GranatumCast | Temporada 2
#02
Roadmap guiado por dados e intuição
Roadmap guiado por dados e intuição
Temas Relacionados ao Episódio
Como dizer “sim” (raramente) e “não” (quase sempre)
O coração do papo é a difícil arte de priorizar funcionalidades: feedback de cliente, métricas de uso, movimentos de mercado e intuição do time entram na balança — mas só o que tem real impacto vira código.
Lean Startup na veia: testar antes de construir
Lá em 2008/2009 o time rodava “smoke tests” com landing pages segmentadas e anúncios no Google para medir apetite antes de investir. O caso do salão de beleza (muita inscrição, zero adoção) virou lição de ouro.
Caça à causa-raiz dos pedidos
“Quero emitir boletos” é só a pontinha do iceberg. Investigação profunda, entrevistas e protótipos revelam a dor real antes de qualquer linha de Ruby on Rails. Feedback é presente, mas precisa de raio-X.
A regra dos 20/80 e o efeito “nota fiscal”
Só 20 % das features são usadas por 80 % dos usuários (Chaos Report). Mesmo assim, lançar algo certo – como a emissão de NFS-e – pode destravar um público gigante que ainda não usa o produto.
Time em T e cultura do “por que?”
Desenvolvedor que entende finanças, CS que sabe design, CTO com MBA na área: todo mundo cruza fronteiras de conhecimento. Antes de abrir o editor de código, a pergunta é sempre: “Por que construir isso agora?”.
Transcrição do Episódio
[00:00:00]
Mari Prado: Você está ouvindo Código Granatum, conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do Cliente, e comigo estão Flávio Logullo e Matheus Haddad, dois dos cofundadores do Granatum. No primeiro episódio, a gente resgatou a nossa raiz em tecnologia e hoje o papo é sobre como a gente decide o que criar com essa tecnologia.
O Granatum ele começou registrando gastos, ganhos vieram os relatórios, emissão de nota fiscal de serviço, finanças automáticas, por aí ele foi evoluindo. Para cada nova funcionalidade, centenas de nãos distribuídos. Essas decisões de produto nunca são simples. Dá para seguir o feedback do cliente, métricas de uso, movimentos do mercado ou a própria intuição do time.
Matheus e Floz, como vocês vêm combinando esses fatores no desenvolvimento do Granatum?
[00:01:00]
Flavio Logullo: Desde o início, então, acho que é importante dizer quando que o Granatum nasce, né? Anos 2000. Então, finalzinho de 2008, começo de 2009, o Granatum nasce. E naquele momento, a gente estava estudando muito sobre startups. E ali, naquele momento, a gente tinha algumas técnicas de validação de negócio, porque diferente de hoje, que a gente tem uma abundância de desenvolvimento de possibilidades para se desenvolver, naquela época a gente tinha escassez. De tecnologia, de mão de obra de desenvolvimento e de recurso financeiro. Porque para lançar um negócio a gente precisa colocar dinheiro, a gente precisa investir para encontrar o público, para atingir o público que você quer vender. E naquele contexto ali, estávamos querendo validar um novo negócio.
Então, começamos a estudar sobre startups e mais especificamente sobre Lean Startup. Naquele momento, a gente descobriu métodos de validação de negócio. E esses métodos de validação de negócio eles vão muito em direção ao que a gente acabou transformando em cultura mesmo dentro do Granatum, que é o fato da gente conseguir acessar mercados testando hipóteses. Então esses testes naquela época, hoje em dia, a gente já consegue fazer testes muito melhores, mas naquela época ali eram testes de verificação de interesse do mercado.
Então, a gente tentava acessar um determinado mercado e o Granatum uma coisa interessante de se dizer, ele nasce a partir de testes de landing pages que faziam uma promessa de uma oferta. A gente prometia que teríamos um software de gestão financeira, porque de fato a gente já tinha o software de gestão financeira como a gente falou no episódio anterior aqui, o Granatum nasceu para atender uma demanda da própria WebGoal, mas a gente queria acessar os mercados, e para acessar os mercados nós precisávamos fazer testes e oferecer uma promessa e ver o que a gente tinha de retorno dessa promessa. Por que eu quis dar esse contexto? Porque a partir do momento que a gente lançou a primeira versão, e a primeira versão, curiosamente, ela era para ser em um determinado segmento, de um determinado segmento gente, só para contextualizar, a gente lançou várias landing pages, várias páginas de ofertas nichadas.
Então, a gente tinha ali gestão financeira para oficinas mecânicas, gestão financeira para empresas de desenvolvimento de software, gestão financeira para salões de cabeleireiro, vários segmentos. E a gente só lançou essas landing pages porque o custo para nós era super baixo de fazer isso e a gente fez o que a gente conhecia como smoke tests, né?
Então, a gente colocava um dinheirinho no AdWords ali pra divulgar para o nosso segmento e aí o segmento dava o feedback. Esse feedback vinha em forma de... a pessoa dava o nome e o e-mail dela ali. Ah, eu quero. Levantava a mão, assim. Essa foi a primeira lição sobre como priorizar funcionalidades no software, porque... despontou, disparado na frente, a gente tinha o ramo de atividade de salão de cabeleireiro. E então a gente falou, pô, a nossa primeira versão tem que ter features que sejam adequadas a atender salões de cabeleireiros. E foram vários segmentos, então a gente sempre teve essa preocupação de atender mais de um segmento com o Granatum, porque, curiosamente, a gente tem segmentos super distintos que podem ser atendidos da mesma forma com a mesma ferramenta, com o Granatum. Então uma empresa que faz obra, ela se parece muito com uma empresa de desenvolvimento de software, no modelo financeiro de gestão. Então a gente teve esse cuidado desde lá do começo.
E aí a nossa primeira lição vem a partir desse smoke test, porque quando a gente lançou a primeira versão do Granatum, a gente teve o total de zero salões de cabeleireiro se cadastrando para usar o Granatum. Então, essa foi a nossa primeira lição de, poxa, não é só perguntar o que você quer. O que você quer?
Ah, eu quero, eu sou um salão de beleza, eu quero um software de gestão financeira, é exatamente o que eu quero. Não é bem assim. Então, culturalmente isso é bem curioso porque além do Granatum, a gente tem outras empresas no grupo que o Granatum pertence, a gente também tem que desenvolver essas mesmas características, que são características de fazer uma investigação por trás do que é evidente como problema.
Então a Mari fala assim, eu quero muito emitir boletos. E aí esse é o gatilho para nós, que a gente vai falar, pô legal, obrigado pelo feedback. E, feedback para nós, desde o dia 1 a gente trata feedback como um presente vindo dos clientes para nós. Porque, de fato, norteou o desenvolvimento do Granatum desde essa época aí.
