GranatumCast | Temporada 2
Código Granatum | Temporada 1
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#17
Licença paternidade: tempo de cuidar
Licença paternidade: tempo de cuidar
Temas Relacionados ao Episódio
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Licença paternidade como decisão de cultura
Como a licença de três meses nasceu de um acordo interno, ligado ao código de cultura da WebGoal/Granatum, e não de uma exigência legal ou de marketing de benefício.
Pai presente desde o começo
A rotina real dos primeiros meses: noites picotadas, aprendizado constante, medo, frio, choro do bebê — e por que esse tempo lado a lado é insubstituível para criar vínculo e dividir responsabilidade com a mãe.
Trabalho, tempo e propósito
A crítica à lógica de “trabalhar mais para dar uma vida melhor” enquanto se perde justamente o tempo de estar com a família — e como repensar o desenho do trabalho remoto, dos deslocamentos e da flexibilidade.
Primeira infância e retorno para a sociedade
A relação entre presença na primeira infância, redução de violência, melhores indicadores sociais e o famoso “ROI” de investir nos primeiros anos de vida — muito além da planilha de custos da empresa.
Empresas como espaço de mudança estrutural
O papel das organizações em ir além do discurso e ajustar política, acordos e práticas para que homens e mulheres possam se ausentar por cuidado familiar, sem que isso seja visto como fraqueza, custo ou privilégio.
Transcrição do Episódio
Mariana Prado
Você está ouvindo Código Granatum, conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente, e aqui comigo, Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum e o Maurício Matsuda, nosso CTO.
Toda empresa tem seus acordos, combinados, para que a dinâmica do dia a dia funcione, as tarefas sejam realizadas, as pessoas saibam como agir em cada situação. E quando a gente olha para os acordos que a gente tem aqui no Granatum, eles são um reflexo da nossa cultura.
Enquanto o mercado e o governo estão discutindo sobre estender a licença paternidade de cinco para vinte dias, o Granatum já tem um acordo de licença paternidade de três meses desde 2019, quando o Maurício e um outro colaborador do time iriam viver esse momento. E esse debate começou bem antes, desde o surgimento do Granatum, esse tema tá sempre ali em pauta.
Floz e Mau, eu queria que vocês contassem um pouco mais pro pessoal aqui como funciona a licença paternidade do Granatum e como que a gente organizou para que o Maurício e o Diego pudessem viver esse momento. E pro Maurício contar também um pouquinho como foi a experiência dele nesse momento.
Flavio Logullo
Você sabe que quando a gente fundou a WebGoal, então éramos cinco sócios lá no começo e a gente só tinha o Jeff, que é um dos sócios, que tinha filho, então a pauta de priorize as prioridades, cara vai lá viver com seu filho, vai cuidar do seu filho, nasceu junto com com a WebGoal. Então eu vou voltar ainda um pouco mais, o porquê da gente criar esse negócio, de onde vem, de onde nasce o Granatum.
A gente criou a WebGoal pra meio que trabalhar de um jeito diferente do que a gente vinha trabalhando há anos e anos na indústria de software. Então isso já era um exercício de pensar, repensar o que é que a gente tava fazendo e o propósito de tudo que a gente tava fazendo, porque o debate que a gente tinha na última empresa que a gente trabalhou junto, que era que tinha um processo fabril de software e a gente tem essa pegada de entender que o software tem a ver com ser, tanto que a gente tem o Ateliê de Software, então ser uma atividade muito de artesão, de você colocar ali a sua personalidade o jeito que você pensa no software.
A gente questiona esse modelo desde o começo, desde antes da empresa nascer e a gente entendeu desde muito cedo que a empresa é uma ferramenta que a gente tem de causar de fato um impacto social, o impacto na sociedade. E é engraçado porque agora a gente ouve muito: você tem que deixar o seu legado, você tem que construir um negócio, você tem que marcar, você tem que construir o seu legado. E a gente tinha muito disso, porque a gente vivia nesse meio do empreendedorismo, onde isso sempre foi muito dito por quê? Por que você construir uma empresa, algo grandioso, algo que te brilhe os olhos, que você tenha vontade de acordar todos os dias, ir pra esse lugar e construir esse lugar, ele vai muito além de ganhar dinheiro. Ele vai, ele tem que ir, porque quando você começa a ganhar dinheiro você percebe que sentido que faz isso no final das contas? Claro que ganhar dinheiro é muito importante, a gente discute sobre isso, a gente trabalha e tem um negócio com fins lucrativos, então a gente quer ganhar dinheiro sim, só que o que motiva a gente dia a dia é realmente entender qual é o propósito de tudo que a gente põe. Então a gente questionava tudo que estava ali na sociedade e na estrutura das empresas, desde a própria estrutura, onde a gente não tem uma hierarquia. E hoje, depois de muitos anos, eu posso garantir que funciona. A gente tem um negócio super lucrativo. A gente tem negócios super lucrativos que não tem uma hierarquia e que tem um modelo totalmente distinto.
Esse é o objetivo desse podcast inclusive, de trazer, abrir um pouco do que é o nosso código de verdade, o que é a gente de verdade. E lá pra trás, uma das coisas que a gente entendeu muito cedo é de que a estrutura social ela começa justamente nas relações que a gente cultiva. E as relações que a gente cultiva principalmente entre nossos pares. E os nossos principais pares são os nossos pares diários, quem a gente escolhe pra ser a nossa família. A família que a gente constrói, a nossa própria família de sangue, como é que a gente se relaciona com eles, como é que a gente prioriza eles no dia a dia.
Por que a estrutura social, a estrutura de negócio, ela não prioriza a relação de família, muito pelo contrário. Está vendo aí tem os ícones do empreendedorismo falando que você tem que esquecer a sua família porque a gente vai bater a meta agora. São absurdos que a gente nunca concordou aqui dentro da WebGoal. Nunca concordou e o Granatum herda essa cultura porque não faz sentido nenhum.
E esse debate ele começa justamente nessa referência, porque ninguém era pai ainda ali, mas a gente é filho de mães, e eu por acaso fui criado por minha mãe solteira, então eu tenho muito claro qual é a realidade do Brasil e qual o peso e a carga de uma mãe nesse processo.
E todo mundo já tinha também isso. E a gente começa esse debate ali junto do nascimento da empresa, porque era muito importante pra nós, que a figura social do pai, e a gente não tinha tanto dado igual a gente tem um relatório, um monte de relatório recente que saiu agora sobre a presença do pai na primeira infância, e a gente tem enfim números para pautar que esse é o caminho mais correto da gente seguir, priorizando essa relação de pai. Então a gente sempre que isso vem a debate, desde esse momento.
Daí eu fui pai no meio desse caminho também, só que a minha figura aqui como sócio, talvez, e eu me me colocando sempre, eu sempre disse, deixei claro pra todo time, olha eu vou priorizar minha relação com meu filho e tudo mais. Mas ainda assim, existe como CEO, quando você é CEO, existe é uma visão de que eu tinha talvez um poder de poder viver isso com os meus filhos, por isso em 2019 a gente resolveu oficializar isso aqui. O Maurício ia ser pai, o Diego que é um ex parceiro nosso e também ia ser pai, e eu falei "pô vocês tem que tirar a licença paternidade. Ah de quanto tempo?”
E aí começou o debate e aí acho que o Maurício pode falar um pouco mais sobre isso daí.
Mauricio Matsuda
Eu acho que antes de falar sobre a licença paternidade, pegando o gancho um pouco do que o Floz comentou, a minha experiência, assim, de vida, pra quem não conhece, eu nasci e cresci no interior de São Paulo. Então em Itapiraí, eu cresci num sítio e lá eu vivi com meus pais e meus avós. Então era uma rotina, por mais que eles trabalhassem no sítio todos os dias, era uma rotina diferente do que eu vejo e vivo hoje no dia a dia de trabalho, ouvi as empresas e tal. Porque lá eu sempre, por mais que eles trabalhassem todos os dias, eu tinha contato praticamente o dia todo que eu tivesse em casa, eu tinha contato com eles, porque eles saíam pra roça, às vezes eu ia junto, ficava brincando na roça junto lá com meus pais ou ia ajudava eles em alguma coisa. Ou se eu ficasse em casa com a minha vó, por exemplo, no almoço, eles voltavam pra casa e eu tinha esse contato direto. Não era aquele negócio do tipo, ah vejo meus pais de manhãzinha, vou pra escola ou fico em casa, meus pais ficam trabalhando fora, eu só vou ver eles de noite. Então não era uma coisa assim.
