GranatumCast | Temporada 2
Código Granatum | Temporada 1
Código Granatum | Temporada 1
#05
Sem chefe, mas com direção
Sem chefe, mas com direção
Temas Relacionados ao Episódio
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Vertical x horizontal: pirâmide vs. plano
Do taylorismo/fordismo ao modelo flat: sair do “alguém pensa, outros executam” para decisões distribuídas encurtando a distância entre estratégia e operação.
Autonomia com responsabilidade (e propósito)
Sem “chefe mandando”, todo mundo pensa como gestor. A proatividade aumenta, o trabalho ganha significado e o estresse diminui porque há conexão com o porquê.
Direção sem chefia
Não é ausência de rumo: existem objetivos compartilhados. Quem está “com o pé na lama” define caminhos e experimentos — o contexto vale mais do que o cargo.
Maturidade é efeito colateral
Não é pré-requisito. Transparência e espaço de participação fazem as pessoas amadurecerem no trabalho — responsabilidade nasce do ambiente.
Reconhecimento e aprendizado contínuo
O modelo foi reconhecido em prêmios do Sebrae (MPE Brasil) e não é exclusividade do Granatum: há outras referências no mundo — ainda que sejam minoria.
Transcrição do Episódio
Mariana Prado
Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de Sucesso do Cliente, e comigo estão Flávio Logullo e Matheus Haddad, dois dos cofundadores do Granatum. Na semana passada, a gente falou sobre como que a gente vem mantendo o time do Granatum enxuto e duas coisas importantes que apareceram nas falas do Flávio e do Matheus, foi sobre o nosso modelo de gestão e o nosso olhar atento pra automatizar as tarefas do dia a dia né. A gente ainda vai ter episódios pra se aprofundar nessas duas frentes mas, hoje, eu quero começar falando de uma das coisas mais curiosas e inspiradoras do jeito do Granatum de trabalhar, que é o nosso modelo de gestão horizontal.
Se você nunca ouviu falar sobre isso ou já se perguntou como que funciona uma empresa sem chefe, fica com a gente pra ouvir. Floz e Matheus, como que vocês costumam explicar o que que é a gestão horizontal e como que ela funciona na prática aqui no Granatum.
Flávio Logullo
Muito bom, Mari. É curioso. Essa é uma questão muito curiosa porque quando a gente, tecnicamente, começa a avaliar, e eu vou deixar tecnicamente todas as explicações pro Matheus, mas quando a gente começa a avaliar tecnicamente o que que é uma gestão horizontal né e vale dizer que quando o Granatum nasce, lá em 2008, isso era ainda mais novo no mercado, ter a gestão horizontal, já vou falar desse ponto de vista, mas quando a gente começa a fazer a análise do que é de fato, é o que é o natural né, é o motivo pelo qual o ser humano existe, então você faz você age, de uma maneira totalmente autônoma a todo instante.
E quando você age dessa maneira você tá dando todo o seu potencial, você tá resolvendo todos os problemas que estão ao seu redor, você tá se envolvendo com problemas de outros né, invariávelmente, pessoas te acionam pra resolver um determinado problema, seja na própria resolução né, resolve isso pra mim, seja me dá sua opinião. Se a gente não usa todo esse potencial do ser humano quando a gente tá coletivamente convivendo, então o que que é que a gente tá fazendo?
Esse debate, ele começou há muito, muito, muito tempo atrás, ali a gente tinha um esboço do que que é, do que que era isso, mas a nossa empresa, o nosso negócio nasce muito fundamentado nessa vontade de ter todas as pessoas participando ativamente do negócio. A gente não queria que fosse burocrático, e eu vou dizer por mim, eu sou cria de um sistema todo instituído de negócio, onde o mais natural é você que é o chefe, que é o dono, tomar as decisões arbitrárias e errando ou acertando, é isso que tem que ser feito e ponto final. Em vários momentos você toma decisões muito erradas. Eu vejo, porque ainda a maioria das empresas tem uma estrutura organizacional mais tradicional né hierárquica, com chefes, com vários níveis de lideranças ali e isso inclusive passa a ser o interesse das pessoas que estão ao redor daquele coletivo.
E a gente sempre questionou isso porque fundamentalmente a gente abriu o nosso negócio pra entregar software de qualidade o mais rápido possível né, o valor pro nosso cliente o mais rápido possível, e entregar valor não tem nada a ver com lobby, com eu querer galgar uma determinada posição e esse era um consenso, e a gente não tinha muito claro que era a gestão horizontal, a gente não tinha muito claro o que que era isso e lá no começo a gente teve contato com muito disso e por isso que a gente tem uma escola, por exemplo, hoje dentro do nosso grupo de empresas. e por isso que a gente fomenta esse 360 graus, porque tem muito a ver com o nosso propósito. Então eu vou deixar o Matheus falar tecnicamente o que que é a gestão horizontal. Quis dar esse pano de fundo porque ele vai muito além né, pra nós, dentro dessa organização, vai muito além do que só um modelo diferente de fazer gestão.
Matheus Haddad
Muito bom Flávio. Eu acho que tecnicamente, pra tentar explicar aqui de uma maneira simples né, quando a gente fala de uma gestão horizontal, a gente tá fazendo um contraponto da gestão vertical né. Essa gestão vertical, é uma gestão baseada no sistema taylorista né, no modelo fordista de organizar uma empresa. Então a gente vê nesses modelos mais tradicionais, verticais né, a empresa se organizando no formato de uma pirâmide, onde a parte de cima dessa pirâmide, o topo né, quem tá acima dessa pirâmide, no organograma, são as pessoas responsáveis pela gestão da empresa, pelas decisões né, por acompanhar o negócio e saber se as coisas estão correndo bem.
E quem tá na parte de baixo dessa pirâmide, está na operação, está só executando. Então quem tá em cima, está pensando e conferindo se as ordens que são dadas estão sendo cumpridas, e quem tá embaixo, está executando de acordo com as ordens que foram recebidas, pelos pensadores ali no topo da pirâmide. Isso é o que a gente chama de uma gestão vertical né, quem tá acima nesse organograma pensa pra quem tá abaixo poder executar. Depois de muito tempo desse modelo sendo utilizado nas organizações pelo mundo a gente começou a ver um movimento de horizontalização, então os níveis hierárquicos acabaram diminuindo com passar dos anos pra dois, três, encurtando a distância entre quem toma as decisões e quem executa as atividades numa empresa.