Mas a gente aprendeu ao longo do tempo, estudando sobre um monte de coisa, que essa primeira dor ou o pedido evidente ele sempre tem uma causa raiz, um problema que é uma causa raiz que quase nunca é exatamente o que a gente está ouvindo como problema. Então, eu até entendo a gente lida com, vou colocar entre várias aspas aqui, com essa frustração dos clientes, porque os clientes acreditam muito em nós e eles, ainda até hoje, ainda bem, mandam feedback para a gente pedindo melhoria, pedindo novas funcionalidades ou pedindo até novas ferramentas, porque o trabalho que a gente faz, é, com assim, muito cuidado né, o refinamento que o nosso produto tem ele demonstra como é que a gente trata, como é a gente lida com o desenvolvimento de software. E isso fica evidente para os clientes e é natural que os clientes passam outros pedidos para nós.
Então desde essa época, quis contextualizar porque, a medida que a gente vai estudando e tendo contatos com novas práticas a gente entende e falava, puxa olha ali atrás a gente já fazia isso de um jeito absolutamente natural porque para nós para o Granatum é vital que as funcionalidades que a, gente coloca no ar elas sejam usadas, porque na nossa indústria, e é engraçado porque no começo da WebGoal, a gente gira muito em torno da análise do que é o Chaos Report, o Matheus pode até falar sobre isso, mas tem muito a ver sobre desenvolver coisas que não tem funcionalidade e função nenhuma para os usuários, porque nós, desenvolvedores, eu me incluo nisso, temos o péssimo hábito de querer fazer as coisas. Então, se você me mandar uma solicitação, tudo pode ser feito. Porém, nem eu mesmo que estou pedindo, sei que é exatamente aquilo que eu quero, ou sei o que eu quero. Às vezes me parece que eu quero só um botão na interface, ou só um relatório, só que na verdade o que eu quero é resolver um outro problema que é muito mais profundo.
[00:09:00]
Matheus Haddad: Aproveitando esse gancho do Chaos Report, que o Flávio mencionou, esse relatório fala especificamente que apenas 20% das funcionalidades de um software são utilizadas por 80% dos seus usuários. Então, se a gente aplicar essa visão ao Granatum dá para entender que a grande parte dos usuários do Granatum hoje utilizam o básico da ferramenta, principalmente o básico da ferramenta.
O registro de despesas, de receitas, cobranças, emissões de notas fiscais, e a grande parte das funcionalidades são usadas por uma minoria, e que, de repente, é essa minoria que dá um feedback, que solicita uma coisa diferenciada, algo mais pontual. Então, é sempre um equilíbrio muito grande, porque se hoje 80% estão usando as 20% das funcionalidades principais do Granatum, pode ser que o mercado que ainda não use, usará o próximo conjunto de funcionalidade que a gente não lançou. Então, isso aconteceu, por exemplo, quando a gente lançou a funcionalidade de emissão de nota fiscal, e a gente percebeu que uma grande parcela do mercado que não usava a nossa ferramenta começou a utilizar o Granatum, porque agora tinha uma funcionalidade que atraiu um grande público que a gente nem conhecia. Então, é sempre um desafio descobrir essa demanda, descobrir o tamanho dessa demanda e oferecer, fazer uma oferta de funcionalidade em termos de ferramenta, adequada para conseguir capturar a maior parte do público interessado e atender bem, porque não basta oferecer a funcionalidade. Agora eu quero dar dois passos atrás e trazer a perspectiva interna desse desenvolvimento, o Flávio falou muito da perspectiva externa, do mercado, dos clientes, das validações, e eu queria trazer a perspectiva interna, porque quando a gente começou a criar o Granatum, a primeira coisa que a gente fez foi analisar as teorias, às práticas já consolidadas de gestão financeira.
O que o Sebrae propunha ali como gestão financeira, o que a FGV colocava como sendo essencial para empresas fazerem uma boa gestão financeira. Depois disso, a gente fez um benchmark, a gente analisou as principais soluções financeiras do mercado, para ver o que elas ofereciam como sendo básico para uma gestão financeira de qualquer empresa.
Então, foi um trabalho primeiro, de recuperar todo o caminho que já vem sendo trilhado por outras organizações, por outros estudos, para que o Granatum nascesse de forma muito consistente. E por isso a gente começou com as principais funcionalidades, com aquelas que todo mundo usa todo dia, até porque a gente estava implementando uma gestão financeira também para o uso da WebGoal. Então era necessário atender o nosso negócio em primeiro lugar, antes de virar um produto. Isso trouxe uma efetividade nas escolhas das funcionalidades que a gente teve no início. Por isso que, de repente, atendeu tantas empresas, assim quando a gente lançou, porque fez frente às dores que eram compartilhadas entre as empresas em relação à gestão financeira. Só que eu acho que o grande pulo do gato do Granatum na época, foi oferecer esse conjunto básico de funcionalidades com uma usabilidade diferente. Então, a gente oferecia ali o registro de gastos, os registros de receitas, de ganhos, os relatórios, mas com uma interface, uma proposta de usabilidade, de experiência do uso para o usuário, diferente das ferramentas concorrentes.
E a gente sempre recebia esse feedback, né? Elogiando a facilidade de uso, elogiando a facilidade de entendimento de como utilizar o Granatum para gestão financeira, o que deu para a gente a coragem de expandir aos poucos as funcionalidades usando uma validação externa, como o Flávio colocou agora há pouco. Então, não basta só funcionar direito ou atender ali um conjunto de teorias e práticas já consolidadas de gestão financeira. É preciso fazer isso no contexto do usuário, para que a experiência dele de utilização do produto seja excepcional. E aí eu volto lá no exemplo do salão de beleza, o salão de cabeleireiro.
A gente tinha ali várias demandas, pessoas que pareciam estar muito interessadas em usar a nossa ferramenta, de repente a gente percebeu que não tinha tempo para esse cabeleireiro sentar e fazer o registro. Ele não tinha a possibilidade de colocar isso na dinâmica do dia a dia dele, para ele fazer isso ele teria que contratar uma outra pessoa só para ficar fazendo o registro e nem todo salão de cabeleireiro tinha essa capacidade financeira de ter um funcionário a mais para fazer a parte administrativa. Então, era uma vontade do dono do salão de cabeleireiro de fazer uma boa gestão financeira, mas ele não tinha uma estrutura mínima suficiente de gestão, de processos internos para conseguir ainda adotar uma ferramenta automatizando essa parte do negócio dele. E foi por isso que nenhum salão de cabeleireiro no início, assinou a nossa ferramenta. Por que a gente não estava atento ainda a como ela seria utilizada no dia a dia do cliente, diferente de hoje, que a gente tem uma noção muito mais ampla desse contexto, dessa ideia de como o Granatum é adotado.