Então eu sempre tive um contato muito próximo, muito perto deles o tempo todo. Então, não, não eu não tinha uma referência, não tinha uma visão de como era não ter os pais presentes no dia a dia. E aí quando depois que eu comecei a trabalhar, ainda por um bom tempo depois de casado, eu morei em Sorocaba e trabalhava em São Paulo no escritório. E aí eu viajava todo dia. Então acordava cedinho, pegava o ônibus, ia pra São Paulo, voltava pra casa já de noite. E aí meu tempo em casa era praticamente pra jantar e dormir.
E aí eu fiquei questionando isso. Será que isso é certo? E quando eu tiver uma filha, como vai ser esse processo? Porque é meio esquisito você trabalha pra ter uma vida boa, melhor, pra dar mais condições pra sua família, mas ao mesmo tempo você não consegue aproveitar. Tem que esperar passar os cinco dias de trabalho para chegar o fim de semana e aí você aproveitar a vida e com a família, aproveitar pra fazer as coisas. Não sei, na minha cabeça parece que essa conta não batia e até mesmo nesse processo da WebGoal, de como ela foi concebida, do que que a gente acreditava, eu também tive muita, nesse período todo, eu tive muita flexibilidade então, no começo, teve um tempo que eu trabalhei os cinco dias da semana em São Paulo, então viajava todos os dias, mas depois de um, dois anos assim, a gente já foi flexibilizando. Daí começou quatro dias, três dias, dois dias, até o de hoje que eu não sou mais obrigado a ir nenhum dia pra São Paulo. Eu vou quando eu quero ou quando eu preciso assim, por alguma questão, de acordo com o time e tal que a gente combina. Mas não tem uma obrigatoriedade mais pra ir pro escritório.
E aí isso começou a fazer mais sentido, porque eu consigo aproveitar mais, passar mais tempo com a minha família, ter mais esse contato no dia a dia, não só esse negócio de tipo, volto pra casa só pra jantar e dormir. Então é uma coisa bem, bem diferente. E aí como o Floz comentou, em 2019 eu ia ser pai, e aí a gente voltou de novo esse debate para tentar deixar mais claro pra todo mundo como que a gente acreditava que era. E era importante ter esse reforço e não deixar algo muito vago, do tipo, ah não mas, tira uns dias aí e vê quanto que você precisa e tal. E a gente sabe que se a gente não combina direito, não é bem assim que a gente começa. Ao invés de ajudar acaba atrapalhando, porque existe aquela expectativa do resto do time, do tipo quando ele vai voltar, se ele volta em uma semana, se ele volta em duas, em um mês, em dois meses. E até da pessoa que tá de licença, falar ah mas vou voltar, quero voltar, não quero voltar, tô aqui, mas ah se eu não, se eu demorar muito pra voltar vão achar que eu não tô afim de fazer as coisas e qualquer coisa do tipo.
Então, foi muito legal ter esse acordo. E aí a gente teve o acordo então de ter uma licença paternidade de três meses.
Eu acho que o legal disso é a importância disso, até como o Floz comentou, que a maternidade já é uma coisa muito pesada pra mãe e ele viveu, vivenciou isso, de quão pesado é, quando a mãe ainda não tem o apoio do pai nesse processo. E aí eu acho que, que é uma coisa muito doida assim, tipo sei lá, quando eu descobri que ia ser pai, a gente fica mexido. E aí depois que nasce parece que muda tudo assim, tipo tudo que a gente se preparou, tudo que a gente leu, tudo que a gente é, pesquisou e conversou com profissionais, conversou com outros pais assim, mas parece que tudo isso não foi suficiente para realmente eu entender o que que era ser pai, como que foi esse processo, como que é tipo você olhar lá e falar, nossa essa é minha filha e agora.
É uma coisa muito doida assim. Então é difícil assim, pra pessoas que não vivenciaram isso conseguir opinar, conseguir falar não, mas 3 meses é muita coisa, 3 meses é suficiente ou não é. Eu acho que esses três meses assim são fundamentais para que você entenda o que que é, o que que é ser pai, porque é um aprendizado constante.
É do tipo, sei lá uma semana, a primeira semana foi entendendo, nossa e agora né, a gente vai ter que dar banho sozinha nela, não tem mais enfermeira pra dar banho. E aí chora, aí o que que é? Por que que tá chorando? É fralda? É com fome? É frio tipo, sei lá teve um dia lá que acho que ela tava chorando porque tava com frio, que ela nasceu sem cabelinho, e era uma semana de muito frio assim. E até a gente entender. E aí é um processo porque vai mudando muita coisa durante esses primeiros meses, assim você acha que começou a entender tudinho, entendeu como que ela funciona, porque que chora, porque que não chora, quanto, como que faz pra dormir, quanto tempo dorme, aí muda tudo de novo. Quando você acha que está sob controle muda tudo de novo.
E eu acho que pra mãe, o mais difícil, ainda mais quando existe a amamentação, é que não tem hora, não tem. Se não tem alguém para dar o suporte, é do tipo, a mãe já tem que amamentar de nascer, mais ou menos a cada três horas, e aí imagina, a cada três horas, independente se é de dia de noite, a cada três horas. Então imagina você com um sono picotado a cada três horas e ainda assim, ter que cuidar da criança porque o pai não tá em casa. E o senso de alerta muda totalmente, tipo a gente sabe lá, ah eu durmo pesado, pode cair o mundo lá fora que eu não acordo. Depois que você vira pai, muda tudo. Caiu uma agulha no chão você já tipo, abre o olho, arregala o olho e fala o que que aconteceu? Tá tudo bem? Cadê minha filha?
Então é um processo bem cansativo, de muito aprendizado, de muita mudança. E eu acho que a gente, tendo essa oportunidade de dividir com a mãe, pra realmente fazer a nossa parte, eu não digo nem que é, acho que a gente usa o termo ajudar a mãe, acho que é errado. Eu acho que é a gente exercer a nossa parte como pai de uma criança. Então acho que é importante pra gente ter a tranquilidade de que a gente combinou na empresa que vou ficar fora três meses, pra eu realmente me dedicar exclusivamente ao cuidado da minha filha, ao cuidado da mãe também.
Então é uma coisa muito legal que aconteceu, que eu sou muito grato pela oportunidade de ter vivido isso com a minha filha. E eu acho que essa relação que a gente acaba criando com a de pai e filha, de mãe e filha e tal, é uma relação que a gente constrói desde esses primeiros dias, durante a infância toda, que se a gente não construir dificilmente a gente vai conseguir recuperar o tempo perdido. Então se a gente deixa pra depois, ah não, preciso trabalhar, preciso trabalhar mais pra comprar mais, porque agora tem uma pessoa nova, uma criança na família, então a gente vai gastar mais, então vou precisar trabalhar mais.
Só que eu acho que nenhum valor, nenhum dinheiro compra esse tempo precioso que a gente precisa dar e está presente com o filho, a filha. E aí eu acho que é isso, é uma coisa que é fundamental e precisa acontecer, não tem que esperar governo, não tem que esperar nada. Por que acho que a gente, se a gente tem condições de promover uma mudança, promover um comportamento diferente de construção de sociedade, de relações melhores, é importante a gente olhar pra isso sempre. Eu acho que é um equilíbrio que a gente sempre buscou na WebGoal e no Granatum, que é ter esse equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, porque uma coisa não vai viver sozinha sem a outra.