Esse tipo de movimento né, ele é resultante do nosso contexto da complexidade do mercado, da concorrência, da globalização, da economia e de fatores humanos também né. Mais instruções, mais acesso à informação, então fizeram com que as pessoas buscassem uma maneira diferente até de ter significado no próprio trabalho, no lugar de ficar ali preso só numa caixinha ou ser a mão de obra de uma empresa.
Então quando a gente fala que o Granatum é uma empresa horizontal, significa que ela é flat, ou seja, não existem níveis hierárquicos né, não tem uma relação de quem manda e quem obedece. Pelo simples fato de não ter uma relação hierárquica né, de a gente ter uma estrutura horizontal, a gente tem um comportamento diferente das pessoas que trabalham com a gente. Por exemplo, numa empresa vertical, como eu sei que eu tenho um chefe, como eu sei que eu tenho um gerente, um coordenador, então eu fico esperando a ordem vir dele. Eu fico no comportamento mais passivo, esperando a ordem, pra que eu possa operar no negócio da melhor maneira possível, e se aquilo que eu fiz estiver errado ou der errado, der um resultado ruim, a culpa não foi minha, a culpa foi do meu chefe né, do meu gestor que pensou por mim e estabeleceu o que deveria ser feito. Eu estou sendo pago apenas pra executar então a culpa não é minha. Então numa gestão vertical, esse comportamento de passividade, ele é o tradicional.
Agora, se a gente olha pra uma gestão horizontal, ou seja, a gestão não tá no topo apenas né, ela tá espalhada na organização, ela está distribuída nas pessoas, então todo mundo tem que ter o pensamento do gestor, já que a gestão tá espalhada, já que ela é horizontal. E aí eu tenho que me preocupar não apenas com as atividades que eu vou executar, mas com o que os meus colegas estão fazendo, pro rumo que o negócio tá tomando, as decisões estratégicas que estão sendo estabelecidas entre as pessoas que estão atuando juntas ali.
Então, esse tipo de gestão leva um comportamento mais ativo, mais proativo para o trabalho, o que traz um significado enorme pras pessoas. Então, a gestão horizontal, diferente da vertical, impele que as pessoas se envolvam de uma maneira, onde uma conexão emocional é criada com o trabalho, logo elas sofrem de menos estresse né, sofrem de menos problemas psicossomáticos aí que a gente vê acontecendo na gestão mais verticalizada.
Flávio Logullo
Essa é a nossa preocupação o tempo inteiro né, eu falo isso o tempo inteiro cara, a gente tem que chegar lá onde a gente quer chegar, mas todo mundo tem que tá saudável, tem que tá bem mentalmente e cada cada dia que passa, cada minuto que passa eu entendo que foi a decisão mais acertada da gente levar o Granatum nesse formato.
Isso deixa a gente mais leve, isso deixa a gente mais saudável, isso deixa a gente mais ágil, de fato né. Essa horizontalidade, ela faz com que a gente tenha mais mobilidade e que envolva as pessoas, as que são mais adequadas, pra resolver determinado tipo de problema, naquela resolução daquele determinado tipo de problema. Então, muito né, eu falei um pouco sobre eficiência num dos episódios que que se passou aí, é muito da ineficiência que os negócios sofrem, os negócios mais tradicionais e hierarquizados ali é que, a decisão, o movimento de pensar né a tarefa, atividade de pensar, sobre qual caminho a empresa vai seguir, ela é dependente de poucos pensadores, e a gente tem casos emblemáticos onde excelentes soluções não nasceram dos pensadores, como se a gente tivesse uma camada que não pensasse.
E na real, quando a gente envolve diferentes pensamentos, diferentes visões, inclusive desses que em algum momento galgaram ou trabalharam, e aí eu falei né, aqui no começo da minha fala, eu disse que eu sou um pouco de cria desse sistema quando a gente criou o nosso negócio, eu tinha muito essa visão hierarquizada, eu tinha muito, eu era contaminado totalmente com essa premissa de que as nossas decisões iam ser as mais acertadas e a gente tinha que seguir assim, foi por um pequeno período que isso foi mais forte dentro de mim.
Até que os primeiros debates sobre como é então que a gente queria criar o nosso negócio começaram a surgir e a gente chegou a essa conclusão de que, de fato, ter uma empresa que seja mais flat, onde as pessoas sejam mais engajadas, elas consigam é aplicar ali todas as suas competências e colocar propósito naquilo que ela tá resolvendo. Depois que a gente começou esses debates, pra mim tudo fez sentido e, não faz sentido nenhum, empresas podem funcionar assim e pessoas algumas, muitas, talvez as contaminadas, funcionem melhor numa estrutura hierarquizada, porque um dos problemas que a gente enfrenta, fomentando esse modelo, aplicando esse modelo, rodando esse modelo no nosso negócio, é de fato, encontrar pessoas preparadas, pra lidar com essa tal liberdade que a gente tem aqui dentro.
Onde ninguém vai falar exatamente o que você tem pra fazer ou o que você deveria fazer, e menos ainda como você deveria fazer. Tudo aqui é muito debatido e a gente chega a conclusões. Temos problemas infinitos problemas a serem resolvidos dentro do nosso negócio e o objetivo, ele é um em comum, ele tem, nós temos um objetivo, a gente tem, um objetivo de crescimento, a gente tem um ponto b, a gente quer chegar em algum lugar, só que são tantos movimentos possíveis que acontecem aqui, que as melhores pessoas pra definirem como é que a gente vai ou o que que a gente vai experimentar ou como que a gente vai trilhar o caminho são as pessoas que estão ali com o pé na lama, que a gente diz né.
E essa essa decisão, ela é sempre muito, muito, mais acertada, Muito mais coerente a gente ter todas as pessoas que estão mais próximas do problema, envolvidas pra resolver do jeito que elas acham e mais do que isso, definir o que é que tem que ser feito. Eu desconstruo, eu passei anos e ainda passo anos né, porque tem, tem três letrinhas aqui né, no meu cargo, CEO do Granatum, pô se é uma empresa não hierarquizada, que que é o CEO do Granatum, então ô Floz? É da porta pra fora eu sou o responsável por falar com os investidores, por falar com o mercado né, então eu tenho esse papel. Se eu chegar pra da porta de fora e falar assim eu sou o Floz do Granatum, aqui vim falar com você, as pessoas ouvem menos, o mercado a sociedade, ouve menos o Floz ser humano do que o CEO Floz.
Então, quando eu assumo um papel, eu tô assumindo um papel atribuído a mim, pra que as pessoas entendam da porta pra fora, mas da porta pra dentro, o Floz é mais um membro do time e eu passei e passo anos ainda desconstruindo essa minha fala porque, não necessariamente, quando eu participo de um debate, da construção de uma solução, isso significa que a minha voz tem um peso maior, que a minha responsabilidade ela é maior, porque eu também erro e o meu é só um ponto de vista e eu gosto muito de colocar, me colocar assim, quando a gente tá debatendo internamente, eu falo gente esse é o meu ponto de vista e só, só isso.
