GranatumCast | Temporada 2

Código Granatum | Temporada 1

Código Granatum | Temporada 1

#19

Foco nas entregas, não nas horas

Foco nas entregas, não nas horas

Foco nas entregas, não nas horas
Foco nas entregas, não nas horas
Foco nas entregas, não nas horas

Temas Relacionados ao Episódio

Temas Relacionados ao Episódio

  • Por que “oito horas” não é a régua

    A origem do pensamento: a entrega de valor não cabe em um cronômetro, principalmente quando o trabalho envolve pesquisa, decisões e criação de soluções.

  • Trabalho de conhecimento e produtividade não linear

    Por que trabalhar (e resolver problemas) é muito mais do que ficar horas na frente do computador — e como pensar bem evita retrabalho e aumenta o valor entregue.

  • Combinados acima de presença

    Como o foco em entregas e compromissos (e não em horas registradas) guia a rotina e a responsabilidade do time.

  • Liberdade que exige maturidade

    Os cuidados que vêm junto com autonomia: autoconsciência, termômetro pessoal, feedback dos pares e o momento de pedir socorro quando a sensação de improdutividade aparece.

  • Remoto e assíncrono: alinhamento sem controle

    Como check-ins e pontos de contato sustentam organização e contexto.

  • Vida pessoal e trabalho no mesmo mundo

    Como a rotina real (filhos, casa, saúde, pausas) influencia o trabalho — e por que respeitar isso ajuda a manter constância e qualidade.

Transcrição do Episódio

Mariana Prado

Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável.

Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente e aqui comigo, Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum e o Maurício Matsuda, nosso CTO.

Se você é nosso ouvinte já sabe que a gente tá sempre falando sobre a nossa cultura ser baseada em autonomia, confiança e responsabilidade.

Isso aparece na prática de várias formas e uma delas é o fato de que ninguém aqui é cobrado por cumprir oito horas exatas de trabalho.

A régua que a gente usa é outra. Cumprir os combinados, entregar com qualidade e manter um ritmo saudável e sustentável de trabalho.

Floz e Mau, o que que possibilita que isso funcione aqui no Granatum e quais são os cuidados que vem junto com essa liberdade?

Flávio Logullo

Bom, vamos voltar lá do começo onde tudo nasce, onde a gente começa a idealizar essa empresa que a gente tem hoje. E onde era muito claro pra nós que o que importava, no final das contas, era a entrega de trabalho que a gente fazia no final do dia.

E é interessante até essa frase a gente ouve muitas pessoas falarem, no final do dia é o que importa, no final do dia é o que importa, como se a gente tivesse que arrastar o dia inteiro mesmo, mas o que é que de fato a gente precisa fazer no dia, o que que é a entrega do dia, o que que importa no final do dia?

E, culturalmente, na WebGoal, quando a gente começou a desenvolver software, a gente começou a desenvolver software, a gente idealizou a empresa para entregar valor de fato pros clientes. E entregar valor não prescreve um tempo pra esse valor ser entregue, muito pelo contrário.

A gente sempre demandou de muita pesquisa, sempre se empenhou muito em pensar no que que é que a gente de fato queria entregar como valor.

E a gente causou uma certa estranheza, há dezoito anos atrás, quando a gente começou a desenvolver software, quando a gente questionava os clientes sobre o que de fato eles queriam.

E antes do Granatum, tudo era software, a gente desenvolvia software para os clientes. E isso puxa um comportamento que é aqui interno, porque quando a gente vem dessa cultura, que o desenvolvimento, a produtividade, ela meio que implicitamente entende que você precisa despender um determinado número de horas para ser produtivo ou para fazer as entregas, a gente não coloca a entrega na ponta da conversa, a gente coloca o tempo, a troca de tempo.

Então eu tô comprando o seu tempo de vida em troca de um salário ou em troca de um valor entregue. E quando a gente começa a questionar sobre o que que é valor, que que você precisa que eu entregue pra você, a gente coloca o valor na ponta.

E muitas vezes o valor ele é entregue num tempo muito menor, ou às vezes num tempo maior do que o que a gente planeja porque, principalmente quando a gente tá falando de de entregas de valor, de software, a gente tá falando muito, tem muito a ver com artesanato, com uma entrega, agora menos, mas com essa entrega de que a gente vai criar alguma coisa para resolver um problema que você está explicando que está dentro do seu contexto, que você tem um jeito determinado, uma expectativa de resolver.

E essa entrega de valor e esse artesanato ele não tem exatamente oito horas. Vou te entregar em oito horas, vou te entregar em cinco horas.

Quando a gente pensa na proposição de solução de valor, e isso vale pra qualquer coisa hoje, já que não somos máquinas, a gente não tem mais esse processo fabril, a maioria das coisas são entregues como resultado e o fruto de um pensamento da criação de uma solução.

Então essa medida de tempo ela nunca fez muito sentido.

E nós, a natureza dos nossos negócios aqui é de produzir, traduzir o conhecimento que a gente tem sobre um contexto, sobre uma dor específica que a gente quer resolver dos nossos clientes, em uma solução.

Então é muito difícil de metrificar quando a gente começa a pensar e quando a gente termina de pensar nessa solução.

Então, a gente no começo da empresa, a gente gostava muito dessa analogia.

Então quando às oito horas do dia chegou ao fim o seu cérebro trava? Você não pensa mais no problema que você pensou o dia inteiro em como resolver? Não, né?

Nós somos trabalhadores do conhecimento, nosso cérebro não para.

Então eu vou embora pra casa e aí eu não penso mais naquilo. Eu sei que é errado e que não, você não deveria pensar, mas você não controla o seu cérebro, então porque é que na mesma medida, já que a gente passa mais de oito horas em alguns momentos trabalhando, porque não passar menos horas?

E porque controlar essas horas, já que você não consegue controlar? É impossível você colocar um cartão de ponto no seu cérebro.

Então, só pra dar um pouco de contexto de onde vem esse pensamento e porque que pra gente, de fato, às oito horas elas não são tão relevantes assim como a gente costuma enxergar aí no mercado.

Maurício Matsuda

Legal.

Eu acho que tem muita relação mesmo com o que o Floz falou que a gente não consegue controlar o tempo que a gente tá pensando nas coisas do trabalho, nessas oito horas e depois das oito horas a gente deixa de pensar, esquece de tudo. É bem difícil.

Até mesmo uma coisa que eu comentei num dos episódios anteriores que, principalmente na nossa área de programação e na WebGoal e agora no Granatum, eu vejo que a pessoa que programa é muito mais assim, muito mais do que sentar e trabalhar oito horas programando qualquer coisa, escrevendo código.

A gente passa muito mais tempo hoje em dia pensando, idealizando a solução, pra daí sim a gente colocar a mão na massa e escrever algum código.

E pensar muito bem que código que a gente vai escrever pra ter menos retrabalho e tudo mais e otimizar a nossa entrega.