Flavio Logullo
E aí só é interessante falar, assim, a primeira coisa que se ouve um pai falando desse momento, e eu também tive exatamente essa mesma experiência, a pergunta é: por que não? Por que não ter mais tempo para o pai cuidar do filho? Porque tem muito a ver com isso, não é uma ajuda, o filho é dos dois. Eu tenho um monte de amigos aqui e um monte de pessoas conhecidas na minha rede, de pais que estão ali, vivendo a vida, que se separaram das mães e o filho ou a filha fica com a mãe, não participou desta primeira infância. E também é muito mais fácil seguir esse caminho e opinar inclusive, de que é um absurdo, o pai tem que trabalhar. Não existe isso. Aqui nunca existiu isso.
Esse debate aqui dentro, ele sempre foi muito pautado na nossa primeira linha do código de cultura do Granatum, que é herdado também da WebGoal, que é a existência precisa ser preservada. A gente precisa se respeitar, a nossa existência e a existência tem a ver com isso. Tem a ver com cultivar essas relações e estar presente nesses primeiros momentos.
E a coisa ela é tão bizarra porque, por si só, se você para pra pensar um pouquinho e raciocinar, ouvindo o depoimento de quem viveu isso, porque também vamos colocar um pouco de culpa na estrutura social que se construiu ao longo dos tempos, que esse afastamento do pai tem a ver obviamente com o patriarcado. Tem a ver com toda essa cultura machista que a gente vem construindo ao longo de séculos e que desemboca em um lugar onde o pai também, o homem, se sente ali com esse, esse privilégio de ter esse lugar, de que vai ser o provedor e pode se afastar do filho mas, isso por si só, ouvindo aqui o que a gente tem pra dizer, a experiência de quem viveu, já faria a gente se questionar. Por que? Por que não? Por que que a gente não pode ter esse tempo?
Mas antes de gravar esse episódio, como tá muito em, esse tópico ele volta, pra ser um debate social de novo aqui. Nesse momento a gente tá discutindo isso e a gente, além dos, os fatos humanos, existem os fatos econômicos, porque as pessoas, algumas pessoas ainda precisam comprovar. E é interessante, porque com os dados que a gente tem hoje, o economista James Heckman, que foi Nobel de economia, ele tem essa tese, ele defendeu essa tese durante muito, ele defende essa tese, de que o investimento na primeira infância, do zero aos seis anos de idade, o ROI do investimento, para cada dólar que você investe nisso, você tem um retorno pra sociedade de sete vezes. E isso é científico. Estou simplificando aqui só pra dar os números, mas existe de fato uma tese embasada.
O cara ganha o Nobel também por conta disso e, além de tudo, a gente socialmente vai ser melhor dentro dessa estrutura capitalista. A gente tem uma redução de taxa de violência, a gente tem uma redução de taxa de violência doméstica, de violência social. A gente tem muito, tem um monte de estudo recente, agosto agora, como esse assunto tá em voga, de resultado de pesquisa que comprovam isso, que a gente, desde lá atrás, só olhando pro lado humano investiu e acreditou nisso, se comprova agora também. E isso tem, basicamente, a ver com o que você, qual o propósito que você, você, o profissional, a empresa, o empreendedor tem para esse negócio com a sociedade, com a responsabilidade que você tem. E perceba que esse assunto, ele é tipo, tão embrionário.
E é interessante. O debate político, ele tá onde? Uma bancada com mulheres tá defendendo a licença paternidade e uma bancada de homens está lutando contra essa paternidade. Esse debate é tão bizarro. Por que se você falar em voz alta dá até vergonha, fala assim não. O pai tem que ficar cinco dias com o filho quando ele nasce, porque ele tem que produzir, porque ele tem que, é estranho demais.
Então dentro do Granatum a gente sempre teve esse debate. E aí a provocação que eu queria trazer, eu sugeri essa pauta aqui, porque eu acho que, então essa essa é uma das coisas que a gente tem que questionar, mas a gente tem que questionar todas as outras, A gente tem que questionar sim o formato de trabalho, se é remoto, se é presencial. A gente tem que questionar a diferença de disparidade de salário entre homens e mulheres. A gente tem que considerar tudo isso, inclusive, tem esses desdobramentos. Se o pai tem o mesmo custo de licença paternidade que a mulher. Qual é essa disparidade de salário? Por que não contratar também um pai? Por que não contratar a mulher, ao invés do homem? Por que ela tá na idade de ter filho? A gente ouve essas bizarrices aqui na sociedade. Eu já ouvi de pessoas próximas que são pra frente e eu sempre tento repreender, eu falo que que você tá falando? Olha isso! Esse debate ele constrói uma série de outros debates. Ele traz pra sociedade um movimento muito mais forte de transformação que a gente, a gente tem como dever ético, trazer pra se debater sobre tudo, sobre todas as coisas que estão postas aqui dentro. A gente faz, faz isso e a gente faz assim.
Então fica aí. Eu quis falar sobre isso porque esse debate, principalmente, eu tenho, uma questão com a empresa, ela não é responsável por cuidar das pessoas da empresa, as pessoas são responsáveis por se cuidar e por cuidar das pessoas também, mas esses debates que são estruturais, eles sim tem que ser trazidos para dentro de negócios como o nosso.
Mariana Prado
Como vocês podem ver, esse é um assunto que ainda vai render novos episódios por aqui, porque está muito ligado com coisas que a gente gosta de falar e de discutir. Então a gente fala, discute muito sobre o papel do Granatum não só enquanto empresa, enquanto negócio, mas também um papel social, um papel político, um papel de engajamento. As nossas filosofias, as nossas crenças, o que que impacta aqui dentro. E é importante a gente ter espaços de debates assim dentro da sociedade, para que a gente possa construir coisas diferentes.
Possibilitar que o pai ele esteja presente durante a primeira infância, isso não devia ser luxo e nem visto como um custo para empresa. Ele é um movimento de investimento profundo em vínculo, em cuidado, em equidade de gênero. E essa não é uma mudança que precisa ser liderada por uma legislação. Ela pode ter início dentro das próprias empresas que vão sinalizar pro mercado que tanto homens como mulheres podem se ausentar, por responsabilidade familiar.
E aí, conta pra gente como funciona a licença no lugar que você trabalha. Compartilha suas experiências que a gente tá aqui curioso pra te ouvir. Esse foi mais um Código Granatum e a gente espera você na semana que vem.
Mariana Prado
Você está ouvindo Código Granatum, conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente, e aqui comigo, Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum e o Maurício Matsuda, nosso CTO.
Toda empresa tem seus acordos, combinados, para que a dinâmica do dia a dia funcione, as tarefas sejam realizadas, as pessoas saibam como agir em cada situação. E quando a gente olha para os acordos que a gente tem aqui no Granatum, eles são um reflexo da nossa cultura.
Enquanto o mercado e o governo estão discutindo sobre estender a licença paternidade de cinco para vinte dias, o Granatum já tem um acordo de licença paternidade de três meses desde 2019, quando o Maurício e um outro colaborador do time iriam viver esse momento. E esse debate começou bem antes, desde o surgimento do Granatum, esse tema tá sempre ali em pauta.
Floz e Mau, eu queria que vocês contassem um pouco mais pro pessoal aqui como funciona a licença paternidade do Granatum e como que a gente organizou para que o Maurício e o Diego pudessem viver esse momento. E pro Maurício contar também um pouquinho como foi a experiência dele nesse momento.
Flavio Logullo
Você sabe que quando a gente fundou a WebGoal, então éramos cinco sócios lá no começo e a gente só tinha o Jeff, que é um dos sócios, que tinha filho, então a pauta de priorize as prioridades, cara vai lá viver com seu filho, vai cuidar do seu filho, nasceu junto com com a WebGoal. Então eu vou voltar ainda um pouco mais, o porquê da gente criar esse negócio, de onde vem, de onde nasce o Granatum.