[00:14:54]
Flavio Logullo: E eu acho que isso mudou tudo dentro do Granatum no time, então várias convicções que a gente tinha, até mesmo quando, nesses passos que a gente deu para ir até os especialistas para entender como que deveria ser a construção da nossa solução, todos os especialistas têm muita convicção. Não, você tem que ter isso, você tem que fazer assim, você tem.
E, na verdade, você estar na frente, dentro de um negócio, na operação de um negócio, entendendo como é a rotina daquele negócio e, para nós, que sempre nos propusemos a atender uma série de segmentos, era muito complicado entender ou tentar assumir uma única versão de uma solução. Isso mudou internamente a nossa estrutura e os nossos interesses do time.
Só para ter uma ideia, o Maurício, que é o nosso CTO hoje no Granatum, ele foi fazer um MBA em Finanças, que é o que a gente gosta de dizer. Não adianta você ser um excelente desenvolvedor dentro do Granatum. Não adianta você ser uma excelente redatora dentro do Granatum. Você tem que entender, primeiro, o que a gente faz, enquanto domínio de negócio e como os nossos clientes lidam com aquilo.
Todo software é uma proposta de processo de trabalho. Então, se a gente tem um processo de trabalho que é multifacetado e de fácil acoplagem no processo que já existe, porque toda empresa já tem um processo funcionando ali, sem mérito de julgamento, às vezes é uma bagunça, às vezes é muito manual, não importa.
O importante é que quando a gente acessa esse ambiente, a gente não cria um atrito ou piora a experiência do nosso cliente e cria um ambiente de solução. Isso internamente, para a nossa qualificação do time do Granatum, exigiu de nós várias mudanças de mentalidade mesmo. Como eu falei, nós desenvolvedores temos o péssimo hábito de desenvolver as coisas, sair criando as coisas.
Então, se você me pedir, a minha primeira ação não é falar para você: Por que você quer isso? A minha primeira ação é: nossa, já vou usar Ruby, já vou usar Rails... Vou usar sei lá o que... Qualquer tecnologia muito legal que eu esteja querendo usar naquele momento, mas não vou te questionar. E dentro do Granatum é engraçado porque o Maurício fala muito isso, né? Cara, tudo dá para fazer. Mas por que você quer fazer? E esse comportamento, é difícil de entender, principalmente para as pessoas, quando as pessoas chegam no Granatum que já é um universo absolutamente diferente, lidar com esse tipo de questionamento de uma pessoa que, tecnicamente, ele não tem que perguntar por que você quer isso, mas ele pergunta.
E esse é o comportamento, essa é a postura que a gente tenta desenvolver o tempo inteiro do nosso time, e isso para tudo. Então as convicções, essa foi a grande rachadura, pelo menos em termos de comportamento, para mim, de pegar minhas convicções, a maior parte delas, amassar e jogar no lixo. Porque nós somos servidores, a gente precisa prestar um bom serviço para quem está contratando a gente. E ser um bom servidor está totalmente relacionado com você pegar, principalmente o seu ego, porque de fato você constrói uma carreira por exemplo, você é desenvolvedor ou você é um analista financeiro, e você tem várias convicções.
Quando você vai de frente para o problema, você precisa de fato resolver esse problema, não tem como. Você fala assim, não, mas eu fazia assim na academia, mas eu desenvolvia assim. E essa mudança de comportamento faz com que a gente tenha uma série de competências dentro do nosso negócio, que não são triviais de você ver por aí e a gente faz questão de que você seja um profissional do tipo T, de verdade assim, com uma abrangência muito grande de conhecimento, de interesses. Por que? Não porque a gente quer, mas porque você não consegue trabalhar no Granatum e atender bem o cliente e argumentar com os nossos clientes, e é muito interessante porque o nosso atendimento recebe os feedbacks dos clientes o que eles querem, os sonhos, o comercial recebe também e é sempre muito difícil para quem está ali no front, lidando direto com esses pedidos, conseguir se conter e falar assim, evitar a frase: nossa, nossos clientes estão pedindo, todos os clientes estão pedindo, nossa é urgente isso. Porque às vezes, a gente tem uma solicitação, e a solicitação vem de uma pessoa, e a gente se envolve com aquela pessoa. Só que aquela pessoa é tão apaixonada, ela está tão desesperada, e ela coloca tanta é, tanta energia naquele pedido, que é difícil do nosso time conseguir filtrar isso e não vir com essas convicções né, herdadas do nosso cliente.
Então o processo aqui dentro exigiu de nós muita, muita tranquilidade para fazer as avaliações dos feedbacks. Muita qualificação em termos de design, que é conseguir investigar a raiz do problema e conseguir pensar em soluções e é esse desenvolvimento ele não é trivial, ele tem que acontecer o tempo inteiro, e a gente se toca o tempo inteiro assim, falando mas será que é isso mesmo? A gente já investigou quantos clientes pediram isso?
E isso faz parte da cultura, não é? É engraçado que num primeiro momento, principalmente para quem chega no time, parece que é, pô meus projetos não saem do papel, né? Meus projetos não vão adiante. Por quê? Porque alguém parou ali para refutar esses pedidos, mas porque isso faz parte simplesmente da nossa cultura mesmo.
[00:21:00]
Mari Prado: Muito bom. A decisão então, ela não nasce pronta, né? Ela vai passar por muita investigação, vão ser muitos porquês, antes da gente chegar a uma conclusão, antes da gente chegar a uma nova funcionalidade. É muita conversa boa no meio do caminho. Obrigada por acompanhar mais um episódio do Código Granatum. Se você curtiu, indica para quem também vive decidindo entre planilhas e palpites.
E pode mandar seu feedback para a gente também. Até a próxima!
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Mari Prado: Você está ouvindo Código Granatum, conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do Cliente, e comigo estão Flávio Logullo e Matheus Haddad, dois dos cofundadores do Granatum. No primeiro episódio, a gente resgatou a nossa raiz em tecnologia e hoje o papo é sobre como a gente decide o que criar com essa tecnologia.
O Granatum ele começou registrando gastos, ganhos vieram os relatórios, emissão de nota fiscal de serviço, finanças automáticas, por aí ele foi evoluindo. Para cada nova funcionalidade, centenas de nãos distribuídos. Essas decisões de produto nunca são simples. Dá para seguir o feedback do cliente, métricas de uso, movimentos do mercado ou a própria intuição do time.
Matheus e Floz, como vocês vêm combinando esses fatores no desenvolvimento do Granatum?
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Flavio Logullo: Desde o início, então, acho que é importante dizer quando que o Granatum nasce, né? Anos 2000. Então, finalzinho de 2008, começo de 2009, o Granatum nasce. E naquele momento, a gente estava estudando muito sobre startups. E ali, naquele momento, a gente tinha algumas técnicas de validação de negócio, porque diferente de hoje, que a gente tem uma abundância de desenvolvimento de possibilidades para se desenvolver, naquela época a gente tinha escassez. De tecnologia, de mão de obra de desenvolvimento e de recurso financeiro. Porque para lançar um negócio a gente precisa colocar dinheiro, a gente precisa investir para encontrar o público, para atingir o público que você quer vender. E naquele contexto ali, estávamos querendo validar um novo negócio.