E também ter uma entrega de valor muito maior do que a gente sair fazendo o que vier na cabeça e o que a gente acha que que tem que ser desenvolvido.

Então, como a gente para muito mais pra pensar, pra analisar, para projetar e idealizar esse pensamento não é contínuo e não é controlado, do tipo, ah vou sentar aqui, vou ficar oito horas pensando e projetando alguma solução, e aí para, interrompe esse pensamento, volta no dia seguinte, continua e por aí vai.

Então, com certeza tem dias que a gente vai trabalhar quatro horas, mas a gente vai ser muito produtivo. Outros dias a gente vai trabalhar oito horas e vai ser pouco produtivo.

Porque a gente não consegue controlar a medida de como a gente vai ser realmente produtivo.

E aí como o Floz comentou, a gente entendeu que pouco importava a quantidade de horas que a gente tinha focado no trabalho, mas sim a entrega, o compromisso que a gente teve com essa entrega ao fim de um combinado que a gente teve.

Então, quando a WebGoal surgiu, a gente era muito focado com os métodos ágeis, então a gente tinha os sprints que o scrum prega e tudo mais.

Então a gente conseguia definir que em duas semanas, por exemplo, a gente ia entregar x itens.

Então aquele era o compromisso que o time tinha com o cliente, que em duas semanas aquela quantidade de itens seriam feitas e entregues para o cliente.

Então independente se o time ia conseguir fazer em uma semana, em meia semana, ou se ele ia precisar de mais de duas semanas porque teve uma estimativa errada, alguma coisa assim, a gente se baseava no foco da entrega não se o time realmente estava lá trabalhando às oito horas por dia.

Porque não adianta nada a gente forçar um ambiente que a pessoa fique trabalhando às oito horas por dia, mas ela não esteja lá produzindo de verdade porque aconteceu alguma coisa, porque ela tem, tá com algum problema pessoal, alguma outra coisa que ela precisa resolver e ela tá lá por tá, porque ela tem que cumprir as oito horas mas ela não tá bem naquele dia e não vai render como a gente gostaria então, a gente sempre teve essa liberdade de poder escolher e pensar como que é a melhor forma de trabalho para realmente tentar cumprir o combinado de entregar o que a gente se comprometeu. 

Flávio Logullo

E essa é uma questão que não é mil maravilhas. É muito, muito interessante.

Esse ano a gente passou a ser 100% remoto e 100% assíncrono, então momentos como esse aqui que a gente tá se encontrando sincronamente, nós três, pra gravar o podcast, eles são raríssimos dentro do Granatum, desde janeiro.

E todo trabalho assíncrono é feito de forma remota.

E essa semana, especificamente, a Camila que é do time de Dev, trouxe uma reflexão muito interessante num dos checkins, porque não é uma bagunça, embora para as pessoas possa parecer que as coisas elas não são muito bem organizadas, aqui a gente tem um alinhamento, a gente tenta manter o alinhamento bastante grande entre as pessoas, e um desses alinhamentos, um desses pontos de contato são os checkins, e a Camila a gente tem um checkin sobre o podcast pra que todo mundo compartilhe o que achou do episódio aqui, e a Camila ela trouxe essa reflexão que eu acho que é onde existe uma complexidade bastante grande.

E eu entendo porque a cultura empreendedora, cultura de negócio, ela não prescreve esse jeito que a gente trabalha com essa tal liberdade que a gente fala, o que fazer com essa tal liberdade?

E a Camila ela trouxe essa reflexão.

Então se ninguém controla as horas, se a gente, quem é que cuida desse desse meu comprometimento? Onde é que eu peço socorro? O que é que eu tenho que fazer se eu não estiver me sentindo produtivo?

É uma das reflexões que a gente vem construindo ao longo dos anos, e isso muda o tempo inteiro porque todo ambiente muda.

As IAs, elas vieram revolucionar o nosso mercado de trabalho, todo o mercado de trabalho, mas o nosso especificamente.

E essa solitude ou essa solidão que a gente vive, parece que vive, ela tem que de fato ser entendida por nós e ser administrada por nós.

Claro que toda a rede de apoio do Granatum tá aqui pra que a gente possa fazer as trocas, para que a gente possa sair das tocas de coelho que a gente chama aqui, que são as dificuldades que a gente tem com os nossos próprios pensamentos, mas uma coisa que a gente tirou da nossa rotina é essa necessidade de querer controlar a presença da pessoa.

Então, pode ser, igual o Maurício acabou de falar, que hoje você não esteja tão produtivo, e pra nós, desde muitos anos, desde isso virar moda, tudo bem de verdade.

Então se você, você não precisa tirar um momento para cuidar da sua saúde mental nas suas férias, você não precisa esperar um ciclo pra você desestressar ou parar por um tempo pra pensar melhor nas soluções que você está criando, ou no seu trabalho.

Então por aqui a gente é bastante livre pra isso, muito embora, esse seja um dos grandes desafios que a gente vive desde sempre.

Porque não ter às 8 horas é um paradigma interessante.

Quando você não tá fazendo uma entrega de valor para nós, no nosso caso, a gente faz as nossas entregas pros nossos clientes, então nós somos o cliente, os nossos, o nosso próprio cliente para fazer entrega pros nossos clientes.

Quando uma entrega não tá bastante clara ou você está patinando na proposição de uma solução, ou você não tá envolvido em nenhum projeto, a tendência é que você se sinta improdutivo. E isso é natural você se sentir improdutivo.

E muito embora a gente fale a todo instante que tudo bem, você não precisa estar a todo instante envolvido em alguma iniciativa, ou você não precisa estar parecendo ocupado só porque você, o mercado inteiro trabalha das nove às dezoito, se você não render das nove às dezoito, se você não estiver produzindo bem ou se você não tiver se sentindo bem em um determinado período do dia, da semana, do mês pra nós tudo bem.

E há muito tempo a gente já não controla isso.

E o resultado disso, contrariando tudo que as empresas de alta performance por aí ou os coachs de empresas de alta performance pregam por aí, a gente vem crescendo consistentemente dois dígitos há pelo menos dez anos, tratando do nosso tempo e do nosso comprometimento desse jeito.

Entendendo que somos trabalhadores do conhecimento e a gente precisa, ao nosso tempo, em nosso próprio ciclo individual, porque somos indivíduos, fazer esse refresh, esse esvaziamento da mente no nosso tempo e produzindo as melhores soluções.

Então a gente falava lá no começo, porque a gente tinha os reports, já falamos sobre isso, que fazendo as contas, a gente precisava escrever quatro linhas de código por dia. Eram as quatro linhas certas.

E quanto tempo você demora pra escrever quatro linhas de código? Um minuto, menos? Hoje nem isso, muito menos.

Então esse seria o tempo equivalente de produtividade, porque grande parte do trabalho que é feito hoje, ao longo do dia é jogado fora, então porque não focar, não respeitar esse tempo, igual o Maurício falou, pensar mais no problema pra produzir o maior valor pros nossos clientes? Porque não?