A gente criou a WebGoal pra meio que trabalhar de um jeito diferente do que a gente vinha trabalhando há anos e anos na indústria de software. Então isso já era um exercício de pensar, repensar o que é que a gente tava fazendo e o propósito de tudo que a gente tava fazendo, porque o debate que a gente tinha na última empresa que a gente trabalhou junto, que era que tinha um processo fabril de software e a gente tem essa pegada de entender que o software tem a ver com ser, tanto que a gente tem o Ateliê de Software, então ser uma atividade muito de artesão, de você colocar ali a sua personalidade o jeito que você pensa no software.
A gente questiona esse modelo desde o começo, desde antes da empresa nascer e a gente entendeu desde muito cedo que a empresa é uma ferramenta que a gente tem de causar de fato um impacto social, o impacto na sociedade. E é engraçado porque agora a gente ouve muito: você tem que deixar o seu legado, você tem que construir um negócio, você tem que marcar, você tem que construir o seu legado. E a gente tinha muito disso, porque a gente vivia nesse meio do empreendedorismo, onde isso sempre foi muito dito por quê? Por que você construir uma empresa, algo grandioso, algo que te brilhe os olhos, que você tenha vontade de acordar todos os dias, ir pra esse lugar e construir esse lugar, ele vai muito além de ganhar dinheiro. Ele vai, ele tem que ir, porque quando você começa a ganhar dinheiro você percebe que sentido que faz isso no final das contas? Claro que ganhar dinheiro é muito importante, a gente discute sobre isso, a gente trabalha e tem um negócio com fins lucrativos, então a gente quer ganhar dinheiro sim, só que o que motiva a gente dia a dia é realmente entender qual é o propósito de tudo que a gente põe. Então a gente questionava tudo que estava ali na sociedade e na estrutura das empresas, desde a própria estrutura, onde a gente não tem uma hierarquia. E hoje, depois de muitos anos, eu posso garantir que funciona. A gente tem um negócio super lucrativo. A gente tem negócios super lucrativos que não tem uma hierarquia e que tem um modelo totalmente distinto.
Esse é o objetivo desse podcast inclusive, de trazer, abrir um pouco do que é o nosso código de verdade, o que é a gente de verdade. E lá pra trás, uma das coisas que a gente entendeu muito cedo é de que a estrutura social ela começa justamente nas relações que a gente cultiva. E as relações que a gente cultiva principalmente entre nossos pares. E os nossos principais pares são os nossos pares diários, quem a gente escolhe pra ser a nossa família. A família que a gente constrói, a nossa própria família de sangue, como é que a gente se relaciona com eles, como é que a gente prioriza eles no dia a dia.
Por que a estrutura social, a estrutura de negócio, ela não prioriza a relação de família, muito pelo contrário. Está vendo aí tem os ícones do empreendedorismo falando que você tem que esquecer a sua família porque a gente vai bater a meta agora. São absurdos que a gente nunca concordou aqui dentro da WebGoal. Nunca concordou e o Granatum herda essa cultura porque não faz sentido nenhum.
E esse debate ele começa justamente nessa referência, porque ninguém era pai ainda ali, mas a gente é filho de mães, e eu por acaso fui criado por minha mãe solteira, então eu tenho muito claro qual é a realidade do Brasil e qual o peso e a carga de uma mãe nesse processo.
E todo mundo já tinha também isso. E a gente começa esse debate ali junto do nascimento da empresa, porque era muito importante pra nós, que a figura social do pai, e a gente não tinha tanto dado igual a gente tem um relatório, um monte de relatório recente que saiu agora sobre a presença do pai na primeira infância, e a gente tem enfim números para pautar que esse é o caminho mais correto da gente seguir, priorizando essa relação de pai. Então a gente sempre que isso vem a debate, desde esse momento.
Daí eu fui pai no meio desse caminho também, só que a minha figura aqui como sócio, talvez, e eu me me colocando sempre, eu sempre disse, deixei claro pra todo time, olha eu vou priorizar minha relação com meu filho e tudo mais. Mas ainda assim, existe como CEO, quando você é CEO, existe é uma visão de que eu tinha talvez um poder de poder viver isso com os meus filhos, por isso em 2019 a gente resolveu oficializar isso aqui. O Maurício ia ser pai, o Diego que é um ex parceiro nosso e também ia ser pai, e eu falei "pô vocês tem que tirar a licença paternidade. Ah de quanto tempo?”
E aí começou o debate e aí acho que o Maurício pode falar um pouco mais sobre isso daí.
Mauricio Matsuda
Eu acho que antes de falar sobre a licença paternidade, pegando o gancho um pouco do que o Floz comentou, a minha experiência, assim, de vida, pra quem não conhece, eu nasci e cresci no interior de São Paulo. Então em Itapiraí, eu cresci num sítio e lá eu vivi com meus pais e meus avós. Então era uma rotina, por mais que eles trabalhassem no sítio todos os dias, era uma rotina diferente do que eu vejo e vivo hoje no dia a dia de trabalho, ouvi as empresas e tal. Porque lá eu sempre, por mais que eles trabalhassem todos os dias, eu tinha contato praticamente o dia todo que eu tivesse em casa, eu tinha contato com eles, porque eles saíam pra roça, às vezes eu ia junto, ficava brincando na roça junto lá com meus pais ou ia ajudava eles em alguma coisa. Ou se eu ficasse em casa com a minha vó, por exemplo, no almoço, eles voltavam pra casa e eu tinha esse contato direto. Não era aquele negócio do tipo, ah vejo meus pais de manhãzinha, vou pra escola ou fico em casa, meus pais ficam trabalhando fora, eu só vou ver eles de noite. Então não era uma coisa assim.
Então eu sempre tive um contato muito próximo, muito perto deles o tempo todo. Então, não, não eu não tinha uma referência, não tinha uma visão de como era não ter os pais presentes no dia a dia. E aí quando depois que eu comecei a trabalhar, ainda por um bom tempo depois de casado, eu morei em Sorocaba e trabalhava em São Paulo no escritório. E aí eu viajava todo dia. Então acordava cedinho, pegava o ônibus, ia pra São Paulo, voltava pra casa já de noite. E aí meu tempo em casa era praticamente pra jantar e dormir.
E aí eu fiquei questionando isso. Será que isso é certo? E quando eu tiver uma filha, como vai ser esse processo? Porque é meio esquisito você trabalha pra ter uma vida boa, melhor, pra dar mais condições pra sua família, mas ao mesmo tempo você não consegue aproveitar. Tem que esperar passar os cinco dias de trabalho para chegar o fim de semana e aí você aproveitar a vida e com a família, aproveitar pra fazer as coisas. Não sei, na minha cabeça parece que essa conta não batia e até mesmo nesse processo da WebGoal, de como ela foi concebida, do que que a gente acreditava, eu também tive muita, nesse período todo, eu tive muita flexibilidade então, no começo, teve um tempo que eu trabalhei os cinco dias da semana em São Paulo, então viajava todos os dias, mas depois de um, dois anos assim, a gente já foi flexibilizando. Daí começou quatro dias, três dias, dois dias, até o de hoje que eu não sou mais obrigado a ir nenhum dia pra São Paulo. Eu vou quando eu quero ou quando eu preciso assim, por alguma questão, de acordo com o time e tal que a gente combina. Mas não tem uma obrigatoriedade mais pra ir pro escritório.
E aí isso começou a fazer mais sentido, porque eu consigo aproveitar mais, passar mais tempo com a minha família, ter mais esse contato no dia a dia, não só esse negócio de tipo, volto pra casa só pra jantar e dormir. Então é uma coisa bem, bem diferente. E aí como o Floz comentou, em 2019 eu ia ser pai, e aí a gente voltou de novo esse debate para tentar deixar mais claro pra todo mundo como que a gente acreditava que era. E era importante ter esse reforço e não deixar algo muito vago, do tipo, ah não mas, tira uns dias aí e vê quanto que você precisa e tal. E a gente sabe que se a gente não combina direito, não é bem assim que a gente começa. Ao invés de ajudar acaba atrapalhando, porque existe aquela expectativa do resto do time, do tipo quando ele vai voltar, se ele volta em uma semana, se ele volta em duas, em um mês, em dois meses. E até da pessoa que tá de licença, falar ah mas vou voltar, quero voltar, não quero voltar, tô aqui, mas ah se eu não, se eu demorar muito pra voltar vão achar que eu não tô afim de fazer as coisas e qualquer coisa do tipo.