Então, começamos a estudar sobre startups e mais especificamente sobre Lean Startup. Naquele momento, a gente descobriu métodos de validação de negócio. E esses métodos de validação de negócio eles vão muito em direção ao que a gente acabou transformando em cultura mesmo dentro do Granatum, que é o fato da gente conseguir acessar mercados testando hipóteses. Então esses testes naquela época, hoje em dia, a gente já consegue fazer testes muito melhores, mas naquela época ali eram testes de verificação de interesse do mercado.
Então, a gente tentava acessar um determinado mercado e o Granatum uma coisa interessante de se dizer, ele nasce a partir de testes de landing pages que faziam uma promessa de uma oferta. A gente prometia que teríamos um software de gestão financeira, porque de fato a gente já tinha o software de gestão financeira como a gente falou no episódio anterior aqui, o Granatum nasceu para atender uma demanda da própria WebGoal, mas a gente queria acessar os mercados, e para acessar os mercados nós precisávamos fazer testes e oferecer uma promessa e ver o que a gente tinha de retorno dessa promessa. Por que eu quis dar esse contexto? Porque a partir do momento que a gente lançou a primeira versão, e a primeira versão, curiosamente, ela era para ser em um determinado segmento, de um determinado segmento gente, só para contextualizar, a gente lançou várias landing pages, várias páginas de ofertas nichadas.
Então, a gente tinha ali gestão financeira para oficinas mecânicas, gestão financeira para empresas de desenvolvimento de software, gestão financeira para salões de cabeleireiro, vários segmentos. E a gente só lançou essas landing pages porque o custo para nós era super baixo de fazer isso e a gente fez o que a gente conhecia como smoke tests, né?
Então, a gente colocava um dinheirinho no AdWords ali pra divulgar para o nosso segmento e aí o segmento dava o feedback. Esse feedback vinha em forma de... a pessoa dava o nome e o e-mail dela ali. Ah, eu quero. Levantava a mão, assim. Essa foi a primeira lição sobre como priorizar funcionalidades no software, porque... despontou, disparado na frente, a gente tinha o ramo de atividade de salão de cabeleireiro. E então a gente falou, pô, a nossa primeira versão tem que ter features que sejam adequadas a atender salões de cabeleireiros. E foram vários segmentos, então a gente sempre teve essa preocupação de atender mais de um segmento com o Granatum, porque, curiosamente, a gente tem segmentos super distintos que podem ser atendidos da mesma forma com a mesma ferramenta, com o Granatum. Então uma empresa que faz obra, ela se parece muito com uma empresa de desenvolvimento de software, no modelo financeiro de gestão. Então a gente teve esse cuidado desde lá do começo.
E aí a nossa primeira lição vem a partir desse smoke test, porque quando a gente lançou a primeira versão do Granatum, a gente teve o total de zero salões de cabeleireiro se cadastrando para usar o Granatum. Então, essa foi a nossa primeira lição de, poxa, não é só perguntar o que você quer. O que você quer?
Ah, eu quero, eu sou um salão de beleza, eu quero um software de gestão financeira, é exatamente o que eu quero. Não é bem assim. Então, culturalmente isso é bem curioso porque além do Granatum, a gente tem outras empresas no grupo que o Granatum pertence, a gente também tem que desenvolver essas mesmas características, que são características de fazer uma investigação por trás do que é evidente como problema.
Então a Mari fala assim, eu quero muito emitir boletos. E aí esse é o gatilho para nós, que a gente vai falar, pô legal, obrigado pelo feedback. E, feedback para nós, desde o dia 1 a gente trata feedback como um presente vindo dos clientes para nós. Porque, de fato, norteou o desenvolvimento do Granatum desde essa época aí.
Mas a gente aprendeu ao longo do tempo, estudando sobre um monte de coisa, que essa primeira dor ou o pedido evidente ele sempre tem uma causa raiz, um problema que é uma causa raiz que quase nunca é exatamente o que a gente está ouvindo como problema. Então, eu até entendo a gente lida com, vou colocar entre várias aspas aqui, com essa frustração dos clientes, porque os clientes acreditam muito em nós e eles, ainda até hoje, ainda bem, mandam feedback para a gente pedindo melhoria, pedindo novas funcionalidades ou pedindo até novas ferramentas, porque o trabalho que a gente faz, é, com assim, muito cuidado né, o refinamento que o nosso produto tem ele demonstra como é que a gente trata, como é a gente lida com o desenvolvimento de software. E isso fica evidente para os clientes e é natural que os clientes passam outros pedidos para nós.
Então desde essa época, quis contextualizar porque, a medida que a gente vai estudando e tendo contatos com novas práticas a gente entende e falava, puxa olha ali atrás a gente já fazia isso de um jeito absolutamente natural porque para nós para o Granatum é vital que as funcionalidades que a, gente coloca no ar elas sejam usadas, porque na nossa indústria, e é engraçado porque no começo da WebGoal, a gente gira muito em torno da análise do que é o Chaos Report, o Matheus pode até falar sobre isso, mas tem muito a ver sobre desenvolver coisas que não tem funcionalidade e função nenhuma para os usuários, porque nós, desenvolvedores, eu me incluo nisso, temos o péssimo hábito de querer fazer as coisas. Então, se você me mandar uma solicitação, tudo pode ser feito. Porém, nem eu mesmo que estou pedindo, sei que é exatamente aquilo que eu quero, ou sei o que eu quero. Às vezes me parece que eu quero só um botão na interface, ou só um relatório, só que na verdade o que eu quero é resolver um outro problema que é muito mais profundo.
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Matheus Haddad: Aproveitando esse gancho do Chaos Report, que o Flávio mencionou, esse relatório fala especificamente que apenas 20% das funcionalidades de um software são utilizadas por 80% dos seus usuários. Então, se a gente aplicar essa visão ao Granatum dá para entender que a grande parte dos usuários do Granatum hoje utilizam o básico da ferramenta, principalmente o básico da ferramenta.