Isso garante pra gente que, as melhores soluções e os melhores movimentos acontecem com o melhor set de pessoas e isso só é garantido pela horizontalidade.
Matheus Haddad
Eu acho que esse é um ponto muito interessante porque geralmente, quando a gente fala que a gente tem uma gestão horizontal as pessoas partem do pressuposto então que a gente tem uma equipe super madura, de pessoas assim super equilibradas né, com o desenvolvimento profissional muito grande e isso não é verdade necessariamente né, não é um pressuposto. Pra você ter uma gestão horizontal você precisa ter todo mundo muito maduro pra saber atuar numa gestão assim. E isso não é verdade né.
A gente percebe o contrário, quando as pessoas encontram um ambiente como esse, onde elas têm transparência, onde elas podem desenvolver sua autonomia profissional, onde elas podem colaborar com outras pessoas, automaticamente, com o passar dos dias, ela vai ganhando um senso de responsabilidade, um senso de pertencimento muito grande pro negócio. E isso faz toda a diferença, porque hoje, quando você vai numa empresa como o Granatum e olha pras pessoas que trabalham lá, você vai achar que todas são muito maduras né porque o próprio ambiente e a forma que é proporcionada pra que as pessoas atuem leva esse comportamento como uma consequência.
Então pessoas responsáveis no trabalho não é uma premissa pra se atuar numa gestão horizontal, mas é a consequência dela. Acontece a mesma coisa, o Flávio falou da nossa escola, a gente tem uma unidade da escola, Lumiar, quando você olha pros estudantes que estão dentro daquele contexto da metodologia Lumiar, você também percebe um comportamento muito maduro nesses estudantes, justamente porque a metodologia cria um ambiente, cria uma abertura pra que eles possam desenvolver essa maturidade dentro do contexto escolar.
Então esse tipo de ambiente pressupõe que as pessoas possam ter acesso às informações disponíveis, participar voluntariamente das discussões, poder colaborar nas áreas que elas acreditam que elas podem fazer o melhor delas e contribuir com as decisões de maneira efetiva. Porque aí sim eu percebo valor na minha participação, eu percebo que eu sou reconhecido no grupo, porque eu tenho uma intensidade de atuação muito maior do que numa empresa tradicional.
Isso me chamou muita atenção, porque no começo, claro né, como o Flávio falou, a gente não percebia isso né, a gente foi aprendendo com o passar dos anos, mas ali por 2012 mais ou menos, a gente participou de um prêmio do Sebrae o MPE Brasil, que é um prêmio do Sebrae que avalia a qualidade da gestão nas empresas. E naquela época o Granatum ainda tava dentro da WebGoal, misturado com o Ateliê de Software e a gente foi contar pro Sebrae como é que a gente fazia a gestão e o Sebrae achou aquilo muito estranho né, mas quando ele começou a avaliar os critérios de gestão que são elencados no prêmio pra poder avaliar a qualidade da gestão que a gente tinha, os consultores do Sebrae ficaram surpreendidos, inclusive solicitaram que a gente se inscrevesse pra um prêmio especial de inovação, por conta de ter um modelo de gestão bem diferente do que o próprio Sebrae ensinava na época, né.
E aí, pra nossa alegria, a gente acabou sendo reconhecido né tanto como uma das melhores empresas de tecnologia de São Paulo, como também levando o prêmio de inovação por conta desse modelo de gestão. Isso pra gente foi uma coisa muito importante, não pelo prêmio, mas foi um reconhecimento externo, que olha apesar de vocês estarem fazendo gestão de um jeito muito diferente do tradicional, vocês estão no caminho certo, porque os critérios de qualidade de gestão de uma empresa foram atendidos de uma maneira muito inovadora e vocês estão obtendo resultados com isso.
Então acho que vale a pena ressaltar que além desse reconhecimento do prêmio, o Granatum não é pioneiro nisso, a WebGoal não é pioneira nisso, existem diversas outras empresas, ainda que a minoria no mundo, que trabalham com uma gestão horizontal e se dão muito bem nesta maneira de se trabalhar.
Mariana Prado
Muito legal ouvir vocês falando. Esse é um tema que, particularmente, eu adoro. Eu tô no Granatum, na minha 2ª temporada de Granatum né e como uma pessoa que veio pro Granatum, voltou pro mercado e veio pro Granatum de novo, é muito interessante ver como a gente vai se adaptando e como é uma questão de adaptação né, como a gente tem, que se adaptar ao modelo do mercado hierárquico, como a gente tem que se adaptar depois, em um modelo onde a gente tem mais autonomia e mais liberdade pra trabalhar. E como isso vai fortalecendo os nossos laços de confiança e as nossas interações também no time.
Então muito legal a gente falar sobre isso. Se você curtiu esse papo, compartilha com quem também acredita em empresas mais humanas e conscientes. E claro, manda o seu feedback pra gente! Até o próximo episódio.
Mariana Prado
Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de Sucesso do Cliente, e comigo estão Flávio Logullo e Matheus Haddad, dois dos cofundadores do Granatum. Na semana passada, a gente falou sobre como que a gente vem mantendo o time do Granatum enxuto e duas coisas importantes que apareceram nas falas do Flávio e do Matheus, foi sobre o nosso modelo de gestão e o nosso olhar atento pra automatizar as tarefas do dia a dia né. A gente ainda vai ter episódios pra se aprofundar nessas duas frentes mas, hoje, eu quero começar falando de uma das coisas mais curiosas e inspiradoras do jeito do Granatum de trabalhar, que é o nosso modelo de gestão horizontal.
Se você nunca ouviu falar sobre isso ou já se perguntou como que funciona uma empresa sem chefe, fica com a gente pra ouvir. Floz e Matheus, como que vocês costumam explicar o que que é a gestão horizontal e como que ela funciona na prática aqui no Granatum.
Flávio Logullo
Muito bom, Mari. É curioso. Essa é uma questão muito curiosa porque quando a gente, tecnicamente, começa a avaliar, e eu vou deixar tecnicamente todas as explicações pro Matheus, mas quando a gente começa a avaliar tecnicamente o que que é uma gestão horizontal né e vale dizer que quando o Granatum nasce, lá em 2008, isso era ainda mais novo no mercado, ter a gestão horizontal, já vou falar desse ponto de vista, mas quando a gente começa a fazer a análise do que é de fato, é o que é o natural né, é o motivo pelo qual o ser humano existe, então você faz você age, de uma maneira totalmente autônoma a todo instante.