Então, foi muito legal ter esse acordo. E aí a gente teve o acordo então de ter uma licença paternidade de três meses.
Eu acho que o legal disso é a importância disso, até como o Floz comentou, que a maternidade já é uma coisa muito pesada pra mãe e ele viveu, vivenciou isso, de quão pesado é, quando a mãe ainda não tem o apoio do pai nesse processo. E aí eu acho que, que é uma coisa muito doida assim, tipo sei lá, quando eu descobri que ia ser pai, a gente fica mexido. E aí depois que nasce parece que muda tudo assim, tipo tudo que a gente se preparou, tudo que a gente leu, tudo que a gente é, pesquisou e conversou com profissionais, conversou com outros pais assim, mas parece que tudo isso não foi suficiente para realmente eu entender o que que era ser pai, como que foi esse processo, como que é tipo você olhar lá e falar, nossa essa é minha filha e agora.
É uma coisa muito doida assim. Então é difícil assim, pra pessoas que não vivenciaram isso conseguir opinar, conseguir falar não, mas 3 meses é muita coisa, 3 meses é suficiente ou não é. Eu acho que esses três meses assim são fundamentais para que você entenda o que que é, o que que é ser pai, porque é um aprendizado constante.
É do tipo, sei lá uma semana, a primeira semana foi entendendo, nossa e agora né, a gente vai ter que dar banho sozinha nela, não tem mais enfermeira pra dar banho. E aí chora, aí o que que é? Por que que tá chorando? É fralda? É com fome? É frio tipo, sei lá teve um dia lá que acho que ela tava chorando porque tava com frio, que ela nasceu sem cabelinho, e era uma semana de muito frio assim. E até a gente entender. E aí é um processo porque vai mudando muita coisa durante esses primeiros meses, assim você acha que começou a entender tudinho, entendeu como que ela funciona, porque que chora, porque que não chora, quanto, como que faz pra dormir, quanto tempo dorme, aí muda tudo de novo. Quando você acha que está sob controle muda tudo de novo.
E eu acho que pra mãe, o mais difícil, ainda mais quando existe a amamentação, é que não tem hora, não tem. Se não tem alguém para dar o suporte, é do tipo, a mãe já tem que amamentar de nascer, mais ou menos a cada três horas, e aí imagina, a cada três horas, independente se é de dia de noite, a cada três horas. Então imagina você com um sono picotado a cada três horas e ainda assim, ter que cuidar da criança porque o pai não tá em casa. E o senso de alerta muda totalmente, tipo a gente sabe lá, ah eu durmo pesado, pode cair o mundo lá fora que eu não acordo. Depois que você vira pai, muda tudo. Caiu uma agulha no chão você já tipo, abre o olho, arregala o olho e fala o que que aconteceu? Tá tudo bem? Cadê minha filha?
Então é um processo bem cansativo, de muito aprendizado, de muita mudança. E eu acho que a gente, tendo essa oportunidade de dividir com a mãe, pra realmente fazer a nossa parte, eu não digo nem que é, acho que a gente usa o termo ajudar a mãe, acho que é errado. Eu acho que é a gente exercer a nossa parte como pai de uma criança. Então acho que é importante pra gente ter a tranquilidade de que a gente combinou na empresa que vou ficar fora três meses, pra eu realmente me dedicar exclusivamente ao cuidado da minha filha, ao cuidado da mãe também.
Então é uma coisa muito legal que aconteceu, que eu sou muito grato pela oportunidade de ter vivido isso com a minha filha. E eu acho que essa relação que a gente acaba criando com a de pai e filha, de mãe e filha e tal, é uma relação que a gente constrói desde esses primeiros dias, durante a infância toda, que se a gente não construir dificilmente a gente vai conseguir recuperar o tempo perdido. Então se a gente deixa pra depois, ah não, preciso trabalhar, preciso trabalhar mais pra comprar mais, porque agora tem uma pessoa nova, uma criança na família, então a gente vai gastar mais, então vou precisar trabalhar mais.
Só que eu acho que nenhum valor, nenhum dinheiro compra esse tempo precioso que a gente precisa dar e está presente com o filho, a filha. E aí eu acho que é isso, é uma coisa que é fundamental e precisa acontecer, não tem que esperar governo, não tem que esperar nada. Por que acho que a gente, se a gente tem condições de promover uma mudança, promover um comportamento diferente de construção de sociedade, de relações melhores, é importante a gente olhar pra isso sempre. Eu acho que é um equilíbrio que a gente sempre buscou na WebGoal e no Granatum, que é ter esse equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, porque uma coisa não vai viver sozinha sem a outra.
Flavio Logullo
E aí só é interessante falar, assim, a primeira coisa que se ouve um pai falando desse momento, e eu também tive exatamente essa mesma experiência, a pergunta é: por que não? Por que não ter mais tempo para o pai cuidar do filho? Porque tem muito a ver com isso, não é uma ajuda, o filho é dos dois. Eu tenho um monte de amigos aqui e um monte de pessoas conhecidas na minha rede, de pais que estão ali, vivendo a vida, que se separaram das mães e o filho ou a filha fica com a mãe, não participou desta primeira infância. E também é muito mais fácil seguir esse caminho e opinar inclusive, de que é um absurdo, o pai tem que trabalhar. Não existe isso. Aqui nunca existiu isso.
Esse debate aqui dentro, ele sempre foi muito pautado na nossa primeira linha do código de cultura do Granatum, que é herdado também da WebGoal, que é a existência precisa ser preservada. A gente precisa se respeitar, a nossa existência e a existência tem a ver com isso. Tem a ver com cultivar essas relações e estar presente nesses primeiros momentos.
E a coisa ela é tão bizarra porque, por si só, se você para pra pensar um pouquinho e raciocinar, ouvindo o depoimento de quem viveu isso, porque também vamos colocar um pouco de culpa na estrutura social que se construiu ao longo dos tempos, que esse afastamento do pai tem a ver obviamente com o patriarcado. Tem a ver com toda essa cultura machista que a gente vem construindo ao longo de séculos e que desemboca em um lugar onde o pai também, o homem, se sente ali com esse, esse privilégio de ter esse lugar, de que vai ser o provedor e pode se afastar do filho mas, isso por si só, ouvindo aqui o que a gente tem pra dizer, a experiência de quem viveu, já faria a gente se questionar. Por que? Por que não? Por que que a gente não pode ter esse tempo?
Mas antes de gravar esse episódio, como tá muito em, esse tópico ele volta, pra ser um debate social de novo aqui. Nesse momento a gente tá discutindo isso e a gente, além dos, os fatos humanos, existem os fatos econômicos, porque as pessoas, algumas pessoas ainda precisam comprovar. E é interessante, porque com os dados que a gente tem hoje, o economista James Heckman, que foi Nobel de economia, ele tem essa tese, ele defendeu essa tese durante muito, ele defende essa tese, de que o investimento na primeira infância, do zero aos seis anos de idade, o ROI do investimento, para cada dólar que você investe nisso, você tem um retorno pra sociedade de sete vezes. E isso é científico. Estou simplificando aqui só pra dar os números, mas existe de fato uma tese embasada.
O cara ganha o Nobel também por conta disso e, além de tudo, a gente socialmente vai ser melhor dentro dessa estrutura capitalista. A gente tem uma redução de taxa de violência, a gente tem uma redução de taxa de violência doméstica, de violência social. A gente tem muito, tem um monte de estudo recente, agosto agora, como esse assunto tá em voga, de resultado de pesquisa que comprovam isso, que a gente, desde lá atrás, só olhando pro lado humano investiu e acreditou nisso, se comprova agora também. E isso tem, basicamente, a ver com o que você, qual o propósito que você, você, o profissional, a empresa, o empreendedor tem para esse negócio com a sociedade, com a responsabilidade que você tem. E perceba que esse assunto, ele é tipo, tão embrionário.