O registro de despesas, de receitas, cobranças, emissões de notas fiscais, e a grande parte das funcionalidades são usadas por uma minoria, e que, de repente, é essa minoria que dá um feedback, que solicita uma coisa diferenciada, algo mais pontual. Então, é sempre um equilíbrio muito grande, porque se hoje 80% estão usando as 20% das funcionalidades principais do Granatum, pode ser que o mercado que ainda não use, usará o próximo conjunto de funcionalidade que a gente não lançou. Então, isso aconteceu, por exemplo, quando a gente lançou a funcionalidade de emissão de nota fiscal, e a gente percebeu que uma grande parcela do mercado que não usava a nossa ferramenta começou a utilizar o Granatum, porque agora tinha uma funcionalidade que atraiu um grande público que a gente nem conhecia. Então, é sempre um desafio descobrir essa demanda, descobrir o tamanho dessa demanda e oferecer, fazer uma oferta de funcionalidade em termos de ferramenta, adequada para conseguir capturar a maior parte do público interessado e atender bem, porque não basta oferecer a funcionalidade. Agora eu quero dar dois passos atrás e trazer a perspectiva interna desse desenvolvimento, o Flávio falou muito da perspectiva externa, do mercado, dos clientes, das validações, e eu queria trazer a perspectiva interna, porque quando a gente começou a criar o Granatum, a primeira coisa que a gente fez foi analisar as teorias, às práticas já consolidadas de gestão financeira.
O que o Sebrae propunha ali como gestão financeira, o que a FGV colocava como sendo essencial para empresas fazerem uma boa gestão financeira. Depois disso, a gente fez um benchmark, a gente analisou as principais soluções financeiras do mercado, para ver o que elas ofereciam como sendo básico para uma gestão financeira de qualquer empresa.
Então, foi um trabalho primeiro, de recuperar todo o caminho que já vem sendo trilhado por outras organizações, por outros estudos, para que o Granatum nascesse de forma muito consistente. E por isso a gente começou com as principais funcionalidades, com aquelas que todo mundo usa todo dia, até porque a gente estava implementando uma gestão financeira também para o uso da WebGoal. Então era necessário atender o nosso negócio em primeiro lugar, antes de virar um produto. Isso trouxe uma efetividade nas escolhas das funcionalidades que a gente teve no início. Por isso que, de repente, atendeu tantas empresas, assim quando a gente lançou, porque fez frente às dores que eram compartilhadas entre as empresas em relação à gestão financeira. Só que eu acho que o grande pulo do gato do Granatum na época, foi oferecer esse conjunto básico de funcionalidades com uma usabilidade diferente. Então, a gente oferecia ali o registro de gastos, os registros de receitas, de ganhos, os relatórios, mas com uma interface, uma proposta de usabilidade, de experiência do uso para o usuário, diferente das ferramentas concorrentes.
E a gente sempre recebia esse feedback, né? Elogiando a facilidade de uso, elogiando a facilidade de entendimento de como utilizar o Granatum para gestão financeira, o que deu para a gente a coragem de expandir aos poucos as funcionalidades usando uma validação externa, como o Flávio colocou agora há pouco. Então, não basta só funcionar direito ou atender ali um conjunto de teorias e práticas já consolidadas de gestão financeira. É preciso fazer isso no contexto do usuário, para que a experiência dele de utilização do produto seja excepcional. E aí eu volto lá no exemplo do salão de beleza, o salão de cabeleireiro.
A gente tinha ali várias demandas, pessoas que pareciam estar muito interessadas em usar a nossa ferramenta, de repente a gente percebeu que não tinha tempo para esse cabeleireiro sentar e fazer o registro. Ele não tinha a possibilidade de colocar isso na dinâmica do dia a dia dele, para ele fazer isso ele teria que contratar uma outra pessoa só para ficar fazendo o registro e nem todo salão de cabeleireiro tinha essa capacidade financeira de ter um funcionário a mais para fazer a parte administrativa. Então, era uma vontade do dono do salão de cabeleireiro de fazer uma boa gestão financeira, mas ele não tinha uma estrutura mínima suficiente de gestão, de processos internos para conseguir ainda adotar uma ferramenta automatizando essa parte do negócio dele. E foi por isso que nenhum salão de cabeleireiro no início, assinou a nossa ferramenta. Por que a gente não estava atento ainda a como ela seria utilizada no dia a dia do cliente, diferente de hoje, que a gente tem uma noção muito mais ampla desse contexto, dessa ideia de como o Granatum é adotado.
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Flavio Logullo: E eu acho que isso mudou tudo dentro do Granatum no time, então várias convicções que a gente tinha, até mesmo quando, nesses passos que a gente deu para ir até os especialistas para entender como que deveria ser a construção da nossa solução, todos os especialistas têm muita convicção. Não, você tem que ter isso, você tem que fazer assim, você tem.
E, na verdade, você estar na frente, dentro de um negócio, na operação de um negócio, entendendo como é a rotina daquele negócio e, para nós, que sempre nos propusemos a atender uma série de segmentos, era muito complicado entender ou tentar assumir uma única versão de uma solução. Isso mudou internamente a nossa estrutura e os nossos interesses do time.
Só para ter uma ideia, o Maurício, que é o nosso CTO hoje no Granatum, ele foi fazer um MBA em Finanças, que é o que a gente gosta de dizer. Não adianta você ser um excelente desenvolvedor dentro do Granatum. Não adianta você ser uma excelente redatora dentro do Granatum. Você tem que entender, primeiro, o que a gente faz, enquanto domínio de negócio e como os nossos clientes lidam com aquilo.
Todo software é uma proposta de processo de trabalho. Então, se a gente tem um processo de trabalho que é multifacetado e de fácil acoplagem no processo que já existe, porque toda empresa já tem um processo funcionando ali, sem mérito de julgamento, às vezes é uma bagunça, às vezes é muito manual, não importa.
O importante é que quando a gente acessa esse ambiente, a gente não cria um atrito ou piora a experiência do nosso cliente e cria um ambiente de solução. Isso internamente, para a nossa qualificação do time do Granatum, exigiu de nós várias mudanças de mentalidade mesmo. Como eu falei, nós desenvolvedores temos o péssimo hábito de desenvolver as coisas, sair criando as coisas.
Então, se você me pedir, a minha primeira ação não é falar para você: Por que você quer isso? A minha primeira ação é: nossa, já vou usar Ruby, já vou usar Rails... Vou usar sei lá o que... Qualquer tecnologia muito legal que eu esteja querendo usar naquele momento, mas não vou te questionar. E dentro do Granatum é engraçado porque o Maurício fala muito isso, né? Cara, tudo dá para fazer. Mas por que você quer fazer? E esse comportamento, é difícil de entender, principalmente para as pessoas, quando as pessoas chegam no Granatum que já é um universo absolutamente diferente, lidar com esse tipo de questionamento de uma pessoa que, tecnicamente, ele não tem que perguntar por que você quer isso, mas ele pergunta.
E esse é o comportamento, essa é a postura que a gente tenta desenvolver o tempo inteiro do nosso time, e isso para tudo. Então as convicções, essa foi a grande rachadura, pelo menos em termos de comportamento, para mim, de pegar minhas convicções, a maior parte delas, amassar e jogar no lixo. Porque nós somos servidores, a gente precisa prestar um bom serviço para quem está contratando a gente. E ser um bom servidor está totalmente relacionado com você pegar, principalmente o seu ego, porque de fato você constrói uma carreira por exemplo, você é desenvolvedor ou você é um analista financeiro, e você tem várias convicções.