E quando você age dessa maneira você tá dando todo o seu potencial, você tá resolvendo todos os problemas que estão ao seu redor, você tá se envolvendo com problemas de outros né, invariávelmente, pessoas te acionam pra resolver um determinado problema, seja na própria resolução né, resolve isso pra mim, seja me dá sua opinião. Se a gente não usa todo esse potencial do ser humano quando a gente tá coletivamente convivendo, então o que que é que a gente tá fazendo?
Esse debate, ele começou há muito, muito, muito tempo atrás, ali a gente tinha um esboço do que que é, do que que era isso, mas a nossa empresa, o nosso negócio nasce muito fundamentado nessa vontade de ter todas as pessoas participando ativamente do negócio. A gente não queria que fosse burocrático, e eu vou dizer por mim, eu sou cria de um sistema todo instituído de negócio, onde o mais natural é você que é o chefe, que é o dono, tomar as decisões arbitrárias e errando ou acertando, é isso que tem que ser feito e ponto final. Em vários momentos você toma decisões muito erradas. Eu vejo, porque ainda a maioria das empresas tem uma estrutura organizacional mais tradicional né hierárquica, com chefes, com vários níveis de lideranças ali e isso inclusive passa a ser o interesse das pessoas que estão ao redor daquele coletivo.
E a gente sempre questionou isso porque fundamentalmente a gente abriu o nosso negócio pra entregar software de qualidade o mais rápido possível né, o valor pro nosso cliente o mais rápido possível, e entregar valor não tem nada a ver com lobby, com eu querer galgar uma determinada posição e esse era um consenso, e a gente não tinha muito claro que era a gestão horizontal, a gente não tinha muito claro o que que era isso e lá no começo a gente teve contato com muito disso e por isso que a gente tem uma escola, por exemplo, hoje dentro do nosso grupo de empresas. e por isso que a gente fomenta esse 360 graus, porque tem muito a ver com o nosso propósito. Então eu vou deixar o Matheus falar tecnicamente o que que é a gestão horizontal. Quis dar esse pano de fundo porque ele vai muito além né, pra nós, dentro dessa organização, vai muito além do que só um modelo diferente de fazer gestão.
Matheus Haddad
Muito bom Flávio. Eu acho que tecnicamente, pra tentar explicar aqui de uma maneira simples né, quando a gente fala de uma gestão horizontal, a gente tá fazendo um contraponto da gestão vertical né. Essa gestão vertical, é uma gestão baseada no sistema taylorista né, no modelo fordista de organizar uma empresa. Então a gente vê nesses modelos mais tradicionais, verticais né, a empresa se organizando no formato de uma pirâmide, onde a parte de cima dessa pirâmide, o topo né, quem tá acima dessa pirâmide, no organograma, são as pessoas responsáveis pela gestão da empresa, pelas decisões né, por acompanhar o negócio e saber se as coisas estão correndo bem.
E quem tá na parte de baixo dessa pirâmide, está na operação, está só executando. Então quem tá em cima, está pensando e conferindo se as ordens que são dadas estão sendo cumpridas, e quem tá embaixo, está executando de acordo com as ordens que foram recebidas, pelos pensadores ali no topo da pirâmide. Isso é o que a gente chama de uma gestão vertical né, quem tá acima nesse organograma pensa pra quem tá abaixo poder executar. Depois de muito tempo desse modelo sendo utilizado nas organizações pelo mundo a gente começou a ver um movimento de horizontalização, então os níveis hierárquicos acabaram diminuindo com passar dos anos pra dois, três, encurtando a distância entre quem toma as decisões e quem executa as atividades numa empresa.
Esse tipo de movimento né, ele é resultante do nosso contexto da complexidade do mercado, da concorrência, da globalização, da economia e de fatores humanos também né. Mais instruções, mais acesso à informação, então fizeram com que as pessoas buscassem uma maneira diferente até de ter significado no próprio trabalho, no lugar de ficar ali preso só numa caixinha ou ser a mão de obra de uma empresa.
Então quando a gente fala que o Granatum é uma empresa horizontal, significa que ela é flat, ou seja, não existem níveis hierárquicos né, não tem uma relação de quem manda e quem obedece. Pelo simples fato de não ter uma relação hierárquica né, de a gente ter uma estrutura horizontal, a gente tem um comportamento diferente das pessoas que trabalham com a gente. Por exemplo, numa empresa vertical, como eu sei que eu tenho um chefe, como eu sei que eu tenho um gerente, um coordenador, então eu fico esperando a ordem vir dele. Eu fico no comportamento mais passivo, esperando a ordem, pra que eu possa operar no negócio da melhor maneira possível, e se aquilo que eu fiz estiver errado ou der errado, der um resultado ruim, a culpa não foi minha, a culpa foi do meu chefe né, do meu gestor que pensou por mim e estabeleceu o que deveria ser feito. Eu estou sendo pago apenas pra executar então a culpa não é minha. Então numa gestão vertical, esse comportamento de passividade, ele é o tradicional.
Agora, se a gente olha pra uma gestão horizontal, ou seja, a gestão não tá no topo apenas né, ela tá espalhada na organização, ela está distribuída nas pessoas, então todo mundo tem que ter o pensamento do gestor, já que a gestão tá espalhada, já que ela é horizontal. E aí eu tenho que me preocupar não apenas com as atividades que eu vou executar, mas com o que os meus colegas estão fazendo, pro rumo que o negócio tá tomando, as decisões estratégicas que estão sendo estabelecidas entre as pessoas que estão atuando juntas ali.
Então, esse tipo de gestão leva um comportamento mais ativo, mais proativo para o trabalho, o que traz um significado enorme pras pessoas. Então, a gestão horizontal, diferente da vertical, impele que as pessoas se envolvam de uma maneira, onde uma conexão emocional é criada com o trabalho, logo elas sofrem de menos estresse né, sofrem de menos problemas psicossomáticos aí que a gente vê acontecendo na gestão mais verticalizada.
Flávio Logullo
Essa é a nossa preocupação o tempo inteiro né, eu falo isso o tempo inteiro cara, a gente tem que chegar lá onde a gente quer chegar, mas todo mundo tem que tá saudável, tem que tá bem mentalmente e cada cada dia que passa, cada minuto que passa eu entendo que foi a decisão mais acertada da gente levar o Granatum nesse formato.