E é interessante. O debate político, ele tá onde? Uma bancada com mulheres tá defendendo a licença paternidade e uma bancada de homens está lutando contra essa paternidade. Esse debate é tão bizarro. Por que se você falar em voz alta dá até vergonha, fala assim não. O pai tem que ficar cinco dias com o filho quando ele nasce, porque ele tem que produzir, porque ele tem que, é estranho demais.
Então dentro do Granatum a gente sempre teve esse debate. E aí a provocação que eu queria trazer, eu sugeri essa pauta aqui, porque eu acho que, então essa essa é uma das coisas que a gente tem que questionar, mas a gente tem que questionar todas as outras, A gente tem que questionar sim o formato de trabalho, se é remoto, se é presencial. A gente tem que questionar a diferença de disparidade de salário entre homens e mulheres. A gente tem que considerar tudo isso, inclusive, tem esses desdobramentos. Se o pai tem o mesmo custo de licença paternidade que a mulher. Qual é essa disparidade de salário? Por que não contratar também um pai? Por que não contratar a mulher, ao invés do homem? Por que ela tá na idade de ter filho? A gente ouve essas bizarrices aqui na sociedade. Eu já ouvi de pessoas próximas que são pra frente e eu sempre tento repreender, eu falo que que você tá falando? Olha isso! Esse debate ele constrói uma série de outros debates. Ele traz pra sociedade um movimento muito mais forte de transformação que a gente, a gente tem como dever ético, trazer pra se debater sobre tudo, sobre todas as coisas que estão postas aqui dentro. A gente faz, faz isso e a gente faz assim.
Então fica aí. Eu quis falar sobre isso porque esse debate, principalmente, eu tenho, uma questão com a empresa, ela não é responsável por cuidar das pessoas da empresa, as pessoas são responsáveis por se cuidar e por cuidar das pessoas também, mas esses debates que são estruturais, eles sim tem que ser trazidos para dentro de negócios como o nosso.
Mariana Prado
Como vocês podem ver, esse é um assunto que ainda vai render novos episódios por aqui, porque está muito ligado com coisas que a gente gosta de falar e de discutir. Então a gente fala, discute muito sobre o papel do Granatum não só enquanto empresa, enquanto negócio, mas também um papel social, um papel político, um papel de engajamento. As nossas filosofias, as nossas crenças, o que que impacta aqui dentro. E é importante a gente ter espaços de debates assim dentro da sociedade, para que a gente possa construir coisas diferentes.
Possibilitar que o pai ele esteja presente durante a primeira infância, isso não devia ser luxo e nem visto como um custo para empresa. Ele é um movimento de investimento profundo em vínculo, em cuidado, em equidade de gênero. E essa não é uma mudança que precisa ser liderada por uma legislação. Ela pode ter início dentro das próprias empresas que vão sinalizar pro mercado que tanto homens como mulheres podem se ausentar, por responsabilidade familiar.
E aí, conta pra gente como funciona a licença no lugar que você trabalha. Compartilha suas experiências que a gente tá aqui curioso pra te ouvir. Esse foi mais um Código Granatum e a gente espera você na semana que vem.
Mariana Prado
Você está ouvindo Código Granatum, conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do cliente, e aqui comigo, Flávio Logullo, um dos cofundadores do Granatum e o Maurício Matsuda, nosso CTO.
Toda empresa tem seus acordos, combinados, para que a dinâmica do dia a dia funcione, as tarefas sejam realizadas, as pessoas saibam como agir em cada situação. E quando a gente olha para os acordos que a gente tem aqui no Granatum, eles são um reflexo da nossa cultura.
Enquanto o mercado e o governo estão discutindo sobre estender a licença paternidade de cinco para vinte dias, o Granatum já tem um acordo de licença paternidade de três meses desde 2019, quando o Maurício e um outro colaborador do time iriam viver esse momento. E esse debate começou bem antes, desde o surgimento do Granatum, esse tema tá sempre ali em pauta.
Floz e Mau, eu queria que vocês contassem um pouco mais pro pessoal aqui como funciona a licença paternidade do Granatum e como que a gente organizou para que o Maurício e o Diego pudessem viver esse momento. E pro Maurício contar também um pouquinho como foi a experiência dele nesse momento.
Flavio Logullo
Você sabe que quando a gente fundou a WebGoal, então éramos cinco sócios lá no começo e a gente só tinha o Jeff, que é um dos sócios, que tinha filho, então a pauta de priorize as prioridades, cara vai lá viver com seu filho, vai cuidar do seu filho, nasceu junto com com a WebGoal. Então eu vou voltar ainda um pouco mais, o porquê da gente criar esse negócio, de onde vem, de onde nasce o Granatum.
A gente criou a WebGoal pra meio que trabalhar de um jeito diferente do que a gente vinha trabalhando há anos e anos na indústria de software. Então isso já era um exercício de pensar, repensar o que é que a gente tava fazendo e o propósito de tudo que a gente tava fazendo, porque o debate que a gente tinha na última empresa que a gente trabalhou junto, que era que tinha um processo fabril de software e a gente tem essa pegada de entender que o software tem a ver com ser, tanto que a gente tem o Ateliê de Software, então ser uma atividade muito de artesão, de você colocar ali a sua personalidade o jeito que você pensa no software.
A gente questiona esse modelo desde o começo, desde antes da empresa nascer e a gente entendeu desde muito cedo que a empresa é uma ferramenta que a gente tem de causar de fato um impacto social, o impacto na sociedade. E é engraçado porque agora a gente ouve muito: você tem que deixar o seu legado, você tem que construir um negócio, você tem que marcar, você tem que construir o seu legado. E a gente tinha muito disso, porque a gente vivia nesse meio do empreendedorismo, onde isso sempre foi muito dito por quê? Por que você construir uma empresa, algo grandioso, algo que te brilhe os olhos, que você tenha vontade de acordar todos os dias, ir pra esse lugar e construir esse lugar, ele vai muito além de ganhar dinheiro. Ele vai, ele tem que ir, porque quando você começa a ganhar dinheiro você percebe que sentido que faz isso no final das contas? Claro que ganhar dinheiro é muito importante, a gente discute sobre isso, a gente trabalha e tem um negócio com fins lucrativos, então a gente quer ganhar dinheiro sim, só que o que motiva a gente dia a dia é realmente entender qual é o propósito de tudo que a gente põe. Então a gente questionava tudo que estava ali na sociedade e na estrutura das empresas, desde a própria estrutura, onde a gente não tem uma hierarquia. E hoje, depois de muitos anos, eu posso garantir que funciona. A gente tem um negócio super lucrativo. A gente tem negócios super lucrativos que não tem uma hierarquia e que tem um modelo totalmente distinto.
Esse é o objetivo desse podcast inclusive, de trazer, abrir um pouco do que é o nosso código de verdade, o que é a gente de verdade. E lá pra trás, uma das coisas que a gente entendeu muito cedo é de que a estrutura social ela começa justamente nas relações que a gente cultiva. E as relações que a gente cultiva principalmente entre nossos pares. E os nossos principais pares são os nossos pares diários, quem a gente escolhe pra ser a nossa família. A família que a gente constrói, a nossa própria família de sangue, como é que a gente se relaciona com eles, como é que a gente prioriza eles no dia a dia.
Por que a estrutura social, a estrutura de negócio, ela não prioriza a relação de família, muito pelo contrário. Está vendo aí tem os ícones do empreendedorismo falando que você tem que esquecer a sua família porque a gente vai bater a meta agora. São absurdos que a gente nunca concordou aqui dentro da WebGoal. Nunca concordou e o Granatum herda essa cultura porque não faz sentido nenhum.
E esse debate ele começa justamente nessa referência, porque ninguém era pai ainda ali, mas a gente é filho de mães, e eu por acaso fui criado por minha mãe solteira, então eu tenho muito claro qual é a realidade do Brasil e qual o peso e a carga de uma mãe nesse processo.