Quando você vai de frente para o problema, você precisa de fato resolver esse problema, não tem como. Você fala assim, não, mas eu fazia assim na academia, mas eu desenvolvia assim. E essa mudança de comportamento faz com que a gente tenha uma série de competências dentro do nosso negócio, que não são triviais de você ver por aí e a gente faz questão de que você seja um profissional do tipo T, de verdade assim, com uma abrangência muito grande de conhecimento, de interesses. Por que? Não porque a gente quer, mas porque você não consegue trabalhar no Granatum e atender bem o cliente e argumentar com os nossos clientes, e é muito interessante porque o nosso atendimento recebe os feedbacks dos clientes o que eles querem, os sonhos, o comercial recebe também e é sempre muito difícil para quem está ali no front, lidando direto com esses pedidos, conseguir se conter e falar assim, evitar a frase: nossa, nossos clientes estão pedindo, todos os clientes estão pedindo, nossa é urgente isso. Porque às vezes, a gente tem uma solicitação, e a solicitação vem de uma pessoa, e a gente se envolve com aquela pessoa. Só que aquela pessoa é tão apaixonada, ela está tão desesperada, e ela coloca tanta é, tanta energia naquele pedido, que é difícil do nosso time conseguir filtrar isso e não vir com essas convicções né, herdadas do nosso cliente.
Então o processo aqui dentro exigiu de nós muita, muita tranquilidade para fazer as avaliações dos feedbacks. Muita qualificação em termos de design, que é conseguir investigar a raiz do problema e conseguir pensar em soluções e é esse desenvolvimento ele não é trivial, ele tem que acontecer o tempo inteiro, e a gente se toca o tempo inteiro assim, falando mas será que é isso mesmo? A gente já investigou quantos clientes pediram isso?
E isso faz parte da cultura, não é? É engraçado que num primeiro momento, principalmente para quem chega no time, parece que é, pô meus projetos não saem do papel, né? Meus projetos não vão adiante. Por quê? Porque alguém parou ali para refutar esses pedidos, mas porque isso faz parte simplesmente da nossa cultura mesmo.
[00:21:00]
Mari Prado: Muito bom. A decisão então, ela não nasce pronta, né? Ela vai passar por muita investigação, vão ser muitos porquês, antes da gente chegar a uma conclusão, antes da gente chegar a uma nova funcionalidade. É muita conversa boa no meio do caminho. Obrigada por acompanhar mais um episódio do Código Granatum. Se você curtiu, indica para quem também vive decidindo entre planilhas e palpites.
E pode mandar seu feedback para a gente também. Até a próxima!
[00:00:00]
Mari Prado: Você está ouvindo Código Granatum, conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de sucesso do Cliente, e comigo estão Flávio Logullo e Matheus Haddad, dois dos cofundadores do Granatum. No primeiro episódio, a gente resgatou a nossa raiz em tecnologia e hoje o papo é sobre como a gente decide o que criar com essa tecnologia.
O Granatum ele começou registrando gastos, ganhos vieram os relatórios, emissão de nota fiscal de serviço, finanças automáticas, por aí ele foi evoluindo. Para cada nova funcionalidade, centenas de nãos distribuídos. Essas decisões de produto nunca são simples. Dá para seguir o feedback do cliente, métricas de uso, movimentos do mercado ou a própria intuição do time.
Matheus e Floz, como vocês vêm combinando esses fatores no desenvolvimento do Granatum?
[00:01:00]
Flavio Logullo: Desde o início, então, acho que é importante dizer quando que o Granatum nasce, né? Anos 2000. Então, finalzinho de 2008, começo de 2009, o Granatum nasce. E naquele momento, a gente estava estudando muito sobre startups. E ali, naquele momento, a gente tinha algumas técnicas de validação de negócio, porque diferente de hoje, que a gente tem uma abundância de desenvolvimento de possibilidades para se desenvolver, naquela época a gente tinha escassez. De tecnologia, de mão de obra de desenvolvimento e de recurso financeiro. Porque para lançar um negócio a gente precisa colocar dinheiro, a gente precisa investir para encontrar o público, para atingir o público que você quer vender. E naquele contexto ali, estávamos querendo validar um novo negócio.
Então, começamos a estudar sobre startups e mais especificamente sobre Lean Startup. Naquele momento, a gente descobriu métodos de validação de negócio. E esses métodos de validação de negócio eles vão muito em direção ao que a gente acabou transformando em cultura mesmo dentro do Granatum, que é o fato da gente conseguir acessar mercados testando hipóteses. Então esses testes naquela época, hoje em dia, a gente já consegue fazer testes muito melhores, mas naquela época ali eram testes de verificação de interesse do mercado.
Então, a gente tentava acessar um determinado mercado e o Granatum uma coisa interessante de se dizer, ele nasce a partir de testes de landing pages que faziam uma promessa de uma oferta. A gente prometia que teríamos um software de gestão financeira, porque de fato a gente já tinha o software de gestão financeira como a gente falou no episódio anterior aqui, o Granatum nasceu para atender uma demanda da própria WebGoal, mas a gente queria acessar os mercados, e para acessar os mercados nós precisávamos fazer testes e oferecer uma promessa e ver o que a gente tinha de retorno dessa promessa. Por que eu quis dar esse contexto? Porque a partir do momento que a gente lançou a primeira versão, e a primeira versão, curiosamente, ela era para ser em um determinado segmento, de um determinado segmento gente, só para contextualizar, a gente lançou várias landing pages, várias páginas de ofertas nichadas.
Então, a gente tinha ali gestão financeira para oficinas mecânicas, gestão financeira para empresas de desenvolvimento de software, gestão financeira para salões de cabeleireiro, vários segmentos. E a gente só lançou essas landing pages porque o custo para nós era super baixo de fazer isso e a gente fez o que a gente conhecia como smoke tests, né?
Então, a gente colocava um dinheirinho no AdWords ali pra divulgar para o nosso segmento e aí o segmento dava o feedback. Esse feedback vinha em forma de... a pessoa dava o nome e o e-mail dela ali. Ah, eu quero. Levantava a mão, assim. Essa foi a primeira lição sobre como priorizar funcionalidades no software, porque... despontou, disparado na frente, a gente tinha o ramo de atividade de salão de cabeleireiro. E então a gente falou, pô, a nossa primeira versão tem que ter features que sejam adequadas a atender salões de cabeleireiros. E foram vários segmentos, então a gente sempre teve essa preocupação de atender mais de um segmento com o Granatum, porque, curiosamente, a gente tem segmentos super distintos que podem ser atendidos da mesma forma com a mesma ferramenta, com o Granatum. Então uma empresa que faz obra, ela se parece muito com uma empresa de desenvolvimento de software, no modelo financeiro de gestão. Então a gente teve esse cuidado desde lá do começo.