Isso deixa a gente mais leve, isso deixa a gente mais saudável, isso deixa a gente mais ágil, de fato né. Essa horizontalidade, ela faz com que a gente tenha mais mobilidade e que envolva as pessoas, as que são mais adequadas, pra resolver determinado tipo de problema, naquela resolução daquele determinado tipo de problema. Então, muito né, eu falei um pouco sobre eficiência num dos episódios que que se passou aí, é muito da ineficiência que os negócios sofrem, os negócios mais tradicionais e hierarquizados ali é que, a decisão, o movimento de pensar né a tarefa, atividade de pensar, sobre qual caminho a empresa vai seguir, ela é dependente de poucos pensadores, e a gente tem casos emblemáticos onde excelentes soluções não nasceram dos pensadores, como se a gente tivesse uma camada que não pensasse.
E na real, quando a gente envolve diferentes pensamentos, diferentes visões, inclusive desses que em algum momento galgaram ou trabalharam, e aí eu falei né, aqui no começo da minha fala, eu disse que eu sou um pouco de cria desse sistema quando a gente criou o nosso negócio, eu tinha muito essa visão hierarquizada, eu tinha muito, eu era contaminado totalmente com essa premissa de que as nossas decisões iam ser as mais acertadas e a gente tinha que seguir assim, foi por um pequeno período que isso foi mais forte dentro de mim.
Até que os primeiros debates sobre como é então que a gente queria criar o nosso negócio começaram a surgir e a gente chegou a essa conclusão de que, de fato, ter uma empresa que seja mais flat, onde as pessoas sejam mais engajadas, elas consigam é aplicar ali todas as suas competências e colocar propósito naquilo que ela tá resolvendo. Depois que a gente começou esses debates, pra mim tudo fez sentido e, não faz sentido nenhum, empresas podem funcionar assim e pessoas algumas, muitas, talvez as contaminadas, funcionem melhor numa estrutura hierarquizada, porque um dos problemas que a gente enfrenta, fomentando esse modelo, aplicando esse modelo, rodando esse modelo no nosso negócio, é de fato, encontrar pessoas preparadas, pra lidar com essa tal liberdade que a gente tem aqui dentro.
Onde ninguém vai falar exatamente o que você tem pra fazer ou o que você deveria fazer, e menos ainda como você deveria fazer. Tudo aqui é muito debatido e a gente chega a conclusões. Temos problemas infinitos problemas a serem resolvidos dentro do nosso negócio e o objetivo, ele é um em comum, ele tem, nós temos um objetivo, a gente tem, um objetivo de crescimento, a gente tem um ponto b, a gente quer chegar em algum lugar, só que são tantos movimentos possíveis que acontecem aqui, que as melhores pessoas pra definirem como é que a gente vai ou o que que a gente vai experimentar ou como que a gente vai trilhar o caminho são as pessoas que estão ali com o pé na lama, que a gente diz né.
E essa essa decisão, ela é sempre muito, muito, mais acertada, Muito mais coerente a gente ter todas as pessoas que estão mais próximas do problema, envolvidas pra resolver do jeito que elas acham e mais do que isso, definir o que é que tem que ser feito. Eu desconstruo, eu passei anos e ainda passo anos né, porque tem, tem três letrinhas aqui né, no meu cargo, CEO do Granatum, pô se é uma empresa não hierarquizada, que que é o CEO do Granatum, então ô Floz? É da porta pra fora eu sou o responsável por falar com os investidores, por falar com o mercado né, então eu tenho esse papel. Se eu chegar pra da porta de fora e falar assim eu sou o Floz do Granatum, aqui vim falar com você, as pessoas ouvem menos, o mercado a sociedade, ouve menos o Floz ser humano do que o CEO Floz.
Então, quando eu assumo um papel, eu tô assumindo um papel atribuído a mim, pra que as pessoas entendam da porta pra fora, mas da porta pra dentro, o Floz é mais um membro do time e eu passei e passo anos ainda desconstruindo essa minha fala porque, não necessariamente, quando eu participo de um debate, da construção de uma solução, isso significa que a minha voz tem um peso maior, que a minha responsabilidade ela é maior, porque eu também erro e o meu é só um ponto de vista e eu gosto muito de colocar, me colocar assim, quando a gente tá debatendo internamente, eu falo gente esse é o meu ponto de vista e só, só isso.
Isso garante pra gente que, as melhores soluções e os melhores movimentos acontecem com o melhor set de pessoas e isso só é garantido pela horizontalidade.
Matheus Haddad
Eu acho que esse é um ponto muito interessante porque geralmente, quando a gente fala que a gente tem uma gestão horizontal as pessoas partem do pressuposto então que a gente tem uma equipe super madura, de pessoas assim super equilibradas né, com o desenvolvimento profissional muito grande e isso não é verdade necessariamente né, não é um pressuposto. Pra você ter uma gestão horizontal você precisa ter todo mundo muito maduro pra saber atuar numa gestão assim. E isso não é verdade né.
A gente percebe o contrário, quando as pessoas encontram um ambiente como esse, onde elas têm transparência, onde elas podem desenvolver sua autonomia profissional, onde elas podem colaborar com outras pessoas, automaticamente, com o passar dos dias, ela vai ganhando um senso de responsabilidade, um senso de pertencimento muito grande pro negócio. E isso faz toda a diferença, porque hoje, quando você vai numa empresa como o Granatum e olha pras pessoas que trabalham lá, você vai achar que todas são muito maduras né porque o próprio ambiente e a forma que é proporcionada pra que as pessoas atuem leva esse comportamento como uma consequência.
Então pessoas responsáveis no trabalho não é uma premissa pra se atuar numa gestão horizontal, mas é a consequência dela. Acontece a mesma coisa, o Flávio falou da nossa escola, a gente tem uma unidade da escola, Lumiar, quando você olha pros estudantes que estão dentro daquele contexto da metodologia Lumiar, você também percebe um comportamento muito maduro nesses estudantes, justamente porque a metodologia cria um ambiente, cria uma abertura pra que eles possam desenvolver essa maturidade dentro do contexto escolar.
Então esse tipo de ambiente pressupõe que as pessoas possam ter acesso às informações disponíveis, participar voluntariamente das discussões, poder colaborar nas áreas que elas acreditam que elas podem fazer o melhor delas e contribuir com as decisões de maneira efetiva. Porque aí sim eu percebo valor na minha participação, eu percebo que eu sou reconhecido no grupo, porque eu tenho uma intensidade de atuação muito maior do que numa empresa tradicional.
