: uma hora eu vou olhar pra isso.

E tem coisa que é absolutamente pequeno, demora cinco minutos pra você resolver, então você vai lá e resolve. Tem coisa que é bastante grande, você não vai resolver sozinho ou precisa de um projeto. E aí você precisa olhar pra isso e entender que dentro desse contexto que a gente tá se a gente vai fazer, se a gente não vai fazer, a gaveta organizada ela traz essa essência.

A gaveta organizada é a metáfora, então igual a Mari falou, pode ser a louça, pode ser o seu guarda roupa, pode ser qualquer coisa, sua casa, nos negócios é muito sobre isso. A gente vem falando em vários encontros, em várias threads que a gente começa ali no Basecamp, sobre o que a gente quer fazer, o que a gente vai fazer, nossa, vamos lançar uma funcionalidade tal, olha feedback de novo sobre isso aqui, olha, essas coisas, elas vão sendo guardadas nas gavetas das pessoas.

Então o objetivo dessa pausa, além de respeitar esse ciclo porque, o meu perfil, é um perfil de eu não tenho muito ciclo, eu não trabalho de segunda a sexta, eu não trabalho das oito às seis. Eu, o meu ciclo ele é meio que infinito assim, então se for domingo à noite, não importa, se for sábado de manhã, não importa, eu vou simplesmente trabalhar, eu vou simplesmente fazer a coisa acontecer ali, então, eu não sinto essa pressão do final do ano, mas eu entendo que socialmente existe essa pressão, ela tá acontecendo.

E a ideia é que a gente deixe as energias equalizadas ali, que a gente deixe as coisas mais fluidas pra esse próximo ciclo. Então o que que eu tenho de expectativa? A minha expectativa basicamente é que as pessoas possam trabalhar com maior qualidade de vida, as pessoas possam pensar melhor nos próximos projetos, nos projetos do próximo ciclo, que elas possam trabalhar mais tranquilas e que a gente possa pensar melhor em soluções pra esses próximos ciclos, de verdade, e viver esse último período.

Eu também não sou uma pessoa muito dessa comemoração de fim de ano, mas você percebe, a cidade ela tá mais iluminada, as cidades elas estão mais iluminadas, as pessoas elas estão se comunicando, estão se movendo de um jeito diferente, e eu acho que vale a pena a gente obedecer e ter esse momento respeitado e o fim do ano ele é quase que uma pausa coletiva assim, as pessoas elas estão esperando por esse último período, essas últimas duas semanas do ano pra meio que refazer suas promessas, refazer seus planos. E eu acho que esse movimento ele exige uma cabeça mais limpa, um estado mais tranquilo da mente.

E várias coisas aconteceram na história, respeitando essa pausa, que é uma coisa que a gente tá vendo deixar de acontecer. Eu vi até, acho que foi ontem ou hoje, não sei, o Clóvis falando assim, socialmente, se você tá correndo atrás de alguma coisa, respeitando aquele jargão empresarial de saia da sua zona de conforto, isso é bom, você tá com essa inquietude, com essas coisas revirando dentro da sua cabeça. Agora se você tá de boa, se você tá tranquilo, se você tá feliz, aí isso parece que não é tão bom assim, especialmente no meio dos negócios, no mundo dos negócios, no mundo empresarial.

E pra mim isso é muito ruim, porque a gente, nós somos pessoas, a gente tá agindo coletivamente com pessoas, um rearranjo de humano ali. Então pra mim me parece muito bem, muito bom, faz muito bem pro coletivo a gente tá nesse lugar de mais tranquilidade, de cabeça mais leve.

A gente escreveu em 2009, acabei de me lembrar disso aqui, acho que foi o Matheus, Matheus Haddad escreveu um post sobre você precisa de férias. Lá em 2009, porque ah, já tá rindo né Maurício, isso não foi uma indiretinha, porque lá em 2009 a gente entendeu que esses ciclos de pausa, todo mundo que tirava férias na WebGoal, quando voltava, voltava com a energia diferente, renovada, trazendo todo mundo pra cima.

E nesse artigo o Matheus relembrou uma das maiores descobertas da humanidade foi a penicilina, aconteceu durante as férias de quem tava pesquisando. Então essas pausas são muito, muito, muito, muito relevantes. A gente quer respeitar isso. Porque, de fato, coisas muito importantes acontecem depois de um momento de tranquilidade, de mente vazia, desse movimento contracultural da aceleração e tudo mais.

Então a minha expectativa com esse movimento aqui é que além de todo mundo poder começar um ano muito melhor, é que a gente consiga resolver as coisas de uma maneira muito melhor.