E aí a nossa primeira lição vem a partir desse smoke test, porque quando a gente lançou a primeira versão do Granatum, a gente teve o total de zero salões de cabeleireiro se cadastrando para usar o Granatum. Então, essa foi a nossa primeira lição de, poxa, não é só perguntar o que você quer. O que você quer?
Ah, eu quero, eu sou um salão de beleza, eu quero um software de gestão financeira, é exatamente o que eu quero. Não é bem assim. Então, culturalmente isso é bem curioso porque além do Granatum, a gente tem outras empresas no grupo que o Granatum pertence, a gente também tem que desenvolver essas mesmas características, que são características de fazer uma investigação por trás do que é evidente como problema.
Então a Mari fala assim, eu quero muito emitir boletos. E aí esse é o gatilho para nós, que a gente vai falar, pô legal, obrigado pelo feedback. E, feedback para nós, desde o dia 1 a gente trata feedback como um presente vindo dos clientes para nós. Porque, de fato, norteou o desenvolvimento do Granatum desde essa época aí.
Mas a gente aprendeu ao longo do tempo, estudando sobre um monte de coisa, que essa primeira dor ou o pedido evidente ele sempre tem uma causa raiz, um problema que é uma causa raiz que quase nunca é exatamente o que a gente está ouvindo como problema. Então, eu até entendo a gente lida com, vou colocar entre várias aspas aqui, com essa frustração dos clientes, porque os clientes acreditam muito em nós e eles, ainda até hoje, ainda bem, mandam feedback para a gente pedindo melhoria, pedindo novas funcionalidades ou pedindo até novas ferramentas, porque o trabalho que a gente faz, é, com assim, muito cuidado né, o refinamento que o nosso produto tem ele demonstra como é que a gente trata, como é a gente lida com o desenvolvimento de software. E isso fica evidente para os clientes e é natural que os clientes passam outros pedidos para nós.
Então desde essa época, quis contextualizar porque, a medida que a gente vai estudando e tendo contatos com novas práticas a gente entende e falava, puxa olha ali atrás a gente já fazia isso de um jeito absolutamente natural porque para nós para o Granatum é vital que as funcionalidades que a, gente coloca no ar elas sejam usadas, porque na nossa indústria, e é engraçado porque no começo da WebGoal, a gente gira muito em torno da análise do que é o Chaos Report, o Matheus pode até falar sobre isso, mas tem muito a ver sobre desenvolver coisas que não tem funcionalidade e função nenhuma para os usuários, porque nós, desenvolvedores, eu me incluo nisso, temos o péssimo hábito de querer fazer as coisas. Então, se você me mandar uma solicitação, tudo pode ser feito. Porém, nem eu mesmo que estou pedindo, sei que é exatamente aquilo que eu quero, ou sei o que eu quero. Às vezes me parece que eu quero só um botão na interface, ou só um relatório, só que na verdade o que eu quero é resolver um outro problema que é muito mais profundo.
[00:09:00]
Matheus Haddad: Aproveitando esse gancho do Chaos Report, que o Flávio mencionou, esse relatório fala especificamente que apenas 20% das funcionalidades de um software são utilizadas por 80% dos seus usuários. Então, se a gente aplicar essa visão ao Granatum dá para entender que a grande parte dos usuários do Granatum hoje utilizam o básico da ferramenta, principalmente o básico da ferramenta.
O registro de despesas, de receitas, cobranças, emissões de notas fiscais, e a grande parte das funcionalidades são usadas por uma minoria, e que, de repente, é essa minoria que dá um feedback, que solicita uma coisa diferenciada, algo mais pontual. Então, é sempre um equilíbrio muito grande, porque se hoje 80% estão usando as 20% das funcionalidades principais do Granatum, pode ser que o mercado que ainda não use, usará o próximo conjunto de funcionalidade que a gente não lançou. Então, isso aconteceu, por exemplo, quando a gente lançou a funcionalidade de emissão de nota fiscal, e a gente percebeu que uma grande parcela do mercado que não usava a nossa ferramenta começou a utilizar o Granatum, porque agora tinha uma funcionalidade que atraiu um grande público que a gente nem conhecia. Então, é sempre um desafio descobrir essa demanda, descobrir o tamanho dessa demanda e oferecer, fazer uma oferta de funcionalidade em termos de ferramenta, adequada para conseguir capturar a maior parte do público interessado e atender bem, porque não basta oferecer a funcionalidade. Agora eu quero dar dois passos atrás e trazer a perspectiva interna desse desenvolvimento, o Flávio falou muito da perspectiva externa, do mercado, dos clientes, das validações, e eu queria trazer a perspectiva interna, porque quando a gente começou a criar o Granatum, a primeira coisa que a gente fez foi analisar as teorias, às práticas já consolidadas de gestão financeira.
O que o Sebrae propunha ali como gestão financeira, o que a FGV colocava como sendo essencial para empresas fazerem uma boa gestão financeira. Depois disso, a gente fez um benchmark, a gente analisou as principais soluções financeiras do mercado, para ver o que elas ofereciam como sendo básico para uma gestão financeira de qualquer empresa.
Então, foi um trabalho primeiro, de recuperar todo o caminho que já vem sendo trilhado por outras organizações, por outros estudos, para que o Granatum nascesse de forma muito consistente. E por isso a gente começou com as principais funcionalidades, com aquelas que todo mundo usa todo dia, até porque a gente estava implementando uma gestão financeira também para o uso da WebGoal. Então era necessário atender o nosso negócio em primeiro lugar, antes de virar um produto. Isso trouxe uma efetividade nas escolhas das funcionalidades que a gente teve no início. Por isso que, de repente, atendeu tantas empresas, assim quando a gente lançou, porque fez frente às dores que eram compartilhadas entre as empresas em relação à gestão financeira. Só que eu acho que o grande pulo do gato do Granatum na época, foi oferecer esse conjunto básico de funcionalidades com uma usabilidade diferente. Então, a gente oferecia ali o registro de gastos, os registros de receitas, de ganhos, os relatórios, mas com uma interface, uma proposta de usabilidade, de experiência do uso para o usuário, diferente das ferramentas concorrentes.
E a gente sempre recebia esse feedback, né? Elogiando a facilidade de uso, elogiando a facilidade de entendimento de como utilizar o Granatum para gestão financeira, o que deu para a gente a coragem de expandir aos poucos as funcionalidades usando uma validação externa, como o Flávio colocou agora há pouco. Então, não basta só funcionar direito ou atender ali um conjunto de teorias e práticas já consolidadas de gestão financeira. É preciso fazer isso no contexto do usuário, para que a experiência dele de utilização do produto seja excepcional. E aí eu volto lá no exemplo do salão de beleza, o salão de cabeleireiro.