Porque a gente evoluiu enquanto sociedade para ter uma organização que permita que a gente entregue valor com muito mais qualidade de vida.

Maurício Matsuda

E a gente até comentou, por exemplo, que a gente não consegue desligar o nosso pensamento depois das oito horas e, do tipo, não vou pensar mais nada sobre o trabalho e quero focar na minha vida pessoal.

A gente sabe que não é assim.

E da mesma forma que também a vida pessoal influencia no dia a dia, durante o trabalho, durante o horário comercial que a gente tem.

E também a gente vê que não tem como a gente falar que, ah não, agora eu não vou lidar com nada do meu pessoal, não vou lidar com nada que eu, que não seja trabalho. E a gente sabe que isso não acontece.

Ainda mais hoje em dia que a gente trabalha no remoto.

Então é um home office quase todos os dias fica mais difícil ainda.

Por exemplo, eu tenho uma filha de seis anos. E aí de manhã ela tá em casa e de tarde ela vai pra escola.

Então de manhã a interrupção é normal no meu dia a dia.

Então, eu não tranco o escritório, do tipo, ah não você não entra porque o papai tá aqui trabalhando, então fique na sala sozinha, fique vendo TV que eu preciso trabalhar.

Eu acho que tem casos e casos, quando eu preciso realmente focar, concentrar em alguma coisa eu aviso a ela, mas também não tranco o escritório, mas ela já tá entendendo um pouco disso, mas é uma criança.

Então a qualquer momento ela pode me interromper e falar eu quero brincar com você, me ajuda aqui, eu tô tentando fazer alguma coisa, não tô conseguindo, eu quero sua ajuda, ou vamos desenhar, vamos fazer alguma coisa. E isso acontece.

E da forma como a gente trabalha, dos combinados que a gente tem, eu consigo conciliar essas duas coisas.

Consigo dar atenção pra ela e também consigo produzir o que eu me comprometi a produzir.

Até uma outra coisa que acontece na minha rotina, por exemplo, que eu levo a minha filha pra escola e aproveito já, nesse horário que eu saio de casa, passo na academia, faço meu treino lá de musculação, e depois volto pra casa e volto a trabalhar.

Porque são coisas que a gente acaba deixando, do nosso dia dia, do nosso cuidado pessoal.

A gente sempre tem o costume de sempre deixar pra depois.

Ah nas minhas férias, como o Floz falou, nas minhas férias eu vou marcar o check up, vou fazer todos os exames, vou aos médicos ver se tá tudo certo com a minha saúde.

Nas minhas férias vou, não sei o que.

Então, ah depois eu vou pra academia, depois eu vou treinar, aí chega o fim do dia você tá cansado, você fala não, amanhã eu vou, e aí passou uma semana, passou um mês e você deixou de ir na academia porque você estava priorizando só o trabalho e esqueceu da vida pessoal.

E a gente sabe que se a gente só deixar, só focar na vida profissional, esquecer da vida pessoal, o profissional também não vai funcionar bem.

Então é uma balança que a gente tem que sempre equilibrar e cuidar de tudo pra que a gente esteja bem fisicamente, emocionalmente, para que também a gente produza bem no profissional.

Mariana Prado

Isso é muito legal de ouvir falando.

Tô até vendo a carinha do Floz ali sorrindo assim, tipo orgulhoso do formato que a gente trabalha e que a gente vem construindo.

Porque dá esse espaço pra tentar equilibrar a vida pessoal e o trabalho.

É muito importante.

E aí a gente coloca realmente na conta da autonomia do indivíduo.

O indivíduo vai conseguir saber o que é melhor pra ele naquele momento mais do que qualquer outra pessoa envolvida.

E outra reflexão que ficou aqui muito foi sobre o trabalhador do conhecimento.

A gente espera muito um pensamento linear, um trabalho linear, de pessoas que não vão conseguir entregar de forma linear, então, normalmente, quando a gente tá aqui pensando sobre o podcast, as ideias dos temas de podcast, surgem em horários os mais inusitados.

Ou ideias sobre como tratar o caso de um cliente, normalmente, não vai surgir quando eu estiver aqui na frente do computador olhando para todos os dados do cliente.

Vai surgir quando eu levantei da mesa, peguei um café, brinquei um pouco com meu cachorro, e aí eu esperei, e aí eu falo, nossa vou tentar responder dessa forma ou vou seguir esse outro caminho.

Então testar a liberdade para administrar o tempo e entender que tá tudo bem esse pensamento flutuar, é muito importante.

E como a gente tem trazido, não é um mar de rosas, não é sempre que isso vai acontecer.

Vão ter os momentos ali de autocobrança em que a gente vai tentar se controlar mais, do tipo, não agora eu preciso focar muito e eu preciso muito fazer essa entrega, meu Deus, preciso ser mais produtivo, mas também vão ter esses momentos de tranquilidade onde a gente sabe que os acordos estão sendo cumpridos, que o que as pessoas esperam a gente tá atendendo, sempre baseado também nessa auto percepção e no feedback dos nossos pares, das pessoas que estão ali com a gente, de como a gente tá sendo chamado, convidado a participar das coisas.

Então acho que essas trocas também do time elas vão ajudar a gente a ter um termômetro pessoal de como que a gente vai administrar o nosso tempo, de qual que vai ser a nossa dedicação e a nossa entrega.

Se você também trabalha em um time que não bate ponto, conta pra gente como que as coisas funcionam por aí!

Esse foi mais um Código Granatum. Obrigada por ouvir e até a próxima semana.

Mariana Prado

Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável.

Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente e aqui comigo, Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum e o Maurício Matsuda, nosso CTO.

Se você é nosso ouvinte já sabe que a gente tá sempre falando sobre a nossa cultura ser baseada em autonomia, confiança e responsabilidade.

Isso aparece na prática de várias formas e uma delas é o fato de que ninguém aqui é cobrado por cumprir oito horas exatas de trabalho.

A régua que a gente usa é outra. Cumprir os combinados, entregar com qualidade e manter um ritmo saudável e sustentável de trabalho.

Floz e Mau, o que que possibilita que isso funcione aqui no Granatum e quais são os cuidados que vem junto com essa liberdade?

Flávio Logullo

Bom, vamos voltar lá do começo onde tudo nasce, onde a gente começa a idealizar essa empresa que a gente tem hoje. E onde era muito claro pra nós que o que importava, no final das contas, era a entrega de trabalho que a gente fazia no final do dia.

E é interessante até essa frase a gente ouve muitas pessoas falarem, no final do dia é o que importa, no final do dia é o que importa, como se a gente tivesse que arrastar o dia inteiro mesmo, mas o que é que de fato a gente precisa fazer no dia, o que que é a entrega do dia, o que que importa no final do dia?