Isso me chamou muita atenção, porque no começo, claro né, como o Flávio falou, a gente não percebia isso né, a gente foi aprendendo com o passar dos anos, mas ali por 2012 mais ou menos, a gente participou de um prêmio do Sebrae o MPE Brasil, que é um prêmio do Sebrae que avalia a qualidade da gestão nas empresas. E naquela época o Granatum ainda tava dentro da WebGoal, misturado com o Ateliê de Software e a gente foi contar pro Sebrae como é que a gente fazia a gestão e o Sebrae achou aquilo muito estranho né, mas quando ele começou a avaliar os critérios de gestão que são elencados no prêmio pra poder avaliar a qualidade da gestão que a gente tinha, os consultores do Sebrae ficaram surpreendidos, inclusive solicitaram que a gente se inscrevesse pra um prêmio especial de inovação, por conta de ter um modelo de gestão bem diferente do que o próprio Sebrae ensinava na época, né.
E aí, pra nossa alegria, a gente acabou sendo reconhecido né tanto como uma das melhores empresas de tecnologia de São Paulo, como também levando o prêmio de inovação por conta desse modelo de gestão. Isso pra gente foi uma coisa muito importante, não pelo prêmio, mas foi um reconhecimento externo, que olha apesar de vocês estarem fazendo gestão de um jeito muito diferente do tradicional, vocês estão no caminho certo, porque os critérios de qualidade de gestão de uma empresa foram atendidos de uma maneira muito inovadora e vocês estão obtendo resultados com isso.
Então acho que vale a pena ressaltar que além desse reconhecimento do prêmio, o Granatum não é pioneiro nisso, a WebGoal não é pioneira nisso, existem diversas outras empresas, ainda que a minoria no mundo, que trabalham com uma gestão horizontal e se dão muito bem nesta maneira de se trabalhar.
Mariana Prado
Muito legal ouvir vocês falando. Esse é um tema que, particularmente, eu adoro. Eu tô no Granatum, na minha 2ª temporada de Granatum né e como uma pessoa que veio pro Granatum, voltou pro mercado e veio pro Granatum de novo, é muito interessante ver como a gente vai se adaptando e como é uma questão de adaptação né, como a gente tem, que se adaptar ao modelo do mercado hierárquico, como a gente tem que se adaptar depois, em um modelo onde a gente tem mais autonomia e mais liberdade pra trabalhar. E como isso vai fortalecendo os nossos laços de confiança e as nossas interações também no time.
Então muito legal a gente falar sobre isso. Se você curtiu esse papo, compartilha com quem também acredita em empresas mais humanas e conscientes. E claro, manda o seu feedback pra gente! Até o próximo episódio.
Mariana Prado
Você está ouvindo Código Granatum. Conversas diretas sobre tecnologia, cultura e um caixa saudável. Eu sou Mari Prado, do time de Sucesso do Cliente, e comigo estão Flávio Logullo e Matheus Haddad, dois dos cofundadores do Granatum. Na semana passada, a gente falou sobre como que a gente vem mantendo o time do Granatum enxuto e duas coisas importantes que apareceram nas falas do Flávio e do Matheus, foi sobre o nosso modelo de gestão e o nosso olhar atento pra automatizar as tarefas do dia a dia né. A gente ainda vai ter episódios pra se aprofundar nessas duas frentes mas, hoje, eu quero começar falando de uma das coisas mais curiosas e inspiradoras do jeito do Granatum de trabalhar, que é o nosso modelo de gestão horizontal.
Se você nunca ouviu falar sobre isso ou já se perguntou como que funciona uma empresa sem chefe, fica com a gente pra ouvir. Floz e Matheus, como que vocês costumam explicar o que que é a gestão horizontal e como que ela funciona na prática aqui no Granatum.
Flávio Logullo
Muito bom, Mari. É curioso. Essa é uma questão muito curiosa porque quando a gente, tecnicamente, começa a avaliar, e eu vou deixar tecnicamente todas as explicações pro Matheus, mas quando a gente começa a avaliar tecnicamente o que que é uma gestão horizontal né e vale dizer que quando o Granatum nasce, lá em 2008, isso era ainda mais novo no mercado, ter a gestão horizontal, já vou falar desse ponto de vista, mas quando a gente começa a fazer a análise do que é de fato, é o que é o natural né, é o motivo pelo qual o ser humano existe, então você faz você age, de uma maneira totalmente autônoma a todo instante.
E quando você age dessa maneira você tá dando todo o seu potencial, você tá resolvendo todos os problemas que estão ao seu redor, você tá se envolvendo com problemas de outros né, invariávelmente, pessoas te acionam pra resolver um determinado problema, seja na própria resolução né, resolve isso pra mim, seja me dá sua opinião. Se a gente não usa todo esse potencial do ser humano quando a gente tá coletivamente convivendo, então o que que é que a gente tá fazendo?
Esse debate, ele começou há muito, muito, muito tempo atrás, ali a gente tinha um esboço do que que é, do que que era isso, mas a nossa empresa, o nosso negócio nasce muito fundamentado nessa vontade de ter todas as pessoas participando ativamente do negócio. A gente não queria que fosse burocrático, e eu vou dizer por mim, eu sou cria de um sistema todo instituído de negócio, onde o mais natural é você que é o chefe, que é o dono, tomar as decisões arbitrárias e errando ou acertando, é isso que tem que ser feito e ponto final. Em vários momentos você toma decisões muito erradas. Eu vejo, porque ainda a maioria das empresas tem uma estrutura organizacional mais tradicional né hierárquica, com chefes, com vários níveis de lideranças ali e isso inclusive passa a ser o interesse das pessoas que estão ao redor daquele coletivo.
E a gente sempre questionou isso porque fundamentalmente a gente abriu o nosso negócio pra entregar software de qualidade o mais rápido possível né, o valor pro nosso cliente o mais rápido possível, e entregar valor não tem nada a ver com lobby, com eu querer galgar uma determinada posição e esse era um consenso, e a gente não tinha muito claro que era a gestão horizontal, a gente não tinha muito claro o que que era isso e lá no começo a gente teve contato com muito disso e por isso que a gente tem uma escola, por exemplo, hoje dentro do nosso grupo de empresas. e por isso que a gente fomenta esse 360 graus, porque tem muito a ver com o nosso propósito. Então eu vou deixar o Matheus falar tecnicamente o que que é a gestão horizontal. Quis dar esse pano de fundo porque ele vai muito além né, pra nós, dentro dessa organização, vai muito além do que só um modelo diferente de fazer gestão.