A gente tinha ali várias demandas, pessoas que pareciam estar muito interessadas em usar a nossa ferramenta, de repente a gente percebeu que não tinha tempo para esse cabeleireiro sentar e fazer o registro. Ele não tinha a possibilidade de colocar isso na dinâmica do dia a dia dele, para ele fazer isso ele teria que contratar uma outra pessoa só para ficar fazendo o registro e nem todo salão de cabeleireiro tinha essa capacidade financeira de ter um funcionário a mais para fazer a parte administrativa. Então, era uma vontade do dono do salão de cabeleireiro de fazer uma boa gestão financeira, mas ele não tinha uma estrutura mínima suficiente de gestão, de processos internos para conseguir ainda adotar uma ferramenta automatizando essa parte do negócio dele. E foi por isso que nenhum salão de cabeleireiro no início, assinou a nossa ferramenta. Por que a gente não estava atento ainda a como ela seria utilizada no dia a dia do cliente, diferente de hoje, que a gente tem uma noção muito mais ampla desse contexto, dessa ideia de como o Granatum é adotado.
[00:14:54]
Flavio Logullo: E eu acho que isso mudou tudo dentro do Granatum no time, então várias convicções que a gente tinha, até mesmo quando, nesses passos que a gente deu para ir até os especialistas para entender como que deveria ser a construção da nossa solução, todos os especialistas têm muita convicção. Não, você tem que ter isso, você tem que fazer assim, você tem.
E, na verdade, você estar na frente, dentro de um negócio, na operação de um negócio, entendendo como é a rotina daquele negócio e, para nós, que sempre nos propusemos a atender uma série de segmentos, era muito complicado entender ou tentar assumir uma única versão de uma solução. Isso mudou internamente a nossa estrutura e os nossos interesses do time.
Só para ter uma ideia, o Maurício, que é o nosso CTO hoje no Granatum, ele foi fazer um MBA em Finanças, que é o que a gente gosta de dizer. Não adianta você ser um excelente desenvolvedor dentro do Granatum. Não adianta você ser uma excelente redatora dentro do Granatum. Você tem que entender, primeiro, o que a gente faz, enquanto domínio de negócio e como os nossos clientes lidam com aquilo.
Todo software é uma proposta de processo de trabalho. Então, se a gente tem um processo de trabalho que é multifacetado e de fácil acoplagem no processo que já existe, porque toda empresa já tem um processo funcionando ali, sem mérito de julgamento, às vezes é uma bagunça, às vezes é muito manual, não importa.
O importante é que quando a gente acessa esse ambiente, a gente não cria um atrito ou piora a experiência do nosso cliente e cria um ambiente de solução. Isso internamente, para a nossa qualificação do time do Granatum, exigiu de nós várias mudanças de mentalidade mesmo. Como eu falei, nós desenvolvedores temos o péssimo hábito de desenvolver as coisas, sair criando as coisas.
Então, se você me pedir, a minha primeira ação não é falar para você: Por que você quer isso? A minha primeira ação é: nossa, já vou usar Ruby, já vou usar Rails... Vou usar sei lá o que... Qualquer tecnologia muito legal que eu esteja querendo usar naquele momento, mas não vou te questionar. E dentro do Granatum é engraçado porque o Maurício fala muito isso, né? Cara, tudo dá para fazer. Mas por que você quer fazer? E esse comportamento, é difícil de entender, principalmente para as pessoas, quando as pessoas chegam no Granatum que já é um universo absolutamente diferente, lidar com esse tipo de questionamento de uma pessoa que, tecnicamente, ele não tem que perguntar por que você quer isso, mas ele pergunta.
E esse é o comportamento, essa é a postura que a gente tenta desenvolver o tempo inteiro do nosso time, e isso para tudo. Então as convicções, essa foi a grande rachadura, pelo menos em termos de comportamento, para mim, de pegar minhas convicções, a maior parte delas, amassar e jogar no lixo. Porque nós somos servidores, a gente precisa prestar um bom serviço para quem está contratando a gente. E ser um bom servidor está totalmente relacionado com você pegar, principalmente o seu ego, porque de fato você constrói uma carreira por exemplo, você é desenvolvedor ou você é um analista financeiro, e você tem várias convicções.
Quando você vai de frente para o problema, você precisa de fato resolver esse problema, não tem como. Você fala assim, não, mas eu fazia assim na academia, mas eu desenvolvia assim. E essa mudança de comportamento faz com que a gente tenha uma série de competências dentro do nosso negócio, que não são triviais de você ver por aí e a gente faz questão de que você seja um profissional do tipo T, de verdade assim, com uma abrangência muito grande de conhecimento, de interesses. Por que? Não porque a gente quer, mas porque você não consegue trabalhar no Granatum e atender bem o cliente e argumentar com os nossos clientes, e é muito interessante porque o nosso atendimento recebe os feedbacks dos clientes o que eles querem, os sonhos, o comercial recebe também e é sempre muito difícil para quem está ali no front, lidando direto com esses pedidos, conseguir se conter e falar assim, evitar a frase: nossa, nossos clientes estão pedindo, todos os clientes estão pedindo, nossa é urgente isso. Porque às vezes, a gente tem uma solicitação, e a solicitação vem de uma pessoa, e a gente se envolve com aquela pessoa. Só que aquela pessoa é tão apaixonada, ela está tão desesperada, e ela coloca tanta é, tanta energia naquele pedido, que é difícil do nosso time conseguir filtrar isso e não vir com essas convicções né, herdadas do nosso cliente.
Então o processo aqui dentro exigiu de nós muita, muita tranquilidade para fazer as avaliações dos feedbacks. Muita qualificação em termos de design, que é conseguir investigar a raiz do problema e conseguir pensar em soluções e é esse desenvolvimento ele não é trivial, ele tem que acontecer o tempo inteiro, e a gente se toca o tempo inteiro assim, falando mas será que é isso mesmo? A gente já investigou quantos clientes pediram isso?
E isso faz parte da cultura, não é? É engraçado que num primeiro momento, principalmente para quem chega no time, parece que é, pô meus projetos não saem do papel, né? Meus projetos não vão adiante. Por quê? Porque alguém parou ali para refutar esses pedidos, mas porque isso faz parte simplesmente da nossa cultura mesmo.
[00:21:00]
Mari Prado: Muito bom. A decisão então, ela não nasce pronta, né? Ela vai passar por muita investigação, vão ser muitos porquês, antes da gente chegar a uma conclusão, antes da gente chegar a uma nova funcionalidade. É muita conversa boa no meio do caminho. Obrigada por acompanhar mais um episódio do Código Granatum. Se você curtiu, indica para quem também vive decidindo entre planilhas e palpites.
E pode mandar seu feedback para a gente também. Até a próxima!