E, culturalmente, na WebGoal, quando a gente começou a desenvolver software, a gente começou a desenvolver software, a gente idealizou a empresa para entregar valor de fato pros clientes. E entregar valor não prescreve um tempo pra esse valor ser entregue, muito pelo contrário.

A gente sempre demandou de muita pesquisa, sempre se empenhou muito em pensar no que que é que a gente de fato queria entregar como valor.

E a gente causou uma certa estranheza, há dezoito anos atrás, quando a gente começou a desenvolver software, quando a gente questionava os clientes sobre o que de fato eles queriam.

E antes do Granatum, tudo era software, a gente desenvolvia software para os clientes. E isso puxa um comportamento que é aqui interno, porque quando a gente vem dessa cultura, que o desenvolvimento, a produtividade, ela meio que implicitamente entende que você precisa despender um determinado número de horas para ser produtivo ou para fazer as entregas, a gente não coloca a entrega na ponta da conversa, a gente coloca o tempo, a troca de tempo.

Então eu tô comprando o seu tempo de vida em troca de um salário ou em troca de um valor entregue. E quando a gente começa a questionar sobre o que que é valor, que que você precisa que eu entregue pra você, a gente coloca o valor na ponta.

E muitas vezes o valor ele é entregue num tempo muito menor, ou às vezes num tempo maior do que o que a gente planeja porque, principalmente quando a gente tá falando de de entregas de valor, de software, a gente tá falando muito, tem muito a ver com artesanato, com uma entrega, agora menos, mas com essa entrega de que a gente vai criar alguma coisa para resolver um problema que você está explicando que está dentro do seu contexto, que você tem um jeito determinado, uma expectativa de resolver.

E essa entrega de valor e esse artesanato ele não tem exatamente oito horas. Vou te entregar em oito horas, vou te entregar em cinco horas.

Quando a gente pensa na proposição de solução de valor, e isso vale pra qualquer coisa hoje, já que não somos máquinas, a gente não tem mais esse processo fabril, a maioria das coisas são entregues como resultado e o fruto de um pensamento da criação de uma solução.

Então essa medida de tempo ela nunca fez muito sentido.

E nós, a natureza dos nossos negócios aqui é de produzir, traduzir o conhecimento que a gente tem sobre um contexto, sobre uma dor específica que a gente quer resolver dos nossos clientes, em uma solução.

Então é muito difícil de metrificar quando a gente começa a pensar e quando a gente termina de pensar nessa solução.

Então, a gente no começo da empresa, a gente gostava muito dessa analogia.

Então quando às oito horas do dia chegou ao fim o seu cérebro trava? Você não pensa mais no problema que você pensou o dia inteiro em como resolver? Não, né?

Nós somos trabalhadores do conhecimento, nosso cérebro não para.

Então eu vou embora pra casa e aí eu não penso mais naquilo. Eu sei que é errado e que não, você não deveria pensar, mas você não controla o seu cérebro, então porque é que na mesma medida, já que a gente passa mais de oito horas em alguns momentos trabalhando, porque não passar menos horas?

E porque controlar essas horas, já que você não consegue controlar? É impossível você colocar um cartão de ponto no seu cérebro.

Então, só pra dar um pouco de contexto de onde vem esse pensamento e porque que pra gente, de fato, às oito horas elas não são tão relevantes assim como a gente costuma enxergar aí no mercado.

Maurício Matsuda

Legal.

Eu acho que tem muita relação mesmo com o que o Floz falou que a gente não consegue controlar o tempo que a gente tá pensando nas coisas do trabalho, nessas oito horas e depois das oito horas a gente deixa de pensar, esquece de tudo. É bem difícil.

Até mesmo uma coisa que eu comentei num dos episódios anteriores que, principalmente na nossa área de programação e na WebGoal e agora no Granatum, eu vejo que a pessoa que programa é muito mais assim, muito mais do que sentar e trabalhar oito horas programando qualquer coisa, escrevendo código.

A gente passa muito mais tempo hoje em dia pensando, idealizando a solução, pra daí sim a gente colocar a mão na massa e escrever algum código.

E pensar muito bem que código que a gente vai escrever pra ter menos retrabalho e tudo mais e otimizar a nossa entrega.

E também ter uma entrega de valor muito maior do que a gente sair fazendo o que vier na cabeça e o que a gente acha que que tem que ser desenvolvido.

Então, como a gente para muito mais pra pensar, pra analisar, para projetar e idealizar esse pensamento não é contínuo e não é controlado, do tipo, ah vou sentar aqui, vou ficar oito horas pensando e projetando alguma solução, e aí para, interrompe esse pensamento, volta no dia seguinte, continua e por aí vai.

Então, com certeza tem dias que a gente vai trabalhar quatro horas, mas a gente vai ser muito produtivo. Outros dias a gente vai trabalhar oito horas e vai ser pouco produtivo.

Porque a gente não consegue controlar a medida de como a gente vai ser realmente produtivo.

E aí como o Floz comentou, a gente entendeu que pouco importava a quantidade de horas que a gente tinha focado no trabalho, mas sim a entrega, o compromisso que a gente teve com essa entrega ao fim de um combinado que a gente teve.

Então, quando a WebGoal surgiu, a gente era muito focado com os métodos ágeis, então a gente tinha os sprints que o scrum prega e tudo mais.

Então a gente conseguia definir que em duas semanas, por exemplo, a gente ia entregar x itens.

Então aquele era o compromisso que o time tinha com o cliente, que em duas semanas aquela quantidade de itens seriam feitas e entregues para o cliente.

Então independente se o time ia conseguir fazer em uma semana, em meia semana, ou se ele ia precisar de mais de duas semanas porque teve uma estimativa errada, alguma coisa assim, a gente se baseava no foco da entrega não se o time realmente estava lá trabalhando às oito horas por dia.

Porque não adianta nada a gente forçar um ambiente que a pessoa fique trabalhando às oito horas por dia, mas ela não esteja lá produzindo de verdade porque aconteceu alguma coisa, porque ela tem, tá com algum problema pessoal, alguma outra coisa que ela precisa resolver e ela tá lá por tá, porque ela tem que cumprir as oito horas mas ela não tá bem naquele dia e não vai render como a gente gostaria então, a gente sempre teve essa liberdade de poder escolher e pensar como que é a melhor forma de trabalho para realmente tentar cumprir o combinado de entregar o que a gente se comprometeu. 

Flávio Logullo

E essa é uma questão que não é mil maravilhas. É muito, muito interessante.

Esse ano a gente passou a ser 100% remoto e 100% assíncrono, então momentos como esse aqui que a gente tá se encontrando sincronamente, nós três, pra gravar o podcast, eles são raríssimos dentro do Granatum, desde janeiro.

E todo trabalho assíncrono é feito de forma remota.