Matheus Haddad
Muito bom Flávio. Eu acho que tecnicamente, pra tentar explicar aqui de uma maneira simples né, quando a gente fala de uma gestão horizontal, a gente tá fazendo um contraponto da gestão vertical né. Essa gestão vertical, é uma gestão baseada no sistema taylorista né, no modelo fordista de organizar uma empresa. Então a gente vê nesses modelos mais tradicionais, verticais né, a empresa se organizando no formato de uma pirâmide, onde a parte de cima dessa pirâmide, o topo né, quem tá acima dessa pirâmide, no organograma, são as pessoas responsáveis pela gestão da empresa, pelas decisões né, por acompanhar o negócio e saber se as coisas estão correndo bem.
E quem tá na parte de baixo dessa pirâmide, está na operação, está só executando. Então quem tá em cima, está pensando e conferindo se as ordens que são dadas estão sendo cumpridas, e quem tá embaixo, está executando de acordo com as ordens que foram recebidas, pelos pensadores ali no topo da pirâmide. Isso é o que a gente chama de uma gestão vertical né, quem tá acima nesse organograma pensa pra quem tá abaixo poder executar. Depois de muito tempo desse modelo sendo utilizado nas organizações pelo mundo a gente começou a ver um movimento de horizontalização, então os níveis hierárquicos acabaram diminuindo com passar dos anos pra dois, três, encurtando a distância entre quem toma as decisões e quem executa as atividades numa empresa.
Esse tipo de movimento né, ele é resultante do nosso contexto da complexidade do mercado, da concorrência, da globalização, da economia e de fatores humanos também né. Mais instruções, mais acesso à informação, então fizeram com que as pessoas buscassem uma maneira diferente até de ter significado no próprio trabalho, no lugar de ficar ali preso só numa caixinha ou ser a mão de obra de uma empresa.
Então quando a gente fala que o Granatum é uma empresa horizontal, significa que ela é flat, ou seja, não existem níveis hierárquicos né, não tem uma relação de quem manda e quem obedece. Pelo simples fato de não ter uma relação hierárquica né, de a gente ter uma estrutura horizontal, a gente tem um comportamento diferente das pessoas que trabalham com a gente. Por exemplo, numa empresa vertical, como eu sei que eu tenho um chefe, como eu sei que eu tenho um gerente, um coordenador, então eu fico esperando a ordem vir dele. Eu fico no comportamento mais passivo, esperando a ordem, pra que eu possa operar no negócio da melhor maneira possível, e se aquilo que eu fiz estiver errado ou der errado, der um resultado ruim, a culpa não foi minha, a culpa foi do meu chefe né, do meu gestor que pensou por mim e estabeleceu o que deveria ser feito. Eu estou sendo pago apenas pra executar então a culpa não é minha. Então numa gestão vertical, esse comportamento de passividade, ele é o tradicional.
Agora, se a gente olha pra uma gestão horizontal, ou seja, a gestão não tá no topo apenas né, ela tá espalhada na organização, ela está distribuída nas pessoas, então todo mundo tem que ter o pensamento do gestor, já que a gestão tá espalhada, já que ela é horizontal. E aí eu tenho que me preocupar não apenas com as atividades que eu vou executar, mas com o que os meus colegas estão fazendo, pro rumo que o negócio tá tomando, as decisões estratégicas que estão sendo estabelecidas entre as pessoas que estão atuando juntas ali.
Então, esse tipo de gestão leva um comportamento mais ativo, mais proativo para o trabalho, o que traz um significado enorme pras pessoas. Então, a gestão horizontal, diferente da vertical, impele que as pessoas se envolvam de uma maneira, onde uma conexão emocional é criada com o trabalho, logo elas sofrem de menos estresse né, sofrem de menos problemas psicossomáticos aí que a gente vê acontecendo na gestão mais verticalizada.
Flávio Logullo
Essa é a nossa preocupação o tempo inteiro né, eu falo isso o tempo inteiro cara, a gente tem que chegar lá onde a gente quer chegar, mas todo mundo tem que tá saudável, tem que tá bem mentalmente e cada cada dia que passa, cada minuto que passa eu entendo que foi a decisão mais acertada da gente levar o Granatum nesse formato.
Isso deixa a gente mais leve, isso deixa a gente mais saudável, isso deixa a gente mais ágil, de fato né. Essa horizontalidade, ela faz com que a gente tenha mais mobilidade e que envolva as pessoas, as que são mais adequadas, pra resolver determinado tipo de problema, naquela resolução daquele determinado tipo de problema. Então, muito né, eu falei um pouco sobre eficiência num dos episódios que que se passou aí, é muito da ineficiência que os negócios sofrem, os negócios mais tradicionais e hierarquizados ali é que, a decisão, o movimento de pensar né a tarefa, atividade de pensar, sobre qual caminho a empresa vai seguir, ela é dependente de poucos pensadores, e a gente tem casos emblemáticos onde excelentes soluções não nasceram dos pensadores, como se a gente tivesse uma camada que não pensasse.
E na real, quando a gente envolve diferentes pensamentos, diferentes visões, inclusive desses que em algum momento galgaram ou trabalharam, e aí eu falei né, aqui no começo da minha fala, eu disse que eu sou um pouco de cria desse sistema quando a gente criou o nosso negócio, eu tinha muito essa visão hierarquizada, eu tinha muito, eu era contaminado totalmente com essa premissa de que as nossas decisões iam ser as mais acertadas e a gente tinha que seguir assim, foi por um pequeno período que isso foi mais forte dentro de mim.
Até que os primeiros debates sobre como é então que a gente queria criar o nosso negócio começaram a surgir e a gente chegou a essa conclusão de que, de fato, ter uma empresa que seja mais flat, onde as pessoas sejam mais engajadas, elas consigam é aplicar ali todas as suas competências e colocar propósito naquilo que ela tá resolvendo. Depois que a gente começou esses debates, pra mim tudo fez sentido e, não faz sentido nenhum, empresas podem funcionar assim e pessoas algumas, muitas, talvez as contaminadas, funcionem melhor numa estrutura hierarquizada, porque um dos problemas que a gente enfrenta, fomentando esse modelo, aplicando esse modelo, rodando esse modelo no nosso negócio, é de fato, encontrar pessoas preparadas, pra lidar com essa tal liberdade que a gente tem aqui dentro.
Onde ninguém vai falar exatamente o que você tem pra fazer ou o que você deveria fazer, e menos ainda como você deveria fazer. Tudo aqui é muito debatido e a gente chega a conclusões. Temos problemas infinitos problemas a serem resolvidos dentro do nosso negócio e o objetivo, ele é um em comum, ele tem, nós temos um objetivo, a gente tem, um objetivo de crescimento, a gente tem um ponto b, a gente quer chegar em algum lugar, só que são tantos movimentos possíveis que acontecem aqui, que as melhores pessoas pra definirem como é que a gente vai ou o que que a gente vai experimentar ou como que a gente vai trilhar o caminho são as pessoas que estão ali com o pé na lama, que a gente diz né.