E todo mundo já tinha também isso. E a gente começa esse debate ali junto do nascimento da empresa, porque era muito importante pra nós, que a figura social do pai, e a gente não tinha tanto dado igual a gente tem um relatório, um monte de relatório recente que saiu agora sobre a presença do pai na primeira infância, e a gente tem enfim números para pautar que esse é o caminho mais correto da gente seguir, priorizando essa relação de pai. Então a gente sempre que isso vem a debate, desde esse momento.
Daí eu fui pai no meio desse caminho também, só que a minha figura aqui como sócio, talvez, e eu me me colocando sempre, eu sempre disse, deixei claro pra todo time, olha eu vou priorizar minha relação com meu filho e tudo mais. Mas ainda assim, existe como CEO, quando você é CEO, existe é uma visão de que eu tinha talvez um poder de poder viver isso com os meus filhos, por isso em 2019 a gente resolveu oficializar isso aqui. O Maurício ia ser pai, o Diego que é um ex parceiro nosso e também ia ser pai, e eu falei "pô vocês tem que tirar a licença paternidade. Ah de quanto tempo?”
E aí começou o debate e aí acho que o Maurício pode falar um pouco mais sobre isso daí.
Mauricio Matsuda
Eu acho que antes de falar sobre a licença paternidade, pegando o gancho um pouco do que o Floz comentou, a minha experiência, assim, de vida, pra quem não conhece, eu nasci e cresci no interior de São Paulo. Então em Itapiraí, eu cresci num sítio e lá eu vivi com meus pais e meus avós. Então era uma rotina, por mais que eles trabalhassem no sítio todos os dias, era uma rotina diferente do que eu vejo e vivo hoje no dia a dia de trabalho, ouvi as empresas e tal. Porque lá eu sempre, por mais que eles trabalhassem todos os dias, eu tinha contato praticamente o dia todo que eu tivesse em casa, eu tinha contato com eles, porque eles saíam pra roça, às vezes eu ia junto, ficava brincando na roça junto lá com meus pais ou ia ajudava eles em alguma coisa. Ou se eu ficasse em casa com a minha vó, por exemplo, no almoço, eles voltavam pra casa e eu tinha esse contato direto. Não era aquele negócio do tipo, ah vejo meus pais de manhãzinha, vou pra escola ou fico em casa, meus pais ficam trabalhando fora, eu só vou ver eles de noite. Então não era uma coisa assim.
Então eu sempre tive um contato muito próximo, muito perto deles o tempo todo. Então, não, não eu não tinha uma referência, não tinha uma visão de como era não ter os pais presentes no dia a dia. E aí quando depois que eu comecei a trabalhar, ainda por um bom tempo depois de casado, eu morei em Sorocaba e trabalhava em São Paulo no escritório. E aí eu viajava todo dia. Então acordava cedinho, pegava o ônibus, ia pra São Paulo, voltava pra casa já de noite. E aí meu tempo em casa era praticamente pra jantar e dormir.
E aí eu fiquei questionando isso. Será que isso é certo? E quando eu tiver uma filha, como vai ser esse processo? Porque é meio esquisito você trabalha pra ter uma vida boa, melhor, pra dar mais condições pra sua família, mas ao mesmo tempo você não consegue aproveitar. Tem que esperar passar os cinco dias de trabalho para chegar o fim de semana e aí você aproveitar a vida e com a família, aproveitar pra fazer as coisas. Não sei, na minha cabeça parece que essa conta não batia e até mesmo nesse processo da WebGoal, de como ela foi concebida, do que que a gente acreditava, eu também tive muita, nesse período todo, eu tive muita flexibilidade então, no começo, teve um tempo que eu trabalhei os cinco dias da semana em São Paulo, então viajava todos os dias, mas depois de um, dois anos assim, a gente já foi flexibilizando. Daí começou quatro dias, três dias, dois dias, até o de hoje que eu não sou mais obrigado a ir nenhum dia pra São Paulo. Eu vou quando eu quero ou quando eu preciso assim, por alguma questão, de acordo com o time e tal que a gente combina. Mas não tem uma obrigatoriedade mais pra ir pro escritório.
E aí isso começou a fazer mais sentido, porque eu consigo aproveitar mais, passar mais tempo com a minha família, ter mais esse contato no dia a dia, não só esse negócio de tipo, volto pra casa só pra jantar e dormir. Então é uma coisa bem, bem diferente. E aí como o Floz comentou, em 2019 eu ia ser pai, e aí a gente voltou de novo esse debate para tentar deixar mais claro pra todo mundo como que a gente acreditava que era. E era importante ter esse reforço e não deixar algo muito vago, do tipo, ah não mas, tira uns dias aí e vê quanto que você precisa e tal. E a gente sabe que se a gente não combina direito, não é bem assim que a gente começa. Ao invés de ajudar acaba atrapalhando, porque existe aquela expectativa do resto do time, do tipo quando ele vai voltar, se ele volta em uma semana, se ele volta em duas, em um mês, em dois meses. E até da pessoa que tá de licença, falar ah mas vou voltar, quero voltar, não quero voltar, tô aqui, mas ah se eu não, se eu demorar muito pra voltar vão achar que eu não tô afim de fazer as coisas e qualquer coisa do tipo.
Então, foi muito legal ter esse acordo. E aí a gente teve o acordo então de ter uma licença paternidade de três meses.
Eu acho que o legal disso é a importância disso, até como o Floz comentou, que a maternidade já é uma coisa muito pesada pra mãe e ele viveu, vivenciou isso, de quão pesado é, quando a mãe ainda não tem o apoio do pai nesse processo. E aí eu acho que, que é uma coisa muito doida assim, tipo sei lá, quando eu descobri que ia ser pai, a gente fica mexido. E aí depois que nasce parece que muda tudo assim, tipo tudo que a gente se preparou, tudo que a gente leu, tudo que a gente é, pesquisou e conversou com profissionais, conversou com outros pais assim, mas parece que tudo isso não foi suficiente para realmente eu entender o que que era ser pai, como que foi esse processo, como que é tipo você olhar lá e falar, nossa essa é minha filha e agora.
É uma coisa muito doida assim. Então é difícil assim, pra pessoas que não vivenciaram isso conseguir opinar, conseguir falar não, mas 3 meses é muita coisa, 3 meses é suficiente ou não é. Eu acho que esses três meses assim são fundamentais para que você entenda o que que é, o que que é ser pai, porque é um aprendizado constante.
É do tipo, sei lá uma semana, a primeira semana foi entendendo, nossa e agora né, a gente vai ter que dar banho sozinha nela, não tem mais enfermeira pra dar banho. E aí chora, aí o que que é? Por que que tá chorando? É fralda? É com fome? É frio tipo, sei lá teve um dia lá que acho que ela tava chorando porque tava com frio, que ela nasceu sem cabelinho, e era uma semana de muito frio assim. E até a gente entender. E aí é um processo porque vai mudando muita coisa durante esses primeiros meses, assim você acha que começou a entender tudinho, entendeu como que ela funciona, porque que chora, porque que não chora, quanto, como que faz pra dormir, quanto tempo dorme, aí muda tudo de novo. Quando você acha que está sob controle muda tudo de novo.
E eu acho que pra mãe, o mais difícil, ainda mais quando existe a amamentação, é que não tem hora, não tem. Se não tem alguém para dar o suporte, é do tipo, a mãe já tem que amamentar de nascer, mais ou menos a cada três horas, e aí imagina, a cada três horas, independente se é de dia de noite, a cada três horas. Então imagina você com um sono picotado a cada três horas e ainda assim, ter que cuidar da criança porque o pai não tá em casa. E o senso de alerta muda totalmente, tipo a gente sabe lá, ah eu durmo pesado, pode cair o mundo lá fora que eu não acordo. Depois que você vira pai, muda tudo. Caiu uma agulha no chão você já tipo, abre o olho, arregala o olho e fala o que que aconteceu? Tá tudo bem? Cadê minha filha?