E essa semana, especificamente, a Camila que é do time de Dev, trouxe uma reflexão muito interessante num dos checkins, porque não é uma bagunça, embora para as pessoas possa parecer que as coisas elas não são muito bem organizadas, aqui a gente tem um alinhamento, a gente tenta manter o alinhamento bastante grande entre as pessoas, e um desses alinhamentos, um desses pontos de contato são os checkins, e a Camila a gente tem um checkin sobre o podcast pra que todo mundo compartilhe o que achou do episódio aqui, e a Camila ela trouxe essa reflexão que eu acho que é onde existe uma complexidade bastante grande.

E eu entendo porque a cultura empreendedora, cultura de negócio, ela não prescreve esse jeito que a gente trabalha com essa tal liberdade que a gente fala, o que fazer com essa tal liberdade?

E a Camila ela trouxe essa reflexão.

Então se ninguém controla as horas, se a gente, quem é que cuida desse desse meu comprometimento? Onde é que eu peço socorro? O que é que eu tenho que fazer se eu não estiver me sentindo produtivo?

É uma das reflexões que a gente vem construindo ao longo dos anos, e isso muda o tempo inteiro porque todo ambiente muda.

As IAs, elas vieram revolucionar o nosso mercado de trabalho, todo o mercado de trabalho, mas o nosso especificamente.

E essa solitude ou essa solidão que a gente vive, parece que vive, ela tem que de fato ser entendida por nós e ser administrada por nós.

Claro que toda a rede de apoio do Granatum tá aqui pra que a gente possa fazer as trocas, para que a gente possa sair das tocas de coelho que a gente chama aqui, que são as dificuldades que a gente tem com os nossos próprios pensamentos, mas uma coisa que a gente tirou da nossa rotina é essa necessidade de querer controlar a presença da pessoa.

Então, pode ser, igual o Maurício acabou de falar, que hoje você não esteja tão produtivo, e pra nós, desde muitos anos, desde isso virar moda, tudo bem de verdade.

Então se você, você não precisa tirar um momento para cuidar da sua saúde mental nas suas férias, você não precisa esperar um ciclo pra você desestressar ou parar por um tempo pra pensar melhor nas soluções que você está criando, ou no seu trabalho.

Então por aqui a gente é bastante livre pra isso, muito embora, esse seja um dos grandes desafios que a gente vive desde sempre.

Porque não ter às 8 horas é um paradigma interessante.

Quando você não tá fazendo uma entrega de valor para nós, no nosso caso, a gente faz as nossas entregas pros nossos clientes, então nós somos o cliente, os nossos, o nosso próprio cliente para fazer entrega pros nossos clientes.

Quando uma entrega não tá bastante clara ou você está patinando na proposição de uma solução, ou você não tá envolvido em nenhum projeto, a tendência é que você se sinta improdutivo. E isso é natural você se sentir improdutivo.

E muito embora a gente fale a todo instante que tudo bem, você não precisa estar a todo instante envolvido em alguma iniciativa, ou você não precisa estar parecendo ocupado só porque você, o mercado inteiro trabalha das nove às dezoito, se você não render das nove às dezoito, se você não estiver produzindo bem ou se você não tiver se sentindo bem em um determinado período do dia, da semana, do mês pra nós tudo bem.

E há muito tempo a gente já não controla isso.

E o resultado disso, contrariando tudo que as empresas de alta performance por aí ou os coachs de empresas de alta performance pregam por aí, a gente vem crescendo consistentemente dois dígitos há pelo menos dez anos, tratando do nosso tempo e do nosso comprometimento desse jeito.

Entendendo que somos trabalhadores do conhecimento e a gente precisa, ao nosso tempo, em nosso próprio ciclo individual, porque somos indivíduos, fazer esse refresh, esse esvaziamento da mente no nosso tempo e produzindo as melhores soluções.

Então a gente falava lá no começo, porque a gente tinha os reports, já falamos sobre isso, que fazendo as contas, a gente precisava escrever quatro linhas de código por dia. Eram as quatro linhas certas.

E quanto tempo você demora pra escrever quatro linhas de código? Um minuto, menos? Hoje nem isso, muito menos.

Então esse seria o tempo equivalente de produtividade, porque grande parte do trabalho que é feito hoje, ao longo do dia é jogado fora, então porque não focar, não respeitar esse tempo, igual o Maurício falou, pensar mais no problema pra produzir o maior valor pros nossos clientes? Porque não?

Porque a gente evoluiu enquanto sociedade para ter uma organização que permita que a gente entregue valor com muito mais qualidade de vida.

Maurício Matsuda

E a gente até comentou, por exemplo, que a gente não consegue desligar o nosso pensamento depois das oito horas e, do tipo, não vou pensar mais nada sobre o trabalho e quero focar na minha vida pessoal.

A gente sabe que não é assim.

E da mesma forma que também a vida pessoal influencia no dia a dia, durante o trabalho, durante o horário comercial que a gente tem.

E também a gente vê que não tem como a gente falar que, ah não, agora eu não vou lidar com nada do meu pessoal, não vou lidar com nada que eu, que não seja trabalho. E a gente sabe que isso não acontece.

Ainda mais hoje em dia que a gente trabalha no remoto.

Então é um home office quase todos os dias fica mais difícil ainda.

Por exemplo, eu tenho uma filha de seis anos. E aí de manhã ela tá em casa e de tarde ela vai pra escola.

Então de manhã a interrupção é normal no meu dia a dia.

Então, eu não tranco o escritório, do tipo, ah não você não entra porque o papai tá aqui trabalhando, então fique na sala sozinha, fique vendo TV que eu preciso trabalhar.

Eu acho que tem casos e casos, quando eu preciso realmente focar, concentrar em alguma coisa eu aviso a ela, mas também não tranco o escritório, mas ela já tá entendendo um pouco disso, mas é uma criança.

Então a qualquer momento ela pode me interromper e falar eu quero brincar com você, me ajuda aqui, eu tô tentando fazer alguma coisa, não tô conseguindo, eu quero sua ajuda, ou vamos desenhar, vamos fazer alguma coisa. E isso acontece.

E da forma como a gente trabalha, dos combinados que a gente tem, eu consigo conciliar essas duas coisas.

Consigo dar atenção pra ela e também consigo produzir o que eu me comprometi a produzir.

Até uma outra coisa que acontece na minha rotina, por exemplo, que eu levo a minha filha pra escola e aproveito já, nesse horário que eu saio de casa, passo na academia, faço meu treino lá de musculação, e depois volto pra casa e volto a trabalhar.

Porque são coisas que a gente acaba deixando, do nosso dia dia, do nosso cuidado pessoal.

A gente sempre tem o costume de sempre deixar pra depois.

Ah nas minhas férias, como o Floz falou, nas minhas férias eu vou marcar o check up, vou fazer todos os exames, vou aos médicos ver se tá tudo certo com a minha saúde.

Nas minhas férias vou, não sei o que.

Então, ah depois eu vou pra academia, depois eu vou treinar, aí chega o fim do dia você tá cansado, você fala não, amanhã eu vou, e aí passou uma semana, passou um mês e você deixou de ir na academia porque você estava priorizando só o trabalho e esqueceu da vida pessoal.