E essa essa decisão, ela é sempre muito, muito, mais acertada, Muito mais coerente a gente ter todas as pessoas que estão mais próximas do problema, envolvidas pra resolver do jeito que elas acham e mais do que isso, definir o que é que tem que ser feito. Eu desconstruo, eu passei anos e ainda passo anos né, porque tem, tem três letrinhas aqui né, no meu cargo, CEO do Granatum, pô se é uma empresa não hierarquizada, que que é o CEO do Granatum, então ô Floz? É da porta pra fora eu sou o responsável por falar com os investidores, por falar com o mercado né, então eu tenho esse papel. Se eu chegar pra da porta de fora e falar assim eu sou o Floz do Granatum, aqui vim falar com você, as pessoas ouvem menos, o mercado a sociedade, ouve menos o Floz ser humano do que o CEO Floz.
Então, quando eu assumo um papel, eu tô assumindo um papel atribuído a mim, pra que as pessoas entendam da porta pra fora, mas da porta pra dentro, o Floz é mais um membro do time e eu passei e passo anos ainda desconstruindo essa minha fala porque, não necessariamente, quando eu participo de um debate, da construção de uma solução, isso significa que a minha voz tem um peso maior, que a minha responsabilidade ela é maior, porque eu também erro e o meu é só um ponto de vista e eu gosto muito de colocar, me colocar assim, quando a gente tá debatendo internamente, eu falo gente esse é o meu ponto de vista e só, só isso.
Isso garante pra gente que, as melhores soluções e os melhores movimentos acontecem com o melhor set de pessoas e isso só é garantido pela horizontalidade.
Matheus Haddad
Eu acho que esse é um ponto muito interessante porque geralmente, quando a gente fala que a gente tem uma gestão horizontal as pessoas partem do pressuposto então que a gente tem uma equipe super madura, de pessoas assim super equilibradas né, com o desenvolvimento profissional muito grande e isso não é verdade necessariamente né, não é um pressuposto. Pra você ter uma gestão horizontal você precisa ter todo mundo muito maduro pra saber atuar numa gestão assim. E isso não é verdade né.
A gente percebe o contrário, quando as pessoas encontram um ambiente como esse, onde elas têm transparência, onde elas podem desenvolver sua autonomia profissional, onde elas podem colaborar com outras pessoas, automaticamente, com o passar dos dias, ela vai ganhando um senso de responsabilidade, um senso de pertencimento muito grande pro negócio. E isso faz toda a diferença, porque hoje, quando você vai numa empresa como o Granatum e olha pras pessoas que trabalham lá, você vai achar que todas são muito maduras né porque o próprio ambiente e a forma que é proporcionada pra que as pessoas atuem leva esse comportamento como uma consequência.
Então pessoas responsáveis no trabalho não é uma premissa pra se atuar numa gestão horizontal, mas é a consequência dela. Acontece a mesma coisa, o Flávio falou da nossa escola, a gente tem uma unidade da escola, Lumiar, quando você olha pros estudantes que estão dentro daquele contexto da metodologia Lumiar, você também percebe um comportamento muito maduro nesses estudantes, justamente porque a metodologia cria um ambiente, cria uma abertura pra que eles possam desenvolver essa maturidade dentro do contexto escolar.
Então esse tipo de ambiente pressupõe que as pessoas possam ter acesso às informações disponíveis, participar voluntariamente das discussões, poder colaborar nas áreas que elas acreditam que elas podem fazer o melhor delas e contribuir com as decisões de maneira efetiva. Porque aí sim eu percebo valor na minha participação, eu percebo que eu sou reconhecido no grupo, porque eu tenho uma intensidade de atuação muito maior do que numa empresa tradicional.
Isso me chamou muita atenção, porque no começo, claro né, como o Flávio falou, a gente não percebia isso né, a gente foi aprendendo com o passar dos anos, mas ali por 2012 mais ou menos, a gente participou de um prêmio do Sebrae o MPE Brasil, que é um prêmio do Sebrae que avalia a qualidade da gestão nas empresas. E naquela época o Granatum ainda tava dentro da WebGoal, misturado com o Ateliê de Software e a gente foi contar pro Sebrae como é que a gente fazia a gestão e o Sebrae achou aquilo muito estranho né, mas quando ele começou a avaliar os critérios de gestão que são elencados no prêmio pra poder avaliar a qualidade da gestão que a gente tinha, os consultores do Sebrae ficaram surpreendidos, inclusive solicitaram que a gente se inscrevesse pra um prêmio especial de inovação, por conta de ter um modelo de gestão bem diferente do que o próprio Sebrae ensinava na época, né.
E aí, pra nossa alegria, a gente acabou sendo reconhecido né tanto como uma das melhores empresas de tecnologia de São Paulo, como também levando o prêmio de inovação por conta desse modelo de gestão. Isso pra gente foi uma coisa muito importante, não pelo prêmio, mas foi um reconhecimento externo, que olha apesar de vocês estarem fazendo gestão de um jeito muito diferente do tradicional, vocês estão no caminho certo, porque os critérios de qualidade de gestão de uma empresa foram atendidos de uma maneira muito inovadora e vocês estão obtendo resultados com isso.
Então acho que vale a pena ressaltar que além desse reconhecimento do prêmio, o Granatum não é pioneiro nisso, a WebGoal não é pioneira nisso, existem diversas outras empresas, ainda que a minoria no mundo, que trabalham com uma gestão horizontal e se dão muito bem nesta maneira de se trabalhar.
Mariana Prado
Muito legal ouvir vocês falando. Esse é um tema que, particularmente, eu adoro. Eu tô no Granatum, na minha 2ª temporada de Granatum né e como uma pessoa que veio pro Granatum, voltou pro mercado e veio pro Granatum de novo, é muito interessante ver como a gente vai se adaptando e como é uma questão de adaptação né, como a gente tem, que se adaptar ao modelo do mercado hierárquico, como a gente tem que se adaptar depois, em um modelo onde a gente tem mais autonomia e mais liberdade pra trabalhar. E como isso vai fortalecendo os nossos laços de confiança e as nossas interações também no time.
Então muito legal a gente falar sobre isso. Se você curtiu esse papo, compartilha com quem também acredita em empresas mais humanas e conscientes. E claro, manda o seu feedback pra gente! Até o próximo episódio.