Mauricio Matsuda

É, eu acho que, esse ponto da mente vazia, mente mais tranquila, a gente consegue pensar melhor, acho que todo mundo já passou por alguma coisa semelhante a se passar o dia todo pensando, tentando resolver algum caso, e aí chega de noite a hora que você tava no banho, descansando, relaxando, aí você tem aquela ideia, aquela luz que fala, já sei é isso que eu preciso fazer, ou é assim que eu vou conseguir resolver, e você tem aquela brilhante ideia pra resolver alguma coisa que você ficou o dia todo quebrando a cabeça e não conseguiu sair do lugar.

Então é realmente muito importante que a gente cuide da nossa mente, cuide da rotina do dia a dia, tanto no pessoal quanto no profissional, para que a nossa mente se mantenha tranquila e saudável o maior tempo possível.

Até também, eu por exemplo sei lá, ainda eu acho que eu tenho até uma certa memória boa, mas já fui bem melhor assim de memória, mas hoje em dia por exemplo, eu não consigo viver sem agenda. Então tudo que é importante eu fazer, em algum momento, daqui uma semana, daqui 2 semanas, os compromissos, médico, qualquer coisa do tipo, eu já vou tirando da cabeça. Ah preciso fazer consulta no oftalmo, e aí eu já tento resolver isso, agendo que seja daqui um mês ou qualquer coisa assim, e aqui eu já saio da minha cabeça porque eu sei que tá num lugar seguro, que eu confio, que é a minha agenda.

Então, se não tiver na agenda, provavelmente hoje em dia eu não vou lembrar, eu vou perder esse compromisso, porque ele não tá mais na agenda. E aí como eu confio hoje muito nessa agenda, então eu não preciso mais ficar me lembrando, me preocupando com coisas que eu já coloquei lá, sabe? E aí isso também alivia bastante a minha cabeça pra pensar e guardar outras coisas que sejam mais relevantes no dia a dia, do que agenda de vários compromissos ou coisas que eu preciso fazer.

No trabalho também a gente tem as agendas, tem sei lá, tem tarefas que a gente não não vai poder executar na hora, então a gente programa para execução daqui x tempos, e aí a gente vai executando. E aí isso são formas da gente aliviar um pouco a cabeça, parar de tentar reter tudo e facilitar assim com as coisas que a gente tem com a tecnologia.

É muito engraçado que, sei lá, se a gente pega umas gerações anteriores, por exemplo, a pessoa sabia ou ela tinha uma agenda de papel para anotar número de telefone, ou ela sabia de cabeça número de telefone das principais pessoas que ela costumava conversar. Hoje em dia quase ninguém sabe. Muitas vezes a pessoa nem lembra o próprio número, porque tá tudo no celular e você não precisa nem mais procurar o número, você procura o nome da pessoa, liga, você não sabe mais o número do telefone do pai, da mãe, do irmão, de ninguém.

Então são coisas que a gente realmente perde o costume porque a gente tá priorizando outras coisas. Então a gente deixa de guardar essas coisas que hoje podem ser facilmente gerenciadas por tecnologia e a gente se preocupa em usar nossa mente para outras coisas. Porque parece não ser limitado, mas nossa mente é limitada, se a gente tá ocupando ela com coisas que não deveriam, ela vai ter menos espaço pra pensar em outras coisas mais importantes.

Então acho que esse cuidado com a mente, de tentar organizar e manter tudo certinho, ajuda bastante. 

Mariana Prado

É muito legal esse negócio de ter a mente limitada. Eu sempre brinco aqui em casa que eu não vou consumir o meu HD interno com bobagens tipo, onde está tal coisa, onde coloquei tal coisa. eu falo cara vamo procurar e achar, porque não vou consumir meu HD pensando e memorizando onde tá cada coisinha aqui dentro de casa. Muita coisa pra gente gerenciar.

E não é sobre a ferramenta que a gente usa, nem sobre manter as tarefas da rotina em dia, e não é sobre a produtividade também, é principalmente esse tempo de qualidade para revisitar, pra refletir, pra planejar, pra desacelerar.

E aí a gente pergunta pras pessoas, como é que tão as gavetas de vocês por aí? Pode ser que você prefira arrumar tudo antes das férias, na véspera do aniversário ou na virada do ano, não importa quando você vai ter esse movimento, mas é muito importante que esse movimento ele exista, que a gente saiba separar esse momento, porque pode parecer algo pequeno mas que isso vai ter um impacto gigante no seu dia a dia, no seu retorno, na qualidade das coisas que você faz.

Então se você conhece alguém que está precisando de uma pausa, compartilhe esse episódio com essa pessoa. Esse foi mais um Código Granatum. Obrigada por ouvir e até a próxima semana.