E a gente sabe que se a gente só deixar, só focar na vida profissional, esquecer da vida pessoal, o profissional também não vai funcionar bem.

Então é uma balança que a gente tem que sempre equilibrar e cuidar de tudo pra que a gente esteja bem fisicamente, emocionalmente, para que também a gente produza bem no profissional.

Mariana Prado

Isso é muito legal de ouvir falando.

Tô até vendo a carinha do Floz ali sorrindo assim, tipo orgulhoso do formato que a gente trabalha e que a gente vem construindo.

Porque dá esse espaço pra tentar equilibrar a vida pessoal e o trabalho.

É muito importante.

E aí a gente coloca realmente na conta da autonomia do indivíduo.

O indivíduo vai conseguir saber o que é melhor pra ele naquele momento mais do que qualquer outra pessoa envolvida.

E outra reflexão que ficou aqui muito foi sobre o trabalhador do conhecimento.

A gente espera muito um pensamento linear, um trabalho linear, de pessoas que não vão conseguir entregar de forma linear, então, normalmente, quando a gente tá aqui pensando sobre o podcast, as ideias dos temas de podcast, surgem em horários os mais inusitados.

Ou ideias sobre como tratar o caso de um cliente, normalmente, não vai surgir quando eu estiver aqui na frente do computador olhando para todos os dados do cliente.

Vai surgir quando eu levantei da mesa, peguei um café, brinquei um pouco com meu cachorro, e aí eu esperei, e aí eu falo, nossa vou tentar responder dessa forma ou vou seguir esse outro caminho.

Então testar a liberdade para administrar o tempo e entender que tá tudo bem esse pensamento flutuar, é muito importante.

E como a gente tem trazido, não é um mar de rosas, não é sempre que isso vai acontecer.

Vão ter os momentos ali de autocobrança em que a gente vai tentar se controlar mais, do tipo, não agora eu preciso focar muito e eu preciso muito fazer essa entrega, meu Deus, preciso ser mais produtivo, mas também vão ter esses momentos de tranquilidade onde a gente sabe que os acordos estão sendo cumpridos, que o que as pessoas esperam a gente tá atendendo, sempre baseado também nessa auto percepção e no feedback dos nossos pares, das pessoas que estão ali com a gente, de como a gente tá sendo chamado, convidado a participar das coisas.

Então acho que essas trocas também do time elas vão ajudar a gente a ter um termômetro pessoal de como que a gente vai administrar o nosso tempo, de qual que vai ser a nossa dedicação e a nossa entrega.

Se você também trabalha em um time que não bate ponto, conta pra gente como que as coisas funcionam por aí!

Esse foi mais um Código Granatum. Obrigada por ouvir e até a próxima semana.

Mariana Prado

Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável.

Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente e aqui comigo, Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum e o Maurício Matsuda, nosso CTO.

Se você é nosso ouvinte já sabe que a gente tá sempre falando sobre a nossa cultura ser baseada em autonomia, confiança e responsabilidade.

Isso aparece na prática de várias formas e uma delas é o fato de que ninguém aqui é cobrado por cumprir oito horas exatas de trabalho.

A régua que a gente usa é outra. Cumprir os combinados, entregar com qualidade e manter um ritmo saudável e sustentável de trabalho.

Floz e Mau, o que que possibilita que isso funcione aqui no Granatum e quais são os cuidados que vem junto com essa liberdade?

Flávio Logullo

Bom, vamos voltar lá do começo onde tudo nasce, onde a gente começa a idealizar essa empresa que a gente tem hoje. E onde era muito claro pra nós que o que importava, no final das contas, era a entrega de trabalho que a gente fazia no final do dia.

E é interessante até essa frase a gente ouve muitas pessoas falarem, no final do dia é o que importa, no final do dia é o que importa, como se a gente tivesse que arrastar o dia inteiro mesmo, mas o que é que de fato a gente precisa fazer no dia, o que que é a entrega do dia, o que que importa no final do dia?

E, culturalmente, na WebGoal, quando a gente começou a desenvolver software, a gente começou a desenvolver software, a gente idealizou a empresa para entregar valor de fato pros clientes. E entregar valor não prescreve um tempo pra esse valor ser entregue, muito pelo contrário.

A gente sempre demandou de muita pesquisa, sempre se empenhou muito em pensar no que que é que a gente de fato queria entregar como valor.

E a gente causou uma certa estranheza, há dezoito anos atrás, quando a gente começou a desenvolver software, quando a gente questionava os clientes sobre o que de fato eles queriam.

E antes do Granatum, tudo era software, a gente desenvolvia software para os clientes. E isso puxa um comportamento que é aqui interno, porque quando a gente vem dessa cultura, que o desenvolvimento, a produtividade, ela meio que implicitamente entende que você precisa despender um determinado número de horas para ser produtivo ou para fazer as entregas, a gente não coloca a entrega na ponta da conversa, a gente coloca o tempo, a troca de tempo.

Então eu tô comprando o seu tempo de vida em troca de um salário ou em troca de um valor entregue. E quando a gente começa a questionar sobre o que que é valor, que que você precisa que eu entregue pra você, a gente coloca o valor na ponta.

E muitas vezes o valor ele é entregue num tempo muito menor, ou às vezes num tempo maior do que o que a gente planeja porque, principalmente quando a gente tá falando de de entregas de valor, de software, a gente tá falando muito, tem muito a ver com artesanato, com uma entrega, agora menos, mas com essa entrega de que a gente vai criar alguma coisa para resolver um problema que você está explicando que está dentro do seu contexto, que você tem um jeito determinado, uma expectativa de resolver.

E essa entrega de valor e esse artesanato ele não tem exatamente oito horas. Vou te entregar em oito horas, vou te entregar em cinco horas.

Quando a gente pensa na proposição de solução de valor, e isso vale pra qualquer coisa hoje, já que não somos máquinas, a gente não tem mais esse processo fabril, a maioria das coisas são entregues como resultado e o fruto de um pensamento da criação de uma solução.

Então essa medida de tempo ela nunca fez muito sentido.

E nós, a natureza dos nossos negócios aqui é de produzir, traduzir o conhecimento que a gente tem sobre um contexto, sobre uma dor específica que a gente quer resolver dos nossos clientes, em uma solução.

Então é muito difícil de metrificar quando a gente começa a pensar e quando a gente termina de pensar nessa solução.

Então, a gente no começo da empresa, a gente gostava muito dessa analogia.

Então quando às oito horas do dia chegou ao fim o seu cérebro trava? Você não pensa mais no problema que você pensou o dia inteiro em como resolver? Não, né?

Nós somos trabalhadores do conhecimento, nosso cérebro não para.