Então é um processo bem cansativo, de muito aprendizado, de muita mudança. E eu acho que a gente, tendo essa oportunidade de dividir com a mãe, pra realmente fazer a nossa parte, eu não digo nem que é, acho que a gente usa o termo ajudar a mãe, acho que é errado. Eu acho que é a gente exercer a nossa parte como pai de uma criança. Então acho que é importante pra gente ter a tranquilidade de que a gente combinou na empresa que vou ficar fora três meses, pra eu realmente me dedicar exclusivamente ao cuidado da minha filha, ao cuidado da mãe também.
Então é uma coisa muito legal que aconteceu, que eu sou muito grato pela oportunidade de ter vivido isso com a minha filha. E eu acho que essa relação que a gente acaba criando com a de pai e filha, de mãe e filha e tal, é uma relação que a gente constrói desde esses primeiros dias, durante a infância toda, que se a gente não construir dificilmente a gente vai conseguir recuperar o tempo perdido. Então se a gente deixa pra depois, ah não, preciso trabalhar, preciso trabalhar mais pra comprar mais, porque agora tem uma pessoa nova, uma criança na família, então a gente vai gastar mais, então vou precisar trabalhar mais.
Só que eu acho que nenhum valor, nenhum dinheiro compra esse tempo precioso que a gente precisa dar e está presente com o filho, a filha. E aí eu acho que é isso, é uma coisa que é fundamental e precisa acontecer, não tem que esperar governo, não tem que esperar nada. Por que acho que a gente, se a gente tem condições de promover uma mudança, promover um comportamento diferente de construção de sociedade, de relações melhores, é importante a gente olhar pra isso sempre. Eu acho que é um equilíbrio que a gente sempre buscou na WebGoal e no Granatum, que é ter esse equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, porque uma coisa não vai viver sozinha sem a outra.
Flavio Logullo
E aí só é interessante falar, assim, a primeira coisa que se ouve um pai falando desse momento, e eu também tive exatamente essa mesma experiência, a pergunta é: por que não? Por que não ter mais tempo para o pai cuidar do filho? Porque tem muito a ver com isso, não é uma ajuda, o filho é dos dois. Eu tenho um monte de amigos aqui e um monte de pessoas conhecidas na minha rede, de pais que estão ali, vivendo a vida, que se separaram das mães e o filho ou a filha fica com a mãe, não participou desta primeira infância. E também é muito mais fácil seguir esse caminho e opinar inclusive, de que é um absurdo, o pai tem que trabalhar. Não existe isso. Aqui nunca existiu isso.
Esse debate aqui dentro, ele sempre foi muito pautado na nossa primeira linha do código de cultura do Granatum, que é herdado também da WebGoal, que é a existência precisa ser preservada. A gente precisa se respeitar, a nossa existência e a existência tem a ver com isso. Tem a ver com cultivar essas relações e estar presente nesses primeiros momentos.
E a coisa ela é tão bizarra porque, por si só, se você para pra pensar um pouquinho e raciocinar, ouvindo o depoimento de quem viveu isso, porque também vamos colocar um pouco de culpa na estrutura social que se construiu ao longo dos tempos, que esse afastamento do pai tem a ver obviamente com o patriarcado. Tem a ver com toda essa cultura machista que a gente vem construindo ao longo de séculos e que desemboca em um lugar onde o pai também, o homem, se sente ali com esse, esse privilégio de ter esse lugar, de que vai ser o provedor e pode se afastar do filho mas, isso por si só, ouvindo aqui o que a gente tem pra dizer, a experiência de quem viveu, já faria a gente se questionar. Por que? Por que não? Por que que a gente não pode ter esse tempo?
Mas antes de gravar esse episódio, como tá muito em, esse tópico ele volta, pra ser um debate social de novo aqui. Nesse momento a gente tá discutindo isso e a gente, além dos, os fatos humanos, existem os fatos econômicos, porque as pessoas, algumas pessoas ainda precisam comprovar. E é interessante, porque com os dados que a gente tem hoje, o economista James Heckman, que foi Nobel de economia, ele tem essa tese, ele defendeu essa tese durante muito, ele defende essa tese, de que o investimento na primeira infância, do zero aos seis anos de idade, o ROI do investimento, para cada dólar que você investe nisso, você tem um retorno pra sociedade de sete vezes. E isso é científico. Estou simplificando aqui só pra dar os números, mas existe de fato uma tese embasada.
O cara ganha o Nobel também por conta disso e, além de tudo, a gente socialmente vai ser melhor dentro dessa estrutura capitalista. A gente tem uma redução de taxa de violência, a gente tem uma redução de taxa de violência doméstica, de violência social. A gente tem muito, tem um monte de estudo recente, agosto agora, como esse assunto tá em voga, de resultado de pesquisa que comprovam isso, que a gente, desde lá atrás, só olhando pro lado humano investiu e acreditou nisso, se comprova agora também. E isso tem, basicamente, a ver com o que você, qual o propósito que você, você, o profissional, a empresa, o empreendedor tem para esse negócio com a sociedade, com a responsabilidade que você tem. E perceba que esse assunto, ele é tipo, tão embrionário.
E é interessante. O debate político, ele tá onde? Uma bancada com mulheres tá defendendo a licença paternidade e uma bancada de homens está lutando contra essa paternidade. Esse debate é tão bizarro. Por que se você falar em voz alta dá até vergonha, fala assim não. O pai tem que ficar cinco dias com o filho quando ele nasce, porque ele tem que produzir, porque ele tem que, é estranho demais.
Então dentro do Granatum a gente sempre teve esse debate. E aí a provocação que eu queria trazer, eu sugeri essa pauta aqui, porque eu acho que, então essa essa é uma das coisas que a gente tem que questionar, mas a gente tem que questionar todas as outras, A gente tem que questionar sim o formato de trabalho, se é remoto, se é presencial. A gente tem que questionar a diferença de disparidade de salário entre homens e mulheres. A gente tem que considerar tudo isso, inclusive, tem esses desdobramentos. Se o pai tem o mesmo custo de licença paternidade que a mulher. Qual é essa disparidade de salário? Por que não contratar também um pai? Por que não contratar a mulher, ao invés do homem? Por que ela tá na idade de ter filho? A gente ouve essas bizarrices aqui na sociedade. Eu já ouvi de pessoas próximas que são pra frente e eu sempre tento repreender, eu falo que que você tá falando? Olha isso! Esse debate ele constrói uma série de outros debates. Ele traz pra sociedade um movimento muito mais forte de transformação que a gente, a gente tem como dever ético, trazer pra se debater sobre tudo, sobre todas as coisas que estão postas aqui dentro. A gente faz, faz isso e a gente faz assim.
Então fica aí. Eu quis falar sobre isso porque esse debate, principalmente, eu tenho, uma questão com a empresa, ela não é responsável por cuidar das pessoas da empresa, as pessoas são responsáveis por se cuidar e por cuidar das pessoas também, mas esses debates que são estruturais, eles sim tem que ser trazidos para dentro de negócios como o nosso.
Mariana Prado
Como vocês podem ver, esse é um assunto que ainda vai render novos episódios por aqui, porque está muito ligado com coisas que a gente gosta de falar e de discutir. Então a gente fala, discute muito sobre o papel do Granatum não só enquanto empresa, enquanto negócio, mas também um papel social, um papel político, um papel de engajamento. As nossas filosofias, as nossas crenças, o que que impacta aqui dentro. E é importante a gente ter espaços de debates assim dentro da sociedade, para que a gente possa construir coisas diferentes.
Possibilitar que o pai ele esteja presente durante a primeira infância, isso não devia ser luxo e nem visto como um custo para empresa. Ele é um movimento de investimento profundo em vínculo, em cuidado, em equidade de gênero. E essa não é uma mudança que precisa ser liderada por uma legislação. Ela pode ter início dentro das próprias empresas que vão sinalizar pro mercado que tanto homens como mulheres podem se ausentar, por responsabilidade familiar.
E aí, conta pra gente como funciona a licença no lugar que você trabalha. Compartilha suas experiências que a gente tá aqui curioso pra te ouvir. Esse foi mais um Código Granatum e a gente espera você na semana que vem.