Então eu vou embora pra casa e aí eu não penso mais naquilo. Eu sei que é errado e que não, você não deveria pensar, mas você não controla o seu cérebro, então porque é que na mesma medida, já que a gente passa mais de oito horas em alguns momentos trabalhando, porque não passar menos horas?

E porque controlar essas horas, já que você não consegue controlar? É impossível você colocar um cartão de ponto no seu cérebro.

Então, só pra dar um pouco de contexto de onde vem esse pensamento e porque que pra gente, de fato, às oito horas elas não são tão relevantes assim como a gente costuma enxergar aí no mercado.

Maurício Matsuda

Legal.

Eu acho que tem muita relação mesmo com o que o Floz falou que a gente não consegue controlar o tempo que a gente tá pensando nas coisas do trabalho, nessas oito horas e depois das oito horas a gente deixa de pensar, esquece de tudo. É bem difícil.

Até mesmo uma coisa que eu comentei num dos episódios anteriores que, principalmente na nossa área de programação e na WebGoal e agora no Granatum, eu vejo que a pessoa que programa é muito mais assim, muito mais do que sentar e trabalhar oito horas programando qualquer coisa, escrevendo código.

A gente passa muito mais tempo hoje em dia pensando, idealizando a solução, pra daí sim a gente colocar a mão na massa e escrever algum código.

E pensar muito bem que código que a gente vai escrever pra ter menos retrabalho e tudo mais e otimizar a nossa entrega.

E também ter uma entrega de valor muito maior do que a gente sair fazendo o que vier na cabeça e o que a gente acha que que tem que ser desenvolvido.

Então, como a gente para muito mais pra pensar, pra analisar, para projetar e idealizar esse pensamento não é contínuo e não é controlado, do tipo, ah vou sentar aqui, vou ficar oito horas pensando e projetando alguma solução, e aí para, interrompe esse pensamento, volta no dia seguinte, continua e por aí vai.

Então, com certeza tem dias que a gente vai trabalhar quatro horas, mas a gente vai ser muito produtivo. Outros dias a gente vai trabalhar oito horas e vai ser pouco produtivo.

Porque a gente não consegue controlar a medida de como a gente vai ser realmente produtivo.

E aí como o Floz comentou, a gente entendeu que pouco importava a quantidade de horas que a gente tinha focado no trabalho, mas sim a entrega, o compromisso que a gente teve com essa entrega ao fim de um combinado que a gente teve.

Então, quando a WebGoal surgiu, a gente era muito focado com os métodos ágeis, então a gente tinha os sprints que o scrum prega e tudo mais.

Então a gente conseguia definir que em duas semanas, por exemplo, a gente ia entregar x itens.

Então aquele era o compromisso que o time tinha com o cliente, que em duas semanas aquela quantidade de itens seriam feitas e entregues para o cliente.

Então independente se o time ia conseguir fazer em uma semana, em meia semana, ou se ele ia precisar de mais de duas semanas porque teve uma estimativa errada, alguma coisa assim, a gente se baseava no foco da entrega não se o time realmente estava lá trabalhando às oito horas por dia.

Porque não adianta nada a gente forçar um ambiente que a pessoa fique trabalhando às oito horas por dia, mas ela não esteja lá produzindo de verdade porque aconteceu alguma coisa, porque ela tem, tá com algum problema pessoal, alguma outra coisa que ela precisa resolver e ela tá lá por tá, porque ela tem que cumprir as oito horas mas ela não tá bem naquele dia e não vai render como a gente gostaria então, a gente sempre teve essa liberdade de poder escolher e pensar como que é a melhor forma de trabalho para realmente tentar cumprir o combinado de entregar o que a gente se comprometeu. 

Flávio Logullo

E essa é uma questão que não é mil maravilhas. É muito, muito interessante.

Esse ano a gente passou a ser 100% remoto e 100% assíncrono, então momentos como esse aqui que a gente tá se encontrando sincronamente, nós três, pra gravar o podcast, eles são raríssimos dentro do Granatum, desde janeiro.

E todo trabalho assíncrono é feito de forma remota.

E essa semana, especificamente, a Camila que é do time de Dev, trouxe uma reflexão muito interessante num dos checkins, porque não é uma bagunça, embora para as pessoas possa parecer que as coisas elas não são muito bem organizadas, aqui a gente tem um alinhamento, a gente tenta manter o alinhamento bastante grande entre as pessoas, e um desses alinhamentos, um desses pontos de contato são os checkins, e a Camila a gente tem um checkin sobre o podcast pra que todo mundo compartilhe o que achou do episódio aqui, e a Camila ela trouxe essa reflexão que eu acho que é onde existe uma complexidade bastante grande.

E eu entendo porque a cultura empreendedora, cultura de negócio, ela não prescreve esse jeito que a gente trabalha com essa tal liberdade que a gente fala, o que fazer com essa tal liberdade?

E a Camila ela trouxe essa reflexão.

Então se ninguém controla as horas, se a gente, quem é que cuida desse desse meu comprometimento? Onde é que eu peço socorro? O que é que eu tenho que fazer se eu não estiver me sentindo produtivo?

É uma das reflexões que a gente vem construindo ao longo dos anos, e isso muda o tempo inteiro porque todo ambiente muda.

As IAs, elas vieram revolucionar o nosso mercado de trabalho, todo o mercado de trabalho, mas o nosso especificamente.

E essa solitude ou essa solidão que a gente vive, parece que vive, ela tem que de fato ser entendida por nós e ser administrada por nós.

Claro que toda a rede de apoio do Granatum tá aqui pra que a gente possa fazer as trocas, para que a gente possa sair das tocas de coelho que a gente chama aqui, que são as dificuldades que a gente tem com os nossos próprios pensamentos, mas uma coisa que a gente tirou da nossa rotina é essa necessidade de querer controlar a presença da pessoa.

Então, pode ser, igual o Maurício acabou de falar, que hoje você não esteja tão produtivo, e pra nós, desde muitos anos, desde isso virar moda, tudo bem de verdade.

Então se você, você não precisa tirar um momento para cuidar da sua saúde mental nas suas férias, você não precisa esperar um ciclo pra você desestressar ou parar por um tempo pra pensar melhor nas soluções que você está criando, ou no seu trabalho.

Então por aqui a gente é bastante livre pra isso, muito embora, esse seja um dos grandes desafios que a gente vive desde sempre.

Porque não ter às 8 horas é um paradigma interessante.

Quando você não tá fazendo uma entrega de valor para nós, no nosso caso, a gente faz as nossas entregas pros nossos clientes, então nós somos o cliente, os nossos, o nosso próprio cliente para fazer entrega pros nossos clientes.

Quando uma entrega não tá bastante clara ou você está patinando na proposição de uma solução, ou você não tá envolvido em nenhum projeto, a tendência é que você se sinta improdutivo. E isso é natural você se sentir improdutivo.

E muito embora a gente fale a todo instante que tudo bem, você não precisa estar a todo instante envolvido em alguma iniciativa, ou você não precisa estar parecendo ocupado só porque você, o mercado inteiro trabalha das nove às dezoito, se você não render das nove às dezoito, se você não estiver produzindo bem ou se você não tiver se sentindo bem em um determinado período do dia, da semana, do mês pra nós tudo bem.

E há muito tempo a gente já não controla isso.

E o resultado disso, contrariando tudo que as empresas de alta performance por aí ou os coachs de empresas de alta performance pregam por aí, a gente vem crescendo consistentemente dois dígitos há pelo menos dez anos, tratando do nosso tempo e do nosso comprometimento desse jeito.

Entendendo que somos trabalhadores do conhecimento e a gente precisa, ao nosso tempo, em nosso próprio ciclo individual, porque somos indivíduos, fazer esse refresh, esse esvaziamento da mente no nosso tempo e produzindo as melhores soluções.

Então a gente falava lá no começo, porque a gente tinha os reports, já falamos sobre isso, que fazendo as contas, a gente precisava escrever quatro linhas de código por dia. Eram as quatro linhas certas.

E quanto tempo você demora pra escrever quatro linhas de código? Um minuto, menos? Hoje nem isso, muito menos.

Então esse seria o tempo equivalente de produtividade, porque grande parte do trabalho que é feito hoje, ao longo do dia é jogado fora, então porque não focar, não respeitar esse tempo, igual o Maurício falou, pensar mais no problema pra produzir o maior valor pros nossos clientes? Porque não?

Porque a gente evoluiu enquanto sociedade para ter uma organização que permita que a gente entregue valor com muito mais qualidade de vida.

Maurício Matsuda

E a gente até comentou, por exemplo, que a gente não consegue desligar o nosso pensamento depois das oito horas e, do tipo, não vou pensar mais nada sobre o trabalho e quero focar na minha vida pessoal.

A gente sabe que não é assim.

E da mesma forma que também a vida pessoal influencia no dia a dia, durante o trabalho, durante o horário comercial que a gente tem.

E também a gente vê que não tem como a gente falar que, ah não, agora eu não vou lidar com nada do meu pessoal, não vou lidar com nada que eu, que não seja trabalho. E a gente sabe que isso não acontece.

Ainda mais hoje em dia que a gente trabalha no remoto.

Então é um home office quase todos os dias fica mais difícil ainda.

Por exemplo, eu tenho uma filha de seis anos. E aí de manhã ela tá em casa e de tarde ela vai pra escola.

Então de manhã a interrupção é normal no meu dia a dia.

Então, eu não tranco o escritório, do tipo, ah não você não entra porque o papai tá aqui trabalhando, então fique na sala sozinha, fique vendo TV que eu preciso trabalhar.

Eu acho que tem casos e casos, quando eu preciso realmente focar, concentrar em alguma coisa eu aviso a ela, mas também não tranco o escritório, mas ela já tá entendendo um pouco disso, mas é uma criança.

Então a qualquer momento ela pode me interromper e falar eu quero brincar com você, me ajuda aqui, eu tô tentando fazer alguma coisa, não tô conseguindo, eu quero sua ajuda, ou vamos desenhar, vamos fazer alguma coisa. E isso acontece.

E da forma como a gente trabalha, dos combinados que a gente tem, eu consigo conciliar essas duas coisas.

Consigo dar atenção pra ela e também consigo produzir o que eu me comprometi a produzir.

Até uma outra coisa que acontece na minha rotina, por exemplo, que eu levo a minha filha pra escola e aproveito já, nesse horário que eu saio de casa, passo na academia, faço meu treino lá de musculação, e depois volto pra casa e volto a trabalhar.

Porque são coisas que a gente acaba deixando, do nosso dia dia, do nosso cuidado pessoal.

A gente sempre tem o costume de sempre deixar pra depois.

Ah nas minhas férias, como o Floz falou, nas minhas férias eu vou marcar o check up, vou fazer todos os exames, vou aos médicos ver se tá tudo certo com a minha saúde.

Nas minhas férias vou, não sei o que.

Então, ah depois eu vou pra academia, depois eu vou treinar, aí chega o fim do dia você tá cansado, você fala não, amanhã eu vou, e aí passou uma semana, passou um mês e você deixou de ir na academia porque você estava priorizando só o trabalho e esqueceu da vida pessoal.

E a gente sabe que se a gente só deixar, só focar na vida profissional, esquecer da vida pessoal, o profissional também não vai funcionar bem.

Então é uma balança que a gente tem que sempre equilibrar e cuidar de tudo pra que a gente esteja bem fisicamente, emocionalmente, para que também a gente produza bem no profissional.

Mariana Prado

Isso é muito legal de ouvir falando.

Tô até vendo a carinha do Floz ali sorrindo assim, tipo orgulhoso do formato que a gente trabalha e que a gente vem construindo.

Porque dá esse espaço pra tentar equilibrar a vida pessoal e o trabalho.

É muito importante.

E aí a gente coloca realmente na conta da autonomia do indivíduo.

O indivíduo vai conseguir saber o que é melhor pra ele naquele momento mais do que qualquer outra pessoa envolvida.

E outra reflexão que ficou aqui muito foi sobre o trabalhador do conhecimento.

A gente espera muito um pensamento linear, um trabalho linear, de pessoas que não vão conseguir entregar de forma linear, então, normalmente, quando a gente tá aqui pensando sobre o podcast, as ideias dos temas de podcast, surgem em horários os mais inusitados.

Ou ideias sobre como tratar o caso de um cliente, normalmente, não vai surgir quando eu estiver aqui na frente do computador olhando para todos os dados do cliente.

Vai surgir quando eu levantei da mesa, peguei um café, brinquei um pouco com meu cachorro, e aí eu esperei, e aí eu falo, nossa vou tentar responder dessa forma ou vou seguir esse outro caminho.

Então testar a liberdade para administrar o tempo e entender que tá tudo bem esse pensamento flutuar, é muito importante.

E como a gente tem trazido, não é um mar de rosas, não é sempre que isso vai acontecer.

Vão ter os momentos ali de autocobrança em que a gente vai tentar se controlar mais, do tipo, não agora eu preciso focar muito e eu preciso muito fazer essa entrega, meu Deus, preciso ser mais produtivo, mas também vão ter esses momentos de tranquilidade onde a gente sabe que os acordos estão sendo cumpridos, que o que as pessoas esperam a gente tá atendendo, sempre baseado também nessa auto percepção e no feedback dos nossos pares, das pessoas que estão ali com a gente, de como a gente tá sendo chamado, convidado a participar das coisas.

Então acho que essas trocas também do time elas vão ajudar a gente a ter um termômetro pessoal de como que a gente vai administrar o nosso tempo, de qual que vai ser a nossa dedicação e a nossa entrega.

Se você também trabalha em um time que não bate ponto, conta pra gente como que as coisas funcionam por aí!

Esse foi mais um Código Granatum. Obrigada por ouvir e até a próxima